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Morre o ex-deputado federal David Miranda, aos 37 anos no Rio

Ex-parlamentar do PDT estava internado desde agosto em uma clínica do Rio. Político faria aniversário nesta quarta-feira. Presidente Lula e outros políticos lamentam a perda precoce do ex-parlamentar

Ex-deputado David MirandaEx-deputado David Miranda - Foto: Pablo Valadares / Câmara dos Deputados

Morreu nesta terça-feira o ex-deputado federal David Miranda (PDT-RJ). A informação foi confirmada pelo marido do político, o jornalista Glenn Greenwald.

— É com a mais profunda tristeza que comunico o falecimento do meu esposo, David Miranda. Ele faria 38 anos amanhã. Sua morte, esta manhã, ocorreu após uma batalha de 9 meses na UTI. Ele morreu em plena paz, cercado por nossos filhos, familiares e amigos — publicou Greenwald.

Miranda estava internado desde agosto na Clínica São Vicente, na Zona Sul do Rio, quando foi hospitalizado para tratar uma infecção gastrointestinal, e foi alvo de infecções sucessivas, em um quadro de septicemia. O político deixa três filhos: João, Jonathas e Marcelo.

Um mês após o diagnóstico, Miranda desistiu de disputar à reeleição para a Câmara dos Deputados. Segundo Greenwald, a decisão de desistir do pleito foi tomada em conjunto, entre amigos e parentes do parlamentar.

Em março, Greenwald, casado com Miranda, afirmou em um relato publicado em rede social que Miranda estava a maior parte do tempo acordado e conseguia conversar, apesar da traqueostomia que teve que fazer, mas ainda se mantinha ligado a uma máquina de ventilação mecânica.

Políticos lamentam

O presidente Lula (PT) lamentou a morte do político. "Meus sentimentos ao Glenn e familiares pela perda de David Miranda. Um jovem de trajetória extraordinária que partiu cedo demais", publicou o petista. Os ministros Silvio Almeida e Fernando Haddad também publicaram sobre a morte do ex-parlamentar.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), prestou solidariedade à família em nome da Casa. Políticos do PSOL, partido em que Miranda começou sua carreira política, como os deputados Chico Alencar (RJ), o pastor Henrique Vieira (RJ), Erika Hilton (PSOL-SP) e Guilherme Boulos (SP) publicaram nas redes sobre a morte. A líder do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali, e o ex-deputado Jean Wyllys também lamentaram o falecimento.

A morte de Miranda também foi comentada nas redes por deputados de direita, como Carla Zambelli (PL-SP) e Bia Kicis (PL-SP). "Foram meses de sofrimento em uma UTI, espero que tenha encontrado a paz e que Deus console a família, especialmente os filhos pequenos e seu companheiro", publicou Kicis.

O prefeito do Rio Eduardo Paes (PSD) afirmou que David Miranda era um deputado dedicado. O presidente do PDT Carlos Lupi, partido em que Miranda estava filiado desde o ano passado, ressaltou a "perda precoce" do político. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou em postagem que o pedetista "'tinha uma vivacidade que alegrava a política".

Prisão, luta por Snowden e pela causa LGBTQIA+

Criado pela tia, David Miranda morou na favela do Jacarezinho, até sair de casa, aos 15 anos. É órfão de mãe, desconhece o pai, tem quatro irmãos com quem perdeu o contato. Trabalhou como office boy, faxineiro, despachante e gerente de uma casa lotérica. Conheceu o jornalista Glenn Greenwald aos 19 anos, quando jogava futevôlei em frente à Rua Farme de Amoedo, em Ipanema. O americano viera ao Rio a turismo. Em uma semana, já estavam morando juntos. Glenn e David estavam casados há 17 anos.

David Miranda se formou em 2014 em marketing pela ESPM, com a ajuda de Greenwald. O casal se mudou para os Estados Unidos em seguida.

Miranda se envolveu na campanha pelo asilo de Edward Snowden no Brasil, e trabalhou junto ao marido nas revelações sobre o sistema de vigilância global da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês). Em agosto de 2013, durante a escala de um voo em Londres, na Inglaterra, Miranda chegou a ser detido pelo governo britânico por conta do trabalho junto a Glenn. Ele foi interrogado durante nove horas no Aeroporto de Heathrow sob a lei antiterrorismo do país. À época, as autoridades britânicas alegaram que o ex-político estava envolvido com “terrorismo” quando foi detido tentando transportar documentos de Edward Snowden, segundo a polícia e documentos de inteligência.

No ano seguinte, já no Rio de Janeiro, Miranda se filiou ao PSOL, e em 2016 foi o primeiro vereador assumidamente gay a assumir uma cadeira na Câmara carioca, com 7.012 votos. O político era da mesma sigla da vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018.

Um dos projetos de destaque como vereador era o que garantia o direito ao uso do nome social nas instituições públicas por travestis, mulheres e homens transexuais. O mesmo projeto foi apresentado anos depois na Câmara federal.

Em 2019, com a desistência de Jean Wyllys à cadeira de deputado federal, Miranda assumiu o posto em Brasília. Wyllys deixou o cargo ainda no primeiro mês depois da eleição, após relatar sofrer ameaças de morte e decidir sair do Brasil. Em entrevista ao GLOBO na época, Miranda prometeu continuar legislando a favor das mesmas causas de Wyllys, que era forte defensor dos direitos das pessoas LGBT:

— Eu acredito em uma coincidência do destino. Se eles (os opositores de Wyllys) acham que vão acabar com um LGBT, outro de nós vai assumir. Vou estar lá por todos os nossos companheiros que são tombados. Acho que, de alguma maneira, a saída dele e a minha chegada estão completamente relacionadas por essa semelhança — afirmou o político.

No mesmo ano, David Miranda foi eleito pela revista americana Time como um dos dez líderes da próxima geração. À publicação, o estreante em Brasília declarou estar "tremendo" antes de subir na tribuna. "Aquele lugar não foi construído para pessoas como nós", declarou. Ainda na mesma entrevista, Miranda avaliou que o interesse pela política havia crescido nos últimos anos no país.

— As pessoas estão realmente prestando atenção à política agora, e isso é algo que o dinheiro não pode comprar — declarou à revista.

Na Câmara federal, os outros projetos de David Miranda determinavam medidas protetivas para a população LGBTQIA+, e outra que propôs a criação de ações para combater o suicídio e o sofrimento psíquico de profissionais da segurança pública, como os policiais.

Em janeiro de 2022, o parlamentar deixou o PSOL e se filiou ao PDT. Ele publicou uma carta aberta nas suas redes e anunciou a decisão no dia da comemoração do centenário de Leonel Brizola. O político justificou sua saída do PSOL pela opção do partido em apoiar o PT nas próximas eleições presidenciais desde o 1º turno. Posteriormente, o PDT apoiou a candidatura de Lula no segundo turno.

Seis meses depois, David Miranda foi internado por apresentar uma infecção grave no sistema gastrointestinal. Seis semanas depois, a família anunciou a desistência da candidatura à reeleição. O jornalista disse que decisão de desistir do pleito foi tomada em conjunto, entre amigos e parentes do parlamentar: "Foi uma decisão extremamente difícil".

Durante todos os meses de internação, Greenwald atualizou o estado de saúde do marido, até a data de óbito, nesta terça-feira.

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