MARIELLE FRANCO

Motivação da morte de Marielle e jogo do bicho: entenda os principais pontos da delação de Lessa

Chiquinho Brazão, Domingos Brazão e Rivaldo Barbosa foram presos pela PF após revelações do ex-PM

Ronie Lessa, acusado de matar Marielle Franco e Anderson GomesRonie Lessa, acusado de matar Marielle Franco e Anderson Gomes - Foto: Reprodução/TV Globo

A delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora Marielle Franco (PSOL), traz informações sobre os mandantes do crime, quem participou do plano e qual a motivação do homicídio.

Além disso, os depoimentos também dão detalhes do planejamento da execução, que envolveu um infiltrado no PSOL, ordens para evitar monitoramento na Câmara Municipal do Rio e "garantia" de impunidade por parte de delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Lessa também contou à Polícia Federal que foi contratado por um bicheiro para matar uma ex-presidente de uma escola de samba do Rio.

Segundo Lessa, a execução de Marielle ocorreu por encomenda dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão (conselheiro do Tribunal de Contas do Rio e deputado federal, respectivamente), com quem mantinha relações desde 1999. Lessa explicou que os conheceu na casa de um amigo em comum "jogando sinuca e tomando cerveja" em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio. "Eles são bandidos mesmo", afirmou ele aos investigadores.

Infiltrado do PSOL
À PF, o delator relatou que os irmãos Brazão estavam recebendo informações de um "infiltrado" no PSOL que considerava Marielle como uma opositora dos interesses do clã na Zona Oeste do Rio. Segundo esse infiltrado, a vereadora estava orientando a população a não adquirir lotes na região que pertencessem às milícias.

“Deste modo, os elementos apresentados pelo discurso do colaborador podem ser sintetizados em duas questões primordiais: a suposta animosidade dos BRAZÃO com integrantes do PSOL, apontada por conta de levantamentos de políticos da legenda que teriam sido solicitados por MACALÉ, no interesse dos Irmãos, e a atuação de Marielle Franco junto a moradores de comunidades dominadas por milícias, notadamente no tocante à exploração da terra e aos loteamentos ilegais”, diz a PF.
 

Lessa descreveu aos investigadores três encontros que teve com os irmãos Brazão entre 2017 e 2018. Nessas reuniões secretas, o ex-PM foi orientado a não seguir Marielle a partir da Câmara Municipal do Rio, que ele deveriam devolver a arma do crime, e que o delegado da Polícia Civil Rivaldo Barbosa (preso ontem) agiria para "defletir" as investigações e "garantir a impunidade" do caso, segundo o relatório da PF.

"A dupla chegou a uma parte erma das imediações do hotel e avistou um carro parado, mediante o aceno de ambos os irmãos, que lá estavam sozinhos, estacionaram o veículo", diz o relatório da PF baseado nos depoimentos de Lessa.

Contravenção
O colaborador também relatou que na mesma época em que estava tramando a morte de Marielle fora contratado para um outro crime: matar a ex-presidente do Salgueiro Regina Celi. O contratante, segundo ele, era o contraventor Bernardo Bello.

Em depoimento, Lessa disse que essa “empreitada criminosa” foi apresentada por outro criminoso identificado como Macalé, tendo em vista que a recompensa seria de R$ 50 mil mensais de Bello e “não tinha como negar um pedido seu”. O ex-PM lembrou que homicídio de Marielle era mais rentável, mas Macalé o convenceu a aceitar e o levou para conversar com o contraventor. O criminoso citado era Edmilson Oliveira, executado a tiros em novembro de 2021 em um homicídio investigado por "queima de arquivo".

Como recompensa pela morte de Marielle, Lessa disse que ganharia do clã Brazão lotes em um empreendimento imobiliário na Zona Oeste do Rio. Isso permitiria que ele ascendesse no mundo do crime organizado do Rio e não fosse visto apenas como um "mero sicário", segundo as investigações da PF.

Motivação do crime
Autor dos disparos, Ronnie Lessa contou, em delação premiada, que no segundo trimestre de 2017 Chiquinho Brazão demonstrava "descontrolada reação" à atuação de Marielle para "apertada votação do projeto de Lei à Câmara número 174/2016". Com o projeto, os mandantes buscariam a regularização de um condomínio inteiro na região de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, sem respeitar o critério de área de interesse social.O objetivo seria obter o título de propriedade para especulação imobiliária.

O relatório da investigação da PF diz que "inexistem dúvidas" sobre motivação dos irmãos Brazão para assassinato de vereadora. No despacho que autorizou a prisão da dupla, o ministro do Supremo Alexandre de Moraes afirmou que a "divergência política em relação à regularização fundiária de condomínios da Zona Oeste do Rio" está pro trás do crime.

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