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MPF arquiva denúncia contra Michelle Bolsonaro por post de Lula em cerimônia do candomblé

Em agosto do ano passado, a então primeira-dama compartilhou um vídeo do candidato à Presidência em ritual de religião de matriz africana e foi acusada de racismo religioso

Michelle BolsonaroMichelle Bolsonaro - Foto: Carolina Antunes / Presidência da República

O Ministério Público Federal arquivou uma denúncia contra a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Em agosto do ano passado, durante o período pré-eleitoral, a mulher do ex-presidente publicou um vídeo de Lula (PT) em ritual do Candomblé. Na ocasião, ela compartilhou uma publicação que afirmava que o então candidato teria entregado a "alma para vencer a eleição". A atitude foi repudiada por líderes religiosos.

"Lula já entregou sua alma para vencer essa eleição. Não lutamos contra a carne nem o sangue, mas contra os principados e potestades das trevas. O cristão tem que ter a coragem de falar de política hoje, para não ser proibido de falar de Jesus amanhã", dizia a legenda do post que foi inicialmente publicado pela então vereadora Sonaira Fernandes.

Em decisão do MPF, o procurador da República Frederico de Carvalho Paiva alega que Michelle Bolsonaro apenas escreveu a frase "Isso pode né? Eu falar de Deus não" ao compartilhar o conteúdo. As ponderações da ex-primeira-dama "mais se aproximam de um reclame quanto a uma possível intolerância sofrida pela sua crença do que propriamente a um ataque à religião africana". Neste contexto, estaria abarcada na liberdade de expressão.

"Por tudo isso, a postura da investigada, apesar de ter conotação preconceituosa, intolerante, pedante e prepotente, encontra guarida na liberdade de expressão religiosa e, em tal dimensão, não preenche o âmbito proibitivo da norma penal incriminadora", diz trecho do documento.
 

No período eleitoral, o post de Michelle gerou alvoraço. Ao Globo, cinco importantes lideranças condenaram a atitude intolerante e vista como um pequeno retrato diante do racismo religioso sofrido pelos fiéis de religiões africanas e indígenas, invisibilizadas pelo poder público. O babalaô (no português, sacerdote) e interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), Ivanir dos Santos, foi um dos primeiros a problematizar a publicação:

— Michelle se usa de um conceito racista de que o que é branco e europeu é bom e deve ser exaltado. Já o que vem da África, do povo preto, é do mal. É uma ignorância porque nas tradições africanas há a figura do criador. Esse Deus dela tem origem no nosso continente — afirmou o Babalaô. A fala foi endossada por Iyalode Ojéwunmi Rosângela D'Yewa, diretora do Afrikerança Matriarcado Ancestral do Brasil, que considerou o ato "infeliz".

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