Múcio diz que novo comandante do Exército tem que fazer "algumas costuras internas"
General Tomás Miguel Ribeiro Paiva se encontrou com o titular da Defesa
O ministro da Defesa, José Múcio, afirmou, nesta segunda-feira (23), que o novo comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, ainda deverá fazer “algumas costuras internas” na Força e defendeu a decisão do governo de trocar o comando militar. O ministro voltou a afirmar que houve um problema na confiança e que fica “difícil trabalhar quando a pessoa fica sob suspeita se vai ou não tomar a providência”.
— Ele (Tomás) prometeu servir ao país no comando do Exército. Está entusiasmado. Evidentemente que existem algumas costuras internas para fazer, a coisa foi muito rápida, mas nós tínhamos que fazer o que foi feito — afirmou Múcio, completando em outro momento: — Teve aquela questão dos acampamentos, a questão do dia 8. Na relação, houve uma quebra de confiança. Fica muito difícil trabalhar quando as pessoas ficam sob suspeita se vai ou não tomar a providência. Mas está tudo em paz, tudo calmo.
Múcio deu as declarações após um café da manhã com o general Tomás nesta segunda-feira. Nesta terça (24), o novo comandante fará a primeira reunião com a cúpula da Força desde que assumiu o posto. No encontro, os demais 16 generais de quatro estrelas que compõem o Alto Comando serão informados das diretrizes do novo chefe do Exército.
Múcio afirmou que não passou nenhuma orientação a Tomás sobre como lidar com as tropas, mas afirmou que o novo comandante “tem liderança”. O ministro ainda tentou diminuir a temperatura dos últimos acontecimentos e afirmou que o general Tomás e o ex-comandante Arruda são amigos.
— Ele sabe melhor do que eu. Não sou eu que vou ensinar a ele como lidar com a tropa. Ele tem liderança, é amigo do general Arruda, com quem eu falei agora pela manhã. Teve sucesso com a cirurgia dele.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu demitir no sábado (21) o comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, em meio a uma crise após os ataques de golpistas bolsonaristas aos prédios dos Três Poderes.
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Como o Globo mostrou, Lula quis demitir o general devido ao comportamento do militar em relação aos acampamentos golpistas diante do Quartel General do Exército, em Brasília. Lula nunca digeriu o fato de Arruda ter sido contra a prisão imediata de golpistas que invadiram as sedes dos Poderes em 8 de janeiro e estavam alojados em um acampamento em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília. O general alegava que havia mulheres e crianças no local que poderiam ser vítimas de um eventual confronto com a Polícia Militar. Essa postura irritou o presidente e ministros do governo, que passaram a pressionar o ministro da Defesa.
A expectativa para a reunião de Tomás nesta terça-feira com a cúpula é que o novo comandante aborde com os colegas quais providências pretende tomar a respeito do envolvimento ou leniência de militares durante os atos golpista do último dia 8. Ele foi incumbido pelo Palácio do Planalto de dar andamento a investigações sobre a participação de militares nos ataques.
Múcio, no entanto, afirmou que a troca do comando não influencia no andamento das investigações uma vez que a “substituição não foi por conta disso”.
— Se (as investigações) vão ganhar força ou não vão ganha força, a substituição não foi por conta disso. Acho que essas coisas terão que ser esclarecidas. Ninguém pode ser condenado previamente sem que as coisas sejam detectadas. O direito da dúvida tem que ser dado. Acho que agora as coisas vão se acalmar.
Na sexta-feira, em declaração no Palácio do Planalto após reunião com Lula, Múcio afirmou que os os militares estão cientes que o governo poderá adotar punição a integrantes das tropas que eventualmente tenham a participação comprovada nos atos golpistas.
— Os militares estão cientes e concordam que vamos tomar as providências. Evidentemente, no calor da emoção, precisamos ter cuidado para que os julgamentos e acusações sejam justas para que as penas sejam justas. Mas tudo será providenciado no seu tempo
Na mesma ocasião, o ministro afirmou que acredita que não houve um envolvimento direto das Forças Armadas, mas “se algum elemento, individualmente, teve a sua participação, ele vai responder como cidadão”.