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daniela do waguinho

Mulher de miliciano atuou como cabo eleitoral da ministra do Turismo, Daniela Carneiro, em 2022

Numa série de postagens feitas nas redes sociais entre agosto e outubro, Giane Prudêncio registrou sua rotina pedindo votos para a então candidata

Giane Prudêncio com Daniela CarneiroGiane Prudêncio com Daniela Carneiro - Foto: Reprodução

Mulher do miliciano Juracy Prudêncio, o Jura, Giane Prudêncio trabalhou como cabo eleitoral da ministra do Turismo, Daniela Carneiro, a Daniela do Waguinho, na campanha a deputada federal no ano passado. Numa série de postagens feitas nas redes sociais entre agosto e outubro de 2022, Giane registrou sua rotina pedindo votos para a então candidata e sua dobradinha, o deputado estadual Márcio Canella (ambos do União Brasil), na Baixada Fluminense. Nas imagens, Giane aparece sempre com roupas azuis — uniforme dos cabos eleitorais —, com adesivos dos candidatos e cercada de outras pessoas com bandeiras.

O pagamento a Giane não aparece na lista de despesas apresentadas por ambos os candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Giane, no entanto, trabalha desde março de 2019 no gabinete de Canella na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Na folha de pagamento da Casa de outubro do ano passado, a mais recente disponível, consta que ela recebeu salário de R$ 6.273,80 líquidos. Tanto Canella quanto Daniela foram eleitos.

No lançamento da campanha, marcado por comício em 31 de agosto, Giane posou para fotos com os dois candidatos e postou: "Quem me conhece sabe que eu sou uma mulher comprometida com uma política séria e, principalmente, humanizada. É por isso que aqui só peço voto para aqueles em que eu acredito no compromisso de trabalhar pela nossa Baixada Fluminense, seja em Brasília, como continuará fazendo nossa Deputada Federal Daniela do Waguinho, ou seja na Alerj com nosso deputado estadual Márcio Canella".

Já em 16 de setembro, Giane postou uma série de fotos entregando santinhos nas ruas da Baixada vestida de azul, com a legenda: "Essa nossa campanha é feita por gente. Gente que ama, que acolhe, que entende, que reconhece que nossa região pode sim se tornar um lugar melhor pra se viver". Na semana seguinte, ela fez uma nova postagem, numa nova passeata com cabos eleitorais: "Nós sabemos da responsabilidade de apoiar os candidatos Daniela do Waguinho e Márcio Canella. Acreditamos na seriedade e capacidade de ambos".

Já na eleição de 2018, quando foi eleita deputada federal pela primeira vez, a atual ministra pediu votos ao lado do marido de Giane, o ex-PM Juracy Alves Prudêncio, o Jura, miliciano condenado a mais de 20 anos de prisão por homicídio. Como o jornal "Extra" revelou em 2020, Prudêncio conseguiu autorização da Justiça para sair da cadeia e trabalhar, ganhou o cargo de Diretor do Departamento de Ordem Urbana na Prefeitura de Belford Roxo, sob o comando de Waguinho, e aproveitou uma saída da cadeia para participar de uma passeata com Daniela. Ele aparece numa foto entregando santinhos ao lado da então candidata.

A ministra, o marido e o miliciano também posaram juntos para fotos feitas no aniversário de Waguinho, em 2018, durante outra saída da cadeia de Jura. A imagem foi postada pela mulher de Jura, Giane Prudêncio, numa rede social com a legenda: "Meu caro amigo prefeito Waguinho, você é sem dúvida uma das pessoas mais capazes e especiais que eu já conheci. E isso é porque você sabe dar valor às coisas verdadeiramente importantes! Nesse dia tão importante, o nosso desejo é que você possa continuar com essa fé , que vai continuar te ajudando a alcançar grandes conquistas!".

Segundo as sentenças que condenaram o ex-sargento da PM entre 2010 e 2014, Prudêncio era chefe do Bonde do Jura, uma milícia acusada de uma série de homicídios na Baixada Fluminense. Ele está preso desde 2009, quando foi o principal alvo da Operação Descarrilamento, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), que levou para trás das grades nove PMs acusados de integrar a milícia que ele chefiava.

Jura, inclusive, foi citado no relatório final da CPI das Milícias, presidida pelo então deputado estadual Marcelo Freixo — que será subordinado a Daniela no novo governo, afinal foi anunciado pela ministra como presidente da Embratur. O documento já apontava que o bando liderado pelo ex-PM “era formado por 70 pessoas, incluindo policiais militares”. Jura segue preso até hoje.

Procurado, o advogado de Prudêncio, Luan Palmeira afirmou que não tem "autorização dele nem da família para falar sobre o processo". Palmeira pediu para conversar com seu cliente antes de dar qualquer declaração sobre a relação dele com Waguinho e Daniela. A ministra afirmou, por meio de nota enviada por sua assessoria, que "apoio político não significa que ela compactue com qualquer apoiador que porventura tenha cometido algum ato ilícito". Segundo o texto, "compete à Justiça julgar quem comete possíveis crimes". Ela também afirma que "não tem nenhuma ingerência" sobre as nomeações na Prefeitura de Belford Roxo.

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