Munição usada na morte da vereadora Marielle Franco foi comprada pela Polícia Federal
Relatório de investigação da corporação e delação de ex-PM não citam informação sobre a origem das balas
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A delação do ex-PM Élcio de Queiroz trouxe novos elementos para a investigação da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, assim como apontou o ex-policial Ronnie Lessa como autor dos disparos, o que já tinha sido descoberto na primeira fase. No entanto, a colaboração do réu e o relatório sigiloso com a apuração da Polícia Federal não fazem menção à munição usada no duplo homicídio, comprada pela própria corporação.
Há uma sindicância instaurada pela PF para apurar o desvio, descoberto a partir do assassinato da parlamentar e de seu motorista. As balas desse mesmo lote também foram usadas em outros crimes no Rio, tanto em áreas de milícia quanto de tráfico, nas zonas Oeste e Norte.
Nove projéteis analisados
A primeira fase da investigação, concluída em março de 2019, mostrou que a perícia técnica da Polícia Civil do Rio revelou que oito projéteis — encontrados nos corpos das vítimas e no carro em que estavam — eram do lote UZZ 18, produzidos pela marca brasileira CBC, e um deles, importado, da marca Indumil.
A questão está no lote UZZ 18, vendido exclusivamente para a Polícia Federal, em 2006, sendo distribuído um ano depois para todas as superintendências do Brasil. Só à do Rio chegaram 200 mil unidades. Esse lote tem balas de diferentes calibres: 9mm, 5,56 e 7,62 (os dois últimos usados em fuzis), o que dificulta o trabalho dos agentes.
Durante a investigação do assassinato da juíza Patrícia Acioli, em 2011, em Niterói, além da quebra do sigilo telefônico das antenas de telefonia, que permitiu a localização dos autores do crime, a identificação do lote do projétil foi fundamental para descobrir a origem da munição. Ela era usada pelos policiais do 7º BPM (São Gonçalo). As provas levaram 11 PMs à condenação pela morte da magistrada.
No caso Marielle, a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) chegou a enviar um ofício com perguntas sobre a munição à PF, que respondeu, em 29 de março de 2018, que a aquisição do lote foi feita num único processo licitatório conduzido por Brasília. Acrescentou que não havia “informações sobre desvio” e que os projéteis desse lote foram usados durante os jogos Pan-Americanos, em 2007, inclusive em treinamento. De qualquer forma, a PF instaurou uma sindicância à época.
Questionada ontem sobre o resultado dessa investigação, a PF informou que o conteúdo está sob sigilo.