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COP27

Na COP27, Lula é inundado por pedidos de indígenas e ONGs de todo o planeta

Após primeiro encontro com representantes da sociedade civil brasileira, Lula se reuniu com lideranças indígenas de diversas partes do mundo

Lula em encontro com lideranças indígenas durante a COP27 Lula em encontro com lideranças indígenas durante a COP27  - Foto: Ahmad Gharabli / AFP

Salvar as florestas da Sibéria, falar com o presidente Joe Biden, organizar as finanças climáticas mundiais... O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, tornou-se, nesta quinta-feira (17), um repositório inesperado das esperanças e demandas dos povos indígenas e de ativistas na COP27 no Egito.

Depois de um primeiro encontro pela manhã com representantes da sociedade civil brasileira, no qual prometeu "reconstruir" o país após o mandato de Jair Bolsonaro, Lula reuniu-se com lideranças indígenas de diversas partes do mundo.

"Você é o superastro da COP27", disse a Lula Terry Teegee, líder indígena canadense, que pediu ao brasileiro que convencesse os governos do mundo, entre eles o do presidente americano Joe Biden, a "adotarem um papel de liderança frente a mudança climática".

Um representante udege, um povo do extremo oriente russo, pediu a Lula que se interessasse pela proteção das florestas siberianas. E o nigeriano Legborsi Saro Pyagbara o incentivou a pressionar para que os países ricos paguem aos pobres pelos danos e perdas causadas pela mudança climáticas, um dos temas mais espinhosos desta COP.

Lula também se converteu em repositório das expectativas na América Latina.

"Requisitamos o seu acompanhamento político para ajudar os governos da bacia amazônica" a trabalharem pela biodiversidade e adaptação à mudança climática, "em diálogo com os povos indígenas", assinalou Harol Rincón Ipuchima, dirigente indígena colombiano do povo Maguta.

Lula anunciou na quarta-feira, em Sharm el-Sheikh, que, assim que tomar posse em 1º de janeiro, vai criar o Ministério dos Povos Originários.

O peso da responsabilidade
Aos 77 anos, o ex-presidente (2003-2010) confessou sentir o peso da responsabilidade.

"Eu nunca participei de uma reunião que me transferisse tanta responsabilidade como essa reunião de agora", afirmou. "Não tenho sequer conhecimento profundo da realidade de cada nação indígena no seu país", acrescentou.

"Eu não tenho tamanho" para representar todos os povos indígenas do planeta, mas "tenho vontade" e "me disponho a ajudar", prometeu.

Lula mencionou sua participação em diversos fóruns multilaterais depois da crise financeira mundial de 2008 e criticou a falta de discussões sobre os problemas da sociedade nessas reuniões. 

"Quando se reúnem os presidentes dos países ricos, as pessoas pobres não existem, os indígenas, os negros não existem, a periferia não existe", afirmou.

Em seguida, aproveitou para fazer um convite aos indígenas do Brasil: "Quero que os indígenas brasileiros participem da governança do meu país."

O encontro com as lideranças indígenas encerrou com uma emotiva cerimônia de "fortalecimento espiritual", acompanhada de cânticos e demonstrações de afeto.

'Reconstruir' o Brasil
Pela manhã, Lula manteve um encontro com representantes da sociedade civil brasileira, aos quais pediu ajuda para "reconstruir o país".

"Estamos felizes com sua chegada" ao poder, mas "ficamos vigilantes" porque "demandas, presidente, temos muitas", enfatizou Puyr Tembé, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

O petista, de 77 anos, prometeu energicamente retomar a agenda social de seus dois primeiros mandatos (2003-2010), que tiraram 30 milhões de pessoas da pobreza.

Também se comprometeu a combater a desnutrição no Brasil, que em 2021 voltou ao "mapa da fome" da ONU, com 28,9% da população do país em situação de "insegurança alimentar moderada ou grave".

O Brasil havia sido eliminado do mapa da fome em 2014, após a bonança econômica e as políticas sociais de Lula e de sua sucessora Dilma Rousseff.

Como já havia feito ontem em um discurso na COP27, o presidente eleito insistiu em seu compromisso com a preservação da Amazônia.

E pediu "respeito" ao poderoso setor do agronegócio, favorecido pelo governo Bolsonaro e responsável em parte pelo desmatamento que no período 2020-2021 atingiu seu nível máximo em 15 anos, segundo dados oficiais.

"Quero que me respeitem, como eu respeito eles. O verdadeiro empresário do agronegócio sabe que não pode fazer queimada em um lugar que não pode queimar [...] O verdadeiro empresário do agronegócio tem um compromisso" com a responsabilidade ambiental, disse o presidente eleito.

A viagem ao Egito é a primeira de Lula ao exterior desde que ele venceu Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais em 30 de outubro. Na sexta, voará a Portugal, antes de retornar ao Brasil.

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