Na COP28, Lula tentará marcar diferenças com governo Bolsonaro sobre o meio ambiente
Presidente participará do evento na sexta e no sábado, em Dubai, onde buscará protagonismo verde ao lado de vários ministros e com números para apresentar ao mundo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca esta semana para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Dubai, a COP28, com o objetivo de mostrar para a comunidade internacional as diferenças entre a sua gestão e o governo de Jair Bolsonaro.
Lula participa do evento na sexta e no sábado, ressaltando a defesa da ciência como critério a ser usado nas decisões sobre o aquecimento global — o que significa excluir dos debates propostas com base no negacionismo, marca do seu antecessor.
Acompanhado de boa parte de seu Gabinete, Lula buscará o protagonismo verde na maior cidade dos Emirados Árabes Unidos. De acordo com interlocutores próximos ao presidente, levará na mala números e medidas tomadas por seu governo. E pretende culpar o governo Bolsonaro pelas queimadas na Amazônia e no Pantanal, dizendo que os incêndios decorrem do desinteresse do governo anterior.
Junto ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Lula lançará ao mundo um programa brasileiro de transição ecológica e vai destacar que a lei da regulamentação do mercado de carbono no Brasil está em fase final de tramitação no Congresso — o governo tenta votar o tema na Câmara na semana que vem, depois de o projeto já ter sido aprovado pelo Senado. Hoje, empresas que poluem mais que determinado limite podem comprar créditos das que emitem menos gases ou que capturam carbono da atmosfera.
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Em um pavilhão chamado Espaço Brasil, o governo também divulgará um projeto do BNDES para a recuperação de pastagens degradadas. Ainda há a expectativa de que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, apresente um mecanismo para remunerar quem mantém a floresta em pé.
Integrantes do governo afirmam que o Brasil tem resultados a apresentar. Entre os dados positivos é a queda, desde janeiro, de mais de 40% do desmatamento na Amazônia. O item faz parte de um pacote de ações cujo objetivo é credenciar o país para sediar a COP30, em 2025, em Belém. Lula também voltará a cobrar recursos e maior comprometimento das nações desenvolvidas para combater o aquecimento global.
Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima — rede formada por 68 entidades da área ambiental — diz que, apesar dos resultados positivos que Lula quer mostrar, é importante que assumir a liderança na redução do uso de combustíveis fósseis.
— No geral, o Brasil volta a pisar na conferência do clima sem sujar o carpete. É um país esperado e preparado para as negociações — aponta Astrini. — Porém, se Lula quer mesmo ser um líder global, precisa entrar firme na discussão sobre energia e petróleo. Há um plano de redução? Será explorado petróleo na Amazônia?
O Brasil levará à conferência de Dubai metas de mitigação de emissões de 48% até 2025 e de 53% até 2030. Durante o evento, que vai até 12 de dezembro, delegados dos 138 países que confirmaram presença vão discutir estratégias para conter o aquecimento global, cujo máximo aceitável, de acordo com o Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC), é de 1,5° C até 2050, em relação às temperaturas registradas na era pré-industrial.
Para o secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty, André Corrêa do Lago, um dos momentos mais importantes será a aprovação do primeiro balanço global do Acordo de Paris, incluindo o que foi cumprido e o que está faltando. Ele também ressalta a expectativa de se começar a discutir uma nova estrutura de financiamento.
— O Brasil chega a Dubai em uma situação confortável, porque a mudança do clima é levada a sério e um de seus principais problemas, que é o desmatamento, está sendo enfrentado. Além disso, o Brasil defenderá a ciência como elemento essencial para guiar as negociações e para que não tenhamos situações ainda mais dramáticas — disse Lago.
Passagem pela Alemanha
Estão previstas reuniões bilaterais entre Lula e líderes internacionais, mas a lista está sendo fechada. É esperado, por exemplo, um encontro com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Entre os assuntos a serem tratados, o principal é o acordo comercial entre o Mercosul e o bloco europeu, que o governo brasileiro espera ver fechado até dezembro.
Após a COP28, Lula passará pela Alemanha, na volta para o Brasil. A questão ambiental e o acordo entre os blocos serão temas abordados em Berlim.
Ana Toni, secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, lembra que o mundo passa por eventos climáticos extremos, o que leva a uma maior conscientização. Porém, ela defende que as nações desenvolvidas devem tomar a linha de frente em temas como o uso de combustíveis fósseis, antecipação de metas e maior rapidez em prazos de implementação.
— O Brasil chega à COP mais consciente sobre sua vulnerabilidade em relação às mudanças do clima.