crise diplomática

Na véspera de reunião de chanceleres do G20, embaixador nega que crise com Israel ofuscará encontro

Em entrevista coletiva, Mauricio Carvalho Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, destacou que prioridade brasileira será reforma das instituições

Cartaz do G20 no prédio da Prefeitura do Rio de Janeiro Cartaz do G20 no prédio da Prefeitura do Rio de Janeiro  - Foto: Pablo Porciuncula / AFP

Na véspera da reunião de chanceleres do G20, no Rio de Janeiro, diplomatas brasileiros afirmam que a crise entre Israel e Brasil, iniciada após a comparação feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre a guerra em Gaza e o Holocausto, não vai ofuscar o encontro, mas reconhecem que o tema deve pontuar conversas entre representantes estrangeiros.

Em uma entrevista coletiva, na tarde desta terça-feira, o embaixador Mauricio Carvalho Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty e Sherpa do Brasil no G20, afirmou que o presidente Lula tem feito um chamado à paz desde o início da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, após os ataques de outubro do ano passado.

— A defesa da paz é uma posição clara para todos os conflitos, e a reforma da governança global é importante para resolver os conflitos e impedir que eles aconteçam — disse o embaixador. — Nós hoje estamos apagando incêndios.

Segundo fontes diplomáticas ouvidas pelo Globo, apesar de existir a expectativa de o Brasil conseguir efetivamente priorizar sua agenda, a crise deve se fazer presente nas plenárias e nos encontros bilaterais, ao lado de outras questões, como a guerra na Ucrânia — o chanceler russo, Sergei Lavrov, estará no Rio de Janeiro, assim como o secretário de Estado, Antony Blinken. Antes de chegar ao Brasil, Lavrov esteve em Cuba e Venezuela, dois aliados próximos de Moscou. As principais pautas brasileiras para seu ano na presidência rotativa do G20 são o combate à pobreza, a mobilização contra as mudanças climáticas e a reforma da governança global, especialmente da ONU.

Na reunião de chanceleres, da qual participarão integrantes do G20, países e organizações internacionais convidadas, a primeira plenária, prevista para quarta-feira, será destinada à discussão de temas geopolíticos — quando pode haver menções às inúmeras crises enfrentadas hoje pelo mundo. Na quinta-feira pela manhã, a pauta será a reforma das instituições multilaterais, em especial a ONU. Para o embaixador Lyra, há um "déficit de governança" em um momento perigoso para o planeta.

— A proliferação de conflitos é algo que preocupa de forma muito aguda. Há um estudo do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), apontando que no ano passado tivemos um recorde de conflitos, 123 conflitos, algo sem precedente nas últimas décadas. Algo sem precedente nas últimas três decadas, nós retornamos ao nivel de conflito da Guerra Fria — afirmou. — Há um déficit de governança para enfrentar os desafios atuais, há um déficit na governança global.

O embaixador Lyra revelou ainda que, pela primeira vez, será realizada uma segunda reunião de chanceleres do G20, em Nova York e em paralelo à sessão de Debates Gerais da Assembleia Geral da ONU, em setembro. E que, também pela primeira vez, todos os países que integram as Nações Unidas serão convidados para um encontro do G20.

— Há um consenso em relação à reforma, mas o caminho para se chegar até essa reforma passa pelas diferenças. Essa é a grande proeza de um trabalho diplomático, a de fazer uma reforma mais inclusiva, para que tenhamos de fato uma ONU capaz de prevenir novos conflitos — destacou. — A ONU foi criada para evitar conflitos, e a ideia é que tenhamos uma reforma eficaz para que ela possa ser uma ferramenta eficaz para evitar conflitos.

A reunião desta semana é a primeira em nível ministerial do G20, e é um dos momentos mais importantes da presidência do Brasil da organização. A cúpula de líderes está prevista para novembro também no Rio de Janeiro.

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