"Não há qualquer espaço para o PSOL ser oposição ao governo Lula", diz presidente da sigla
Juliano Medeiros minimizou divisões internas no partido sobre adesão à futura administração petista
Presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros disse que não há qualquer espaço no partido para ser oposição ao terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em entrevista ao Globo nesta terça-feira, Medeiros minimizou o racha na legenda em torno da adesão à gestão petista e disse que os partidos de esquerda, incluindo o PT, poderiam ter discutido uma alternativa para a eleição da Câmara dos Deputados, em vez de apoiar a recondução de Arthur Lira (PP-AL).
O partido vive um racha no Congresso, com parlamentares, como Sâmia Bomfim (SP), que colocam o PSOL na figura de oposição, e outros, como Guilherme Boulos, defendendo que o partido seja da base de Lula. Como o senhor vê essas divergências internas? O PSOL será ou não base do governo?
O PSOL é um partido vivo, sem chefes ou decisões de cima para baixo. É normal que nossos debates internos acabem tendo projeção pública. Considero que não há qualquer espaço para o PSOL ser oposição ao futuro governo. O debate é se ele deve indicar nomes aos ministérios — como defendo — ou se deve manter sua atuação prioritariamente na Câmara dos Deputados e nos movimentos sociais. Acredito que o partido estará na base do governo, mas essa decisão só será tomada dia 17.
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A deputada Sâmia Bomfim, líder do PSOL na Câmara dos Deputados, disse que o alinhamento com o governo Lula pode descaracterizar a sigla. O senhor concorda?
Não concordo. O PSOL é um partido que tem 17 anos de legalidade, governamos capitais, disputamos eleições, fizemos alianças com os demais partidos de esquerda e só crescemos. Não tenho nenhum medo de o PSOL perder sua essência rebelde e comprometida com a mudança.
O PSOL tem pelo menos dois nomes cotados para compor o novo governo: Guilherme Boulos e Sonia Guajajara. Está certo que o partido terá dois ministérios e irá compor com o governo?
A relação do PSOL com o governo do presidente Lula vai ser definida em reunião do diretório nacional que acontece dia 17 de dezembro. Não há nenhum convite para o PSOL para compor ministérios até o momento, embora o partido tenha vários nomes muito qualificados que poderiam colaborar bastante com o processo de reconstrução do país. Mas até o momento não há debate no PSOL sobre composição de ministérios.
Lula tem negociado ministérios com partidos de centro e centro-direita, como MDB, União Brasil e PSD. Essas composições são necessárias para se ter governabilidade?
Vejo que o presidente Lula tem se dedicado a garantir a aprovação da PEC do Bolsa Família. Essa é a prioridade. Se esses partidos irão integrar o governo ou não, é uma decisão que cabe a ele. Todos sabemos que a base de apoio eleita em outubro não é suficiente sequer para aprovar um projeto de lei, então o diálogo é incontrolável. Outra coisa é esses partidos comporem o governo.
O senhor já disse que o PSOL não cogitava apoiar a reeleição de Arthur Lira para a Câmara. Como vê o apoio do PT à recondução do Lira? Acredita que foi a melhor solução ou o PT, junto ao PSOL e demais partidos de esquerda, poderia ter lançado um candidato próprio?
Compreendo as razões que levaram o PT a apoiar Lira. Mas para um partido como o PSOL, que inclusive teve deputados perseguidos por Lira, esse apoio é impossível. Penso que os partidos de esquerda poderiam ter discutido uma alternativa, sim.
Que razões são essas?
Me parece que a decisão passa por garantir a aprovação da PEC do Bolsa Família, que é a prioridade do novo governo. Mas considero que ela poderia ser aprovada mesmo sem esse apoio, por isso defendemos que as esquerdas deveriam apresentar um nome.
Diante desse posicionamento do PT, o PSOL deve apresentar um nome próprio à sucessão de Lira?
Isso ainda não está decidido. Mas é uma possibilidade.
Além da reeleição de Lira, o PT sinaliza com a manutenção do orçamento secreto, instrumento do qual o PSOL é crítico. Como vê esse recuo do PT e qual será a postura do PSOL?
Não vejo recuo algum. Pelo contrário. Entre os partidos que apoiaram o presidente Lula é unânime a posição de acabar com o orçamento secreto. Todos estamos na torcida para que o STF (Supremo Tribunal Federal) coloque fim a esse mecanismo na sessão desta semana.
Mas o PT não se opôs ao fim do orçamento secreto na Comissão Mista de Orçamento...
Desconheço as razões que levaram a essa decisão. Até agora, temos trabalhado juntos para enterrar o orçamento secreto. Aliás, o próprio Globo noticiou o engajamento pessoal de Lula para que o orçamento secreto seja considerado inconstitucional pelo STF.
Como o PSOL sai das eleições de 2022 e quais serão os próximos passos da sigla?
O PSOL sai muito fortalecido. Superamos a cláusula de barreira com folga, aumentamos em 50% nossa bancada na Câmara dos Deputados, com maioria de mulheres. Elegemos duas deputadas indígenas, a primeira travesti da história da Câmara, o candidato mais votado da esquerda, que foi o Guilherme Boulos. Claro que tivemos também derrotas, mas é inegável o crescimento do partido. Acredito que nosso principal desafio é assegurar que o programa eleito possa ser implementado, com a valorização do salário mínimo, o adequado financiamento das políticas sociais, o fim do teto de gastos, o combate à crise climática, dentre outras medidas que são importantes para o PSOL.
Em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes trabalha para aprovar o passe livre nos ônibus da capital. O PSOL apoiará?
O PSOL sempre defendeu o passe livre. Vamos analisar a proposta da prefeitura e decidir no momento oportuno.
Alguns integrantes do PT-SP defendem que o partido lance um candidato próprio nas eleições municipais, desrespeitando o acordo com o PSOL. Vocês já trabalham com a possibilidade de ter o PT como adversário?
A eleição de 2024 ainda está muito distante. Nosso foco agora é ajudar o Brasil a superar a tragédia representada pelos quatro anos de Bolsonaro.