INVESTIGAÇÃO

"Não valem nada. Não é nem banhado, é latão", disse Mauro Cid sobre esculturas que pareciam de ouro

Árvore presenteada a Bolsonaro pelo Bahrein e barco, provavelmente ofertado pelo Kuwait, não tiveram valor esperado junto a lojas especializadas a que foram oferecidas nos Estados Unidos

Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair BolsonaroMauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro - Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

Relógios Rolex (R$ 300 mil), Patek Philippe (R$ 348 mil) e Chopard (R$ 800 mil). São altos os valores de alguns dos itens presenteados a Jair Bolsonaro durante o período em que ficou na presidência e negociados pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens dele.

Mas a investigação da Polícia Federal que levou à operação de busca e apreensão realizada na sexta (11) em endereços do general do Exército Mauro César Lourena Cid, pai de Cid; do tenente do Exército Osmar Crivelatti, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e do advogado Frederick Wassef, que já defendeu o ex-presidente e seus familiares, mostra que dois itens da lista "frustraram" as expectativas financeiras dos envolvidos.

"Então tem (...) tem aqueles dois maiores: não valem nada. É, é... não é nem banhado, é latão", escreveu Cid em mensagens sobre duas esculturas, aparentemente de ouro, recebidas por Bolsonaro. A primeira é uma árvore dourada ofertada pelo governo do Bahrein ao então presidente. A investigação mostra registros dele recebendo o objeto. Objeto este cuja reflexo em sua caixa levou à identificação do pai de Cid como um dos nomes envolvidos nas negociações para tentativas de venda. A segunda peça é um barco, também dourado. "Aquelas duas peças que eu trouxe do Brasil: aquele navio e aquela árvore; elas não são de ouro. Elas têm partes de ouro, mas não são todas de ouro (...) Então eu não estou conseguindo vender. Tem um cara aqui que pediu para dar uma olhada mais detalhada para ver o quanto pode ofertar (...) eu preciso deixar a peça lá (...) pra ele poder dar o orçamento", detalha o ex-ajudante de ordens.

Segundo relatório da PF, ambas foram encaminhadas para diversas lojas especializadas nos Estados Unidos, no entanto, "por não ter o valor monetário esperado pelos investigados, tornou-se frustrada as tentativas de alienação, ficando os bens sob guarda de Mauro César Lourena Cid". As esculturas, segundo a PF, saíram do Brasil em uma mala transportada no avião presidencial no dia 30 de dezembro de 2022.

A investigação, no entanto, faz questão de frisar o valor histórico-cultural das esculturas "dentro do contexto diplomático e do respeito aos países que presentearam": "Na página da Organização das Nações Unidas (ONU) há uma palmeira (PalmTree) que, assim como a escultura do evento 1, foi presenteada pelo Bahrein. O destaque dado pela ONU ao presente demonstra a sua importância", ressalta o relatório.

A entrega árvore a Bolsonaro aconteceu em 16 de novembro de 2021 no encerramento do Seminário Empresarial da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira na cidade de Manama, no Bahrein.

Sobre o barco, a investigação relata a existência de uma escultura semelhante na Câmara dos Deputados, presente ofertado pelo Comitê para os Detidos, Desaparecidos e o Bem-estar das Famílias dos Mártires do Estado do Kuwait ao deputado Luís Eduardo, então presidente da Casa.

O relatório diz que pesquisas realizadas não identificaram as peças no acervo museológico da presidência, o que seria indício de que "possam ter sido desviadas do patrimônio público, sem sequer terem sido submetidas ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica – GADH para avaliação de decisão a quanto a destinação ao acervo público brasileiro ou privado do ex-Presidente da República".

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