Nos EUA, Araújo critica 'climatismo' e diz que debate é 'pretexto para ditadura'
O ministro fez críticas ao que chamou de 'climatismo' e colocou mais uma vez em dúvida o aquecimento global
"Na sociedade da informação, quem controla o discurso controla o poder". A ideia abriu a palestra do ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) diante de uma plateia conservadora, nesta quarta-feira (11) em Washington.
Durante uma hora, o ministro fez críticas ao que chamou de "climatismo", colocou mais uma vez em dúvida o aquecimento global, e disse que líderes de diversos países fazem uso do alarmismo sobre mudanças climáticas para atingir objetivos políticos -inclusive usando a discussão como pretexto para a ditadura.
Segundo o chanceler, o sistema político tradicional -que não inclui os governos de Jair Bolsonaro e de Donald Trump- reage por impulso numa espécie de "hipnose coletiva" ou "apocalipse zumbi" quando o assunto é clima, e que hoje o tema se tornou um "silenciador do debate" e uma ameaça à soberania do Brasil.
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Na sua avaliação, a justiça social foi utilizada no passado como pretexto para implantar a ditadura e, agora, o que ele classifica como sistema estaria fazendo o mesmo movimento no caso do debate climático.
"Há mudanças climáticas? Sim, certamente, sempre teve. É causada pelo homem? Muitas pessoas dizem que sim, não sabemos com certeza", afirmou o ministro no think tank Heritage Foundation, um dos mais conservadores dos Estados Unidos e alinhados à Casa Branca.
"No passado se usou justiça social como pretexto da ditadura, e agora fazem o mesmo com clima", completou o chanceler afirmando que "nem comer carne mais é permitido."
Araújo criticou a esquerda e a imprensa -que, para ele, é "politicamente correta" e "domina o discurso público"- e disse que é justamente contra essas forças que o governo de Bolsonaro tem lutado contra hoje em dia.
"O Brasil voltou para onde nunca esteve, mas para onde nós pertencemos. De volta ao centro do combate."
A retórica é alinhada ao discurso nacionalista de Bolsonaro diante da crise de queimadas e desmatamento na Amazônia -o presidente negou ajuda financeira do G-7, por exemplo, para auxiliar na crise e disse que o francês Emmanuel Macron está interferindo na soberania brasileira ao querer tratar da floresta como assunto de urgência internacional.
De acordo com dados do próprio governo brasileiro, os episódios de incêndio e desmatamento na Amazônia aumentaram este ano em 82%, mas o chanceler afirmou que os índices estão na média e que a floresta deve ser utilizada "como marco zero na luta contra o globalismo."
"Hoje, por causa da maneira como eles usam o climatismo como principal instrumento de luta, a Amazônia é marco zero no combate ao globalismo", afirmou Araújo.
"Depois de todas as experiências ruins no mundo sobre socialismo, como alguém pode sonhar em impor controle socialista da economia em um país como os EUA? Nunca através do debate democrático, é claro, somente através de uma declaração de emergência. Então 'crise climática'. Como alguém em tempos de paz pode sonhar em quebrar a soberania de um país como o Brasil dizendo que a Amazônia está em chamas? De novo por causa de ideologia, dessa reclamação de crise climática, vamos salvar o planeta."
Em meio a citações de Adolf Hitler ao falar de nacionalismo -para ele, essa é a primeira referência das pessoas quando pensam em nação- e dizer que o socialismo do século 21 é uma mistura de "seguidores de [Antonio] Gramsci e cartel de drogas", Araújo disse que Bolsonaro e Trump são hoje os dois líderes que lutam contra o sistema em uma espécie de "insurgência universal contra a bobagem."
"O que mobiliza brasileiros, 'brexiters' e eleitores americanos? É uma revolta contra ideologia", declarou.
Em seu discurso intitulado "O Brasil está de volta", o chanceler traçou uma linha do tempo com início nos protestos de 2013 que, segundo ele, desembocaram na eleição de Bolsonaro no ano passado.
Araújo disse que ainda que "todos os brasileiros" tiraram a "líder detestada" Dilma Rousseff do cargo de presidente da República e que as manifestações espontâneas eram o início da revolta contra o sistema.
"As pessoas foram para as ruas protestar e não conseguiram o que queriam porque não sabiam direito o que queriam. E foram para a mídia social e não saíram de lá -nós não saímos de lá e isso mudou o país."
O ministro está em Washington para uma série de reuniões até sábado (14). A palestra desta quarta foi para marcar a posição ideológica do governo brasileiro -alinhada à dos EUA vários pontos- mas o chanceler ainda fará conversas com investidores, empresários e integrantes do governo americano sobre comércio.
No Departamento de Estado, na sexta (13), encontrará o secretário Mike Pompeo para um fórum de diálogo que tem sido bastante celebrado pela comitiva brasileira.
Após a palestra no think tank americano, o ministro concedeu entrevista de pouco mais de cinco minutos à Fox Business, emissora de TV alinhada a Trump. Nela, afirmou que o Brasil quer ajudar a Venezuela a recuperar sua democracia e que é preciso "livrar o hemisfério das ditaduras", em referência a Nicolás Maduro.
Os regimes totalitários na região sempre arrumam um jeito de voltar, disse o chanceler, mas é preciso acabar com eles para "se viver de maneira segura."