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Nova crítica de Lula amplia desgaste do governo com o agro

Presidente disse que setor tem "problema ideológico" com sua gestão; bancada ruralista reagiu e pediu respeito

Lula realiza um balanço dos primeiros seis meses de governo em sua primeira liveLula realiza um balanço dos primeiros seis meses de governo em sua primeira live - Foto: Reprodução/Youtube

Uma nova declaração do presidente Luiz Inácio Lula (PT) criticando o agronegócio ampliou o desgaste do petista com o setor, que apoiou maciçamente a reeleição de Jair Bolsonaro no ano passado. Na quinta-feira (15), Lula afirmou que o agronegócio tem um “problema ideológico” com o governo, e a bancada ruralista reagiu.

Em entrevista a rádios de Goiás, Lula disse que “não quer saber se produtor rural gosta” dele ou não e pontuou que atua por “condições melhores” de trabalho para 215 milhões de brasileiros, incluindo o agro, setor em que enxerga resistências.

"Pergunte quanto eles pagavam por uma máquina dessas colheitadeiras, toda automatizadas, no governo do PT. Tenho noção do que nós fizemos, o problema deles conosco é ideológico, não é problema de dinheiro a mais no Plano Safra. Não quero saber se produtor rural gosta de mim ou não. O que está em jogo é recuperar a capacidade produtiva desse país sem desmatamento e sem queimada na Amazônia — disse Lula. — Temos mais de 30 milhões de terras degradadas que podem ser recuperadas e que a gente pode dobrar nossa produção agrícola" acrescentou.

Para o deputado federal Pedro Lupion, que preside a bancada ruralista na Câmara, as declarações de Lula tiveram um “tom ruim”.

"O setor agropecuário espera respeito. Mais do que palavras vazias, precisamos de ações efetivas. Não somos ideológicos, pelo contrário, se o presidente diz que o Plano Safra será robusto, terá nosso aplauso" afirmou. — Nós tivemos no começo do governo uma relação muito ruim, demonstrações e falas muito negativas para o setor. Depois, conseguimos criar algumas pontes.

Morde e assopra
A fala de Lula ocorre após acenos do presidente ao agronegócio. Na última semana, na Bahia, o petista participou pela primeira vez neste mandato de um evento do setor. O governo anunciou ainda uma linha de crédito de R$ 7,6 bilhões para investimentos em sustentabilidade, ampliação da capacidade de armazenagem e segurança alimentar, além de R$ 3,6 bilhões para o Plano Safra e R$ 4 bilhões em linha de financiamento em dólar no Crédito Rural. Segundo Lula, o plano é voltado “tanto para a agricultura familiar quanto ao agronegócio”.

As tensões de Lula com o agronegócio foram evidenciadas ainda na campanha eleitoral, quando em entrevista ao Jornal Nacional o petista usou os termos “fascista” e “direitista” para classificar parte do segmento. Após sua posse, as relações permaneceram conflituosas. O maior ponto de tensão aconteceu em abril, quando o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou ter sido “desconvidado” pela Agrishow, em Ribeirão Preto (SP). O desconforto ocorreu após a confirmação da presença de Bolsonaro na abertura do evento, a maior feira agrícola da América Latina. Após o constrangimento, o governo anunciou que o Banco do Brasil iria retirar o patrocínio da Agrishow. Com toda a polêmica, a organização do evento cancelou a cerimônia de abertura, mas Bolsonaro visitou a feira com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Outro movimento do governo que gerou críticas do setor foi a a inclusão do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, o Conselhão. O grupo foi pivô de outros pontos de estremecimento na relação do Planalto com ruralistas, tendo como ápice abril, quando desencadeou uma série de invasões a propriedades rurais, no chamado de “Abril Vermelho”. Mesmo sob críticas dos ruralistas, o líder sem-terra João Pedro Stédile fez parte de comitiva de Lula em viagem à China.

O clima ruim se acentuou após um grupo de sem-terra invadir uma fazenda da família da senadora Tereza Cristina (PP-MS), em Mato Grosso do Sul. Eles foram retirados após a chegada da Polícia Militar. Em nota, o MST negou relação com o caso.

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