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Brasília

"O ato desse domingo era previsível": veja a análise de cientistas políticos

Bolsonaristas invadem a sede do Planalto, Congresso e STF e depredam o patrimônio

Bolsonaristas radicais fazem atos terroristas no Distrito FederalBolsonaristas radicais fazem atos terroristas no Distrito Federal - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Diante da invasão dos bolsonaristas terroristas aos principais prédios de Brasília, como o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto, paira a dúvida sobre quais serão os próximos passos diante da radicalização ocorrida ontem na capital federal. Por isso, a Folha de Pernambuco escutou cientistas políticos para trazer suas análises sobre o que virá nos dias seguintes no País.

Para Rodolfo Marques, as cenas vistas nesse domingo (8) em Brasília foram uma tragédia anunciada desde a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em outubro de 2022. “A mobilização dos terroristas já tinha tido alguns ensaios, como os acampamentos golpistas em frente aos quartéis, por exemplo. E até a data do ato no País é carregada de simbolismos, já que a invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, completou dois anos na última sexta (6)”, avaliou.

Opinião semelhante possui a especialista Priscila Lapa. “O ato não é algo isolado. Era previsível, pois tinha um ensaio acontecendo. O não reconhecimento (da derrota) de Bolsonaro já dava um clima assim, por mais que ele não tenha se posicionado diretamente a favor”, disse.

De acordo com o cientista político Alex Ribeiro, o ato de hoje é mais uma ferramenta utilizada pelo bolsonarismo. “É preciso ressaltar que os atos ocorridos em Brasília são extremistas. Os discursos e as formações de narrativas dos últimos anos levaram a essas movimentações antidemocráticas. O método do caso — do confronto com as instituições — é a característica principal do bolsonarismo e foi refletido nessas movimentações em Brasília. Esta corrente da extrema direita brasileira flerta com a ruptura. A movimentação em prol da democracia iria de encontro com seus discursos”, analisou.

Tanto Ribeiro quanto Marques atestam que os atos ocorridos trouxeram, ainda, desgaste para alguns nomes. Rodolfo Marques afirmou que um conjunto de fatores ajudou a criar todo o caos em Brasília. “Eles tiveram uma grande leniência do governador, que sabia que algo do tipo poderia acontecer, além das forças policiais, onde ainda existem grandes quantidades de simpatizantes do bolsonarismo. Sem falar da própria figura do Anderson Torres, que foi ex-ministro da Justiça de Bolsonaro”, lembrou.

“Para mim, o governador Ibaneis e o ministro Múcio estão em desgaste. O primeiro por ser responsável pelas forças de segurança em Brasília, e que não efetuou seus deveres diante dos atos. E o segundo por não ter compreendido ou analisado o ode aos atos antidemocráticos por atores das Forças Armadas”, ponderou Alex Ribeiro.

Para os três entrevistados, após a assinatura da intervenção federal realizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os próximos atos serão de repressão aos ataques golpistas nos próximos dias. “No meu entender, haverá uma radicalização das forças e das instituições, mas os bolsonaristas tampouco estarão dispostos a fazer qualquer gesto de ceder. A tendência é manter o ânimo exaltado nos próximos dias até que, de fato, as instituições consigam responder à altura”, ratificou Priscila Lapa.

Rodolfo Marques também acredita que os próximos dias serão de instabilidade política. “Depois que o presidente assinou a intervenção federal, ficou claro que Ibaneis é incapaz de assumir as funções que foram garantidas nas urnas. Penso que é necessário que haja essa ação do Estado, que os responsáveis sejam punidos e que haja uma identificação dos mandantes para que também sofram as consequências”, disse.

A avaliação de Alex Ribeiro é de que, diante do decreto de intervenção federal e das declarações do atual governo, o bolsonarismo perca alguma força em curto prazo. “Mas os seus discursos devem ainda ocorrer, mesmo que em episódios pontuais, dentro das instituições. Os atores políticos bolsonaristas ainda ocupam espaços no Legislativo, por exemplo. É uma ideologia que continuará no cenário político”, finalizou.

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