O que acontece com o caso Daniel Silveira? Entenda possíveis desdobramentos
Daniel Silveira foi condenado à prisão em abril deste ano por fazer ameaças e incitar violência contra ministros do STF
Apesar de ter sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 8 anos e 9 meses de prisão, além da perda do mandato e dos direitos políticos, o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) segue circulando pela Câmara dos Deputados e vem descumprindo ordens da Justiça. Após receber o indulto do presidente Jair Bolsonaro (PL) ele se tornou pivô de uma crise entre os Poderes em Brasília.
Como a defesa do deputado ainda pode recorrer ao próprio STF, a execução da pena ainda depende de algumas condições. Enquanto isso, Silveira continuará em liberdade e no exercício do seu mandato que vai até janeiro de 2023.
Daniel Silveira foi condenado à prisão em abril deste ano por fazer ameaças e incitar violência contra ministros do STF. A decisão foi tomada por dez votos a um.
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Daniel Silveira será preso?
A pena de 8 anos e 9 meses de prisão deve ser cumprida inicialmente em regime fechado, mas o deputado só deve ir para a cadeia após o fim do processo, o chamado trânsito em julgado. Assim, enquanto o STF não julgar todos os recursos que a defesa do parlamentar apresentar, ele seguirá em liberdade.
Ele poderá perder seu mandato como deputado?
O entendimento mais recente do STF é de que a perda de mandato também só acontece com o esgotamento do processo e precisa ser referendada pela Câmara. Mas como já houve decisões divergentes sobre o assunto no passado, há a possibilidade de a Corte rediscutir o tema.
Em 2018, por exemplo, a Segunda Turma decidiu não determinar a perda automática do cargo do então deputado federal Nelson Meurer (PP-PR), que se tornou o primeiro parlamentar condenado pelo STF no âmbito da Operação Lava Jato.
A decisão contrariou o que havia sido estabelecido seis anos antes, no julgamento do mensalão, quando a maioria dos ministros entendeu que um parlamentar condenado deveria ter o mandato cassado automaticamente.
Ele pode ficar inelegível?
Entre os ministros do STF, não há consenso sobre a inelegibilidade imediata ou não de Silveira, ou seja, a possibilidade de ele se candidatar nas eleições. Silveira tinha planos de concorrer ao Senado pelo Rio de Janeiro. O debate é se a coação a agentes do Estado durante o processo, pela qual ele foi condenado, se enquadra como um crime contra a administração pública. Nesse caso, a condenação estaria ao alcance da Lei da Ficha Limpa e a perda de direitos seria imediata. Há ministros, porém, que avaliam que a Ficha Limpa não se aplica nesse caso, e aí a perda de direitos ocorrerá apenas após o esgotamento dos recursos.
A defesa pode apresentar recursos?
O parlamentar pode recorrer da decisão e entrar com os chamados "embargos de declaração", quando pode buscar a redução da pena e discutir aspectos formais presentes no julgamento, apesar de não poder rever o mérito da condenação estabelecida.
O que pode ocorrer se Silveira descumprir ordens do STF?
Após descumprir o uso da tornozeleira eletrônica, além de violações a outras proibições como a de participar de eventos públicos e conceder entrevistas, o ministro Alexandre de Moraes determinou a aplicação de uma multa de R$ 405 mil ao deputado.
Com a aplicação da multa, Moraes determinou o bloqueio de bens nesse valor em suas contas. Na ordem, o ministro do STF afirmou que desde a decisão tomada em 30 de março, quando a maioria dos ministros decidiu abrir um inquérito por desobediência e aplicar uma multa diária de R$ 15 mil, "o réu desrespeitou flagrantemente várias das medidas".
Como o indulto do presidente Bolsonaro pode beneficiar Silveira?
A defesa do parlamentar protocolou no último domingo um pedido ao STF para que o processo contra ele seja arquivado argumentando que, com o decreto presidencial, a ação "perde o objeto", ou seja, não tem mais razão de existir. Porém, ministros da Corte ainda devem discutir se o perdão concedido por Bolsonaro ao deputado é válido mesmo antes do trânsito em julgado. Ações apresentadas por partidos da oposição questionam a validade do decreto. Uma ala do Supremo também avalia que a medida de Bolsonaro tem efeito restrito, sendo aplicada apenas para a pena de prisão e à multa. Desta forma, o parlamentar continuaria inelegível e teria seu mandato cassado.