Pedido de impeachment

Onze deputados de partidos da base de Lula pedem impeachment de Silvio Almeida 

Requerimento de Rodrigo Valadares conta com a adesão de 41 deputados; entre eles, integrantes do União Brasil, PSD, Republicanos e PP que, juntos, lideram oito ministérios

Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida  - Foto: Rafa Neddemeyer/Agência Brasil

O ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida se tornou alvo de um grupo de 41 deputados da oposição que pedem o seu impeachment.

A reação ocorre após a pasta que é titular ter confirmado que custeou uma das viagens de Luciane Barbosa Farias, mais conhecida como a "dama do tráfico amazonense".

Esposa de Clemilson dos Santos Farias, líder do Comando Vermelho, esteve em Brasília em ao menos duas ocasiões e participou de reuniões na Esplanada dos Ministérios. O caso foi inicialmente divulgado pelo jornal "O Estado de S. Paulo".

Luciane Barbosa Freitas esteve no Encontro de Comitês e Mecanismos de Prevenção e Combate à Tortura, que ocorreu entre os dias 6 e 7 de novembro deste ano.

Em nota ao GLOBO, a pasta afirmou que a dama do tráfico foi indicada pelo comitê estadual do Amazonas e que todos os convidados tiveram suas passagens e diárias pagas pelo ministério.

O requerimento que pede o impeachment de Silvio Almeida é de autoria de Rodrigo Valadares (UNIÃO-SE), parlamentar filiado a um partido da base de governo, mas que se identifica com a oposição. Em documento endereçado ao presidente da Câmara, Arthur Lira, Valadares justifica a motivação:

"Ao autorizar o dispêndio de recursos públicos com os gastos de viagem da Sra. Luciane Barbosa Farias, Silvio Almeida pôs o aparato estatal à disposição de indivíduo umbilicalmente ligado ao tráfico de ilícito drogas, aviltando a República, instrumentalizada que foi em prol do interesse de grupo criminoso representado por aquela pessoa", diz o oposicionista.

Entre os demais deputados que integram a lista de co-autores, há dez filiados a partidos da base de governo do Lula (PT): União Brasil (5), PSD (1), Republicanos (3) e PP (2) que, juntos, lideram oito ministérios. Apesar de serem de siglas da base do governo, este grupo se identifica com a oposição e raramente vota com o Planalto.

São eles: Rodrigo Valadares (UNIÃO-SE), Professor Paulo Fernando (Republicanos-DF), Evair de Mello (PP-ES), Messias Donato (Republicanos-ES), Coronel Assis (UNIÃO-MT),Sargento Fahur (PSD-PR), Rosangela Moro (UNIÃO-SP), Zucco (Republicanos-RS), Coronel Telhada (PP-SP), Alfredo Gaspar (União-AL), Zacharias Calil (União-GO).

Os deputados em questão pertencem a partidos com cargos no primeiro escalão do Planalto. No caso do União Brasil, Celso Sabino (Turismo) e Juscelino Filho (Comunicações) lideram ministérios. Já o PSD tem três pastas comandadas por Carlos Fávaro (Agricultura), Pesca (André de Paula) e Minas e Energia (Alexandre Silveira).

O Republicanos e o PP possuem um ministério cada — Portos e Aeroportos, sob o comando de Silvio Costa Filho e Esportes, com André Fufuca, respectivamente.

Entre os 30 deputados que integram a oposição, a maior parte (26) é do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Novo (2), Patriota (1) e Podemos (1) também tem integrantes entre os signatários.

No requerimento, Valadares afirma que a presença de pessoas associadas ao crime em eventos oficiais é inadmissível. Luciane Barbosa de Farias chegou a ser condenada a dez anos de prisão por ter desempenhado, de acordo com o Ministério Público, um papel essencial na ocultação de valores do tráfico.

Enquanto o marido coordenava as negociações do crime, Luciane é acusada de ter tido o papel de acobertar, o que fazia adquirindo veículos de luxo, imóveis e registrando empresas laranjas.

Entre elas, a Associação Liberdade do Amazonas, que foi fundada no ano passado com o intuito de defender os direitos dos presos. Contudo, um inquérito sigiloso da Polícia Civil do Amazonas alega que a ONG teria sido criada pelos criminosos para atender suas próprias necessidades e que o papel real seria "perpetuar a existência da facção criminosa e obter capital político para negociações com o Estado".

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Veja quem são os apoiadores:

O que diz o Ministério dos Direitos Humanos 
"Nos dias 6 e 7 de novembro de 2023, foi realizado o Encontro de Comitês e Mecanismos de Prevenção e Combate à Tortura, em Brasília.

O Comitê de Prevenção e Combate à Tortura, por meio do Ofício n° 233/2023, solicitou aos Comitês Estadual de Prevenção e Combate dos à Tortura dos estados que indicassem representantes para participação da atividade.

O Comitê estadual do Amazonas, por sua vez, indicou Luciane Barbosa Farias como representante a participar do evento. Todos os convidados tiveram suas passagens e diárias custeadas.

Importante destacar que os Comitês de Prevenção e Combate à Tortura possuem autonomia orçamentária e administrativa e o custeio de passagens e diárias foi realizado com recursos de rubrica orçamentária destinado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania ao Comitê, que observou as indicações dos comitês estaduais para a participação no encontro.

O Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (SNPCT) foi instituído pela Lei n° 12.847 de 2 de agosto de 2013, com o objetivo de fortalecer a prevenção e o combate à tortura, por meio de articulação e atuação cooperativa de seus integrantes, dentre outras formas, permitindo as trocas de informações e o intercâmbio de boas práticas.

O SNPCT é composto, de modo permanente, conforme dita a lei, pelo Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (CNPCT), pelo Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) e pelo Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça (DEPEN/MJSP)".

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