Ataques

Organizações repudiam ataques da Meta e de bolsonaristas a laboratório da UFRJ

As postagens usavam o nome do Desenrola, programa do governo federal voltado para a negociação de dívidas

Prédio da Universidade Federal do Rio de JaneiroPrédio da Universidade Federal do Rio de Janeiro - Foto: UFRJ

A Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós) divulgou nesta terça-feira um posicionamento em repúdio aos ataques de parlamentares conservadores e da empresa Meta, empresa controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp, ao NetLab, laboratório vinculado à Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O grupo de pesquisadores tem se dedicado a pesquisar desinformação sobre políticas públicas e expor a ausência de moderação de conteúdos danosos pelas principais plataformas digitais.

A Compós aponta que a investida de parlamentares alinhados ao bolsonarismo, por meio de convocação para audiência pública na Câmara, ocorreu após a identificação de postagens desinformativas sobre a tragédia causada pelas fortes chuvas no Rio Grande do Sul. Já a Meta reagiu ao fato de o NetLab ter revelado que a empresa, mesmo após advertência, manteve 1.800 posts publicitários contendo golpes na plataforma.

As postagens usavam o nome do Desenrola, programa do governo federal voltado para a negociação de dívidas.

A nota da Compós se soma ao posicionamento de 70 organizações do terceiro setor e centros de pesquisa ligados à Coalizão Direitos na Rede, que assinaram na semana passada uma nota de solidariedade aos pesquisadores da UFRJ.

A organização manifestou repúdio e indignação "às tentativas da empresa estadunidense Meta de desqualificar, por meio de seus advogados, o trabalho de pesquisa do NetLab, que evidenciou a permanência de anúncios fraudulentos nas plataformas da empresa, mesmo após ordem judicial solicitando remoção".

Reportagem do Núcleo, site com foco na cobertura de tecnologia e redes sociais, publicada no início do mês, revelou que a Meta usou seus advogados para tentar desqualificar pesquisadores da universidade que relataram falhas e negligência na moderação de anúncios na plataforma. Documentos obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) reveleram a investida após relatórios do NetLab serem usados pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), para notificar e depois multar a big tech em 2023 após anúncios fraudulentos envolvendo o Desenrola permanecerem no ar.

Em resposta à multa, segundo o site, a Meta acusou a equipe do laboratório da UFRJ de ser "enviesada" e não atuar "de forma técnica".

A Compós ressaltou que a big tech tentou desacreditar os estudiosos, tática recorrente contra pesquisadores dedicados ao tema da desinformação. "Cabe considerar que tais ataques e ações de constrangimento dizem respeito não apenas ao NetLab, mas a muitos pesquisadores das Ciências Humanas – e do campo da Comunicação, em particular, que têm se dedicado a investigar a desinformação", reforça a associação, em nota.

Em outra frente, o laboratório da UFRJ se tornou alvo de requerimento de uma audiência pública na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados, após alertar que, mesmo após assinar em conjunto com outras plataformas um acordo de cooperação para evitar a propagação de fake news sobre as enchentes no Rio Grande do Sul, a rede de compartilhamento de vídeos YouTube tem permitido que canais lucrem com conteúdos que fazem alegações falsas sobre a tragédia ou promovem discursos negacionistas sobre as mudanças climáticas. O levantamento foi divulgado pelo GLOBO.

Em artigo publicado no GLOBO na semana passada, o reitor da UFRJ, Roberto Medronho, apontou que a instituição foi surpreendida com o requerimento que "visa a questionar os resultados de pesquisas conduzidas pelo NetLab". "O requerimento leva professores à comissão com o objetivo de censurar a ciência no Brasil, criminalizando professores. Portanto, esse não é um ataque apenas à UFRJ, mas a toda a comunidade acadêmica brasileira", escreveu Medronho.

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