Para atrair Bolsonaro, Patriota expulsa Holiday e inicia expurgo de críticos do presidente
Justificativa oficial foi a recusa do vereador declarar apoio à candidatura do deputado Arthur Lira (PP-AL) para presidente da Câmara
Num sinal de que tenta se credenciar como opção de partido para Jair Bolsonaro, o Patriota começou o processo de expurgo de seus filiados que são críticos ao presidente.
O primeiro passo foi dado na última segunda-feira (29), com a expulsão do vereador Fernando Holiday pelo diretório municipal paulistano da legenda.
A justificativa oficial foi a recusa de Holiday de declarar apoio à candidatura do deputado Arthur Lira (PP-AL) para presidente da Câmara. Lira, que acabou eleito, era o nome apoiado por Bolsonaro.
"Eu discordo da decisão do partido porque eu estava no âmbito da minha liberdade de expressão", afirma o vereador.
Leia também
• Sem cargos oficiais, aliados disputam prestígio da família Bolsonaro no DF
• Forças Armadas devem começar a vacinar população, diz Bolsonaro
• Se acharem que devo vacinar, vacino, não tem problema, diz Bolsonaro em nova mudança de discurso
Na época, Holiday, que está no segundo mandato, declarou apoio à candidatura de Marcel Van Hattem (Novo-RS). A decisão, aliás, foi a responsável por selar sua saída do MBL (Movimento Brasil Livre), ao qual era ligado. O movimento apoiava Baleia Rossi (MDB-SP).
O processo foi iniciado no final de fevereiro, por uma filiada ao Patriota, e chegou até o diretório municipal. Embora tenha se defendido do processo de expulsão, o vereador não pretende recorrer da decisão e considera sua saída consumada.
O motivo para isso é que o apoio a Lira é apenas parte de um processo maior de distanciamento. "Já havia um movimento de desgaste de relação com o partido. Não vale a pena recorrer", diz.
A decisão do partido, segundo ele, mostra que o Patriota entrou de vez no campo bolsonarista. "A possibilidade de o Bolsonaro entrar no partido fez com que nossos caminhos acabassem se distanciando", afirma Holiday.
Além disso, o fato de ter sido expulso também dá ao vereador respaldo jurídico para se defender caso o partido tente tomar seu mandato= sob acusação de infidelidade. Holiday pode alegar perseguição e dificilmente perderá sua vaga na Câmara.
Bastante atuante nas redes sociais, Holiday pretende se manter crítico ao governo Bolsonaro. Ele deve começar a procurar uma nova legenda em breve.
Possibilidades são o Novo e um retorno ao DEM, partido pelo qual se elegeu para o primeiro mandato, em 2016. Seu projeto é se candidatar a deputado federal na eleição do ano que vem.
A saída de Holiday não deve ser a única do Patriota. No ano passado, o partido foi "colonizado" pelo MBL, que buscava uma sigla para lançar seus principais líderes na eleição municipal.
Os próximos devem ser o vereador Rubinho Nunes, também da Câmara paulistana, e o deputado estadual Arthur do Val, o "Mamãe Falei". Todos seguem bastante críticos a Bolsonaro.
Já a situação do Patriota é no mínimo curiosa. Até 2017, ele era chamado Partido Ecológico Nacional (PEN). Naquele ano, mudou de nome como uma das condições impostas por Bolsonaro, que estava no PSC, para assinar sua ficha de filiação.
No início de 2018, no entanto, o Patriota acabou levando um drible do capitão, que optou pelo PSL para ser candidato a presidente.
Agora que Bolsonaro está sem partido, e que a criação do Aliança Pelo Brasil parece ter naufragado, o Patriota se enche de esperança para finalmente abrigar o presidente, com quatro anos de atraso. Em mais uma piscadela para o presidente, adotou o slogan "Brasil acima de todos", praticamente igual ao dos bolsonaristas.
O presidente do diretório municipal do Patriota, Renato Battista, foi procurado pelo blog, mas não respondeu até a publicação desse texto.