Parlamentares pedem que Bolsonaro deixe diferenças políticas fora de discussão sobre vacina
Bolsonaro e Doria são desafetos políticos
O anúncio do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), de que não irá comprar as 46 milhões de doses da CoronaVac, vacina da farmacêutica chinesa Sinovac, levou parlamentares da oposição e situação a criticarem o presidente.
Para os parlamentares, este é o momento de o presidente deixar as diferenças políticas fora das tratativas de saúde pública.
Na terça-feira (20), em reunião com governadores comandada por João Doria (São Paulo), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou o acordo para a compra e que iria incorporar a vacina ao Programa Nacional de Imunização e chamou o imunizante produzido sob a batuta do tucano de "vacina do Brasil".
Na manhã desta quarta (21), Bolsonaro usou uma rede social para desautorizar o ministro. Bolsonaro e Doria são desafetos políticos, e o fato de o governo paulista ter fechado convênio para produzir a vacina chinesa e de o governofederal ter acordado com a farmacêutica AstraZeneca a fabricação da vacina de Oxford, também contra a Covid, acirrou a disputa.
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O líder da Rede no Senado, Randolfe Rodrigues (AP), que acompanhou a reunião, considerou como inaceitável a manifestação do presidente. Randolfe tem sido um dos principais aliados de Doria junto ao Congresso em defesa da vacina.
"É inaceitável qualquer busca ou tentativa de politizar. Todos sabem da política de negação do presidente Bolsonaro, mas eu rogo ao presidente para que nos unamos neste momento. Não é a política que está em jogo, é a vida de todos".
Além das divergências com João Doria, de quem também tem desacordo sobre a obrigatoriedade da aplicação da vacina, Bolsonaro e seu entorno travam uma guerra ideológica com a China, rival dos Estados Unidos, país com o qual o Brasil é alinhado.
Considerado um dos principais aliados de Bolsonaro no Senado, o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), disse que a posição do presidente não faz "o mínimo sentido". "Ontem comemoramos e hoje acontece isso. Eu espero que ele [Bolsonaro] esteja se referindo apenas ao lote inicial, porque isso que ele falou não faz o mínimo sentido", disse.
O senador foi um dos que acompanhou a reunião entre Pazuello e os governadores, e havia comemorado o anúncio do ministro. "Todos queremos a vacina, esse é sonho de todos nós. Espero que essa batalha do presidente não tome posições políticas".
Líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA), considerou a declaração do presidente como resultado de insegurança política. Na análise do parlamentar, Bolsonaro precisa deixar as divergências políticas fora da questão de saúde pública."O presidente está brincando com a vida do povo brasileiro. É um governo inseguro, e está fazendo a pior coisa que ele poderia fazer que é política na saúde, nesta queda de braço com o Doria [João]. É um absurdo o que ele está fazendo, inconsequente".
No Senado, dois parlamentares estão internados devido à Covid-19. Arolde de Oliveira (PSD-RJ) e Eduardo Braga (MDB-AM). Oliveira está em situação de saúde considerada mais delicada. Braga apresenta bom quadro de saúde, segundo assessores.
Na Câmara, a decisão do presidente da República de suspender a compra de doses da vacina também foi criticada.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), disse que a posição do presidente da República é criminosa. "A decisão de interromper a compra da vacina chinesa é criminosa! Esse governo tomou essa decisão motivado por qualquer coisa, menos pensando na saúde da população", escreveu em uma rede social.
Érika Kokay (PT-DF) considerou como inaceitável a politização do tema. "É inaceitável Bolsonaro ideologizar e politizar o debate sobre a vacina chinesa para agradar seus seguidores. Quem tratou o povo brasileiro cobaia foi o Bolsonaro. O presidente nunca se guiou pela ciência. Sempre agiu como charlatão, vendendo solução milagrosa".