Pernambuco já foi governado por mulher: veja quem foi a pioneira Brites de Albuquerque
Será a primeira vez que o Estado elege uma governadora por voto direto
Pernambuco vive um segundo turno histórico de eleição com um resultado nunca visto: será a primeira vez que o Estado elege por voto direto uma mulher como governadora. Marília Arraes (Solidariedade) ou Raquel Lyra (PSDB) ou assumirá, em 1º de janeiro de 2023, a chefia do Poder Executivo.
Mas Pernambuco já foi governado por mulher: a esposa de Duarte Coelho, Brites de Albuquerque, e a atual vice-governadora Luciana Santos já assumiram o comando do Estado.
Brites de Albuquerque era esposa do donatário da então Capitania de Pernambuco, Duarte Coelho. Ela, inclusive, é conhecida como a primeira governante das Américas. Brites ocupou o cargo pela primeira vez em 1553, aos 35 anos, e se tornou regente durante sete anos (1554-1561) depois da morte do marido e antes da posse do seu filho.
Atual vice-governadora, Luciana Santos também já assumiu a liderança do Palácio do Campo das Princesas em razão de ausências do governador Paulo Câmara no seu segundo mandato, entre 2019 e 2022. Nem Brites nem Luciana, no entanto, foram eleitas pelo voto popular como governante, o que reforça o caráter inédito da eleição de Raquel ou de Marília.
Para a historiadora Gizelly Medeiros, Brites talvez seja uma das grandes injustiçadas da história de Pernambuco. "Ela é pouquíssimo mencionada. Na realidade, os livros antigos da história de Pernambuco tratam muito pouco dela", argumenta
Gizelly explica que Brites foi "extremamente importante" para a então Capitania de Pernambuco. A esposa de Duarte Coelho, inclusive, chefiou a porção de terra por cerca de 30 anos - Duarte Coelho exerceu a mesma função por 18. "Ou seja, ela comandou mais tempo e não é reconhecida, não é muito mencionada nos livros de História", completa a historiadora.
Brites assumiu o comando da capitania pela primeira vez quando Duarte Coelho precisou regressar a Portugal. Ela governou com a ajuda de seu irmão, Jerônimo de Albuquerque. "Ela recebe depois o título de capitoa. Duarte Coelho volta para Portugal em 1553 e, um ano depois, ele morre. Quando ele morre, Brites assume a capitania até a maioridade dos filhos dela", prossegue Gizelly. O filho Duarte Coelho de Albuquerque então assume a capitania, mas morre em 1578 na Batalha de Alcácer-Quibir, no norte da África. Em seguida, Brites reassume a Capitania de Pernambuco.
"Juntando esse tempo que ela comandou durante a menor dade do filho e depois, quando ele morre, são cerca de 30 anos", detalha Gizelly.
Historiadores da época perceberam a estrutura que Brites de Albuquerque deixou em Pernambuco. "Durante o governo dela, Pernambuco se tornou uma capitania extremamente próspera. O que a gente conhece da riqueza de Pernambuco naquele período do início da colonização é a maior parte do governo dela", completa a historiadora. Gizelly cita ainda que Brites de Albuquerque ficou conhecida como a "mãe dos pernambucanos" durante o seu governo.
Gizelly cita a importância de uma mulher assumir novamente - pela primeira vez por voto direto - a chefia do Poder Executivo em Pernambuco. "Já tem 90 anos que as mulheres participam da política no Brasil. E o fato de uma mulher ainda não ter comandado o nosso Estado acaba deixando Pernambuco uma situação meio atípica. Nós, que sempre fomos o Estado do pioneirismo, acabamos ficando atrás nessa situação", observa a historiadora.
Gizelly ainda traça um paralelo histórico ao citar o momento em que Brites de Albuquerque comandou Pernambuco com o que o Estado passa e terá como desafios em uma futura gestão de Marília Arraes ou Raquel Lyra.
"Ela [Brites] comanda Pernambuco num momento de uma certa instabilidade, quando o marido dela volta pra Portugal e ela tem que comandar tudo aqui. De muita instabilidade e bem parecido com o que a gente está vivendo agora: um período que a economia precisa avançar, a estrutura política precisa ser organizada e a paz e a ordem precisam ser mantidas. E foi uma coisa que Brites conseguiu fazer lá atrás, então é muito legal. A gente está vivendo nesse nesse contexto, nesse momento histórico, em uma situação um pouco parecida com que a gente vivenciou no século XVI e é excepcional, é maravilhoso. Já passou da hora", arremata Gizelly.