ELEIÇÃO

Perto de voltar ao PT como vice de Boulos, Marta já atacou o partido por ''roubalheira''

Ex-prefeita de São Paulo deixou a sigla em 2015, após 33 anos na legenda, e deu voto favorável ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff

Marta SuplicyMarta Suplicy - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Nove anos após a desfiliação do PT, a ex-prefeita Marta Suplicy (sem partido) aceitou o convite da sigla para ser pré-candidata a vice de Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pela Prefeitura de São Paulo. A ex-ministra dos governos Lula e Dilma deixou o partido em 2015 sob a alegação, expressa em carta na qual anunciou a desfiliação, de que o PT era protagonista de um dos "maiores escândalos de corrupção" que o Brasil já havia enfrentado.

No ano seguinte, quando era senadora pelo MDB, deu voto favorável ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, substituída pelo emedebista Michel Temer.

Atualmente secretária de Relações Internacionais do prefeito Ricardo Nunes (MDB), Marta se encontrou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília nesta segunda-feira (8), onde recebeu o convite para se filiar novamente ao PT e ser vice de Boulos.

Marta se filiou ao PT em 1981 e foi prefeita de São Paulo de 2001 a 2004. Na época, ela reforçou a ligação com o partido ao se denominar "dona Marta do PT", em referência ao apelido dado pelo oponente Paulo Maluf no segundo turno do pleito. Marta tentou a reeleição, mas foi derrotada por José Serra (PSDB).

Posteriormente, a ex-prefeita foi eleita senadora e atuou como ministra do Turismo (2007-2008) e da Cultura (2012-14). Após deixar a pasta, Marta reassumiu o mandato no Senado, que terminou em janeiro de 2019.

Em 2015, Marta irritou integrantes da sigla por ter se referido ao escândalo da Petrobras como "roubalheira" em uma coluna publicada no jornal Folha de S. Paulo. Na ocasião, a ex-prefeita também criticou a então presidente Dilma Rousseff (PT).

Em um cenário pós-eleitoral, Marta ainda ratificou as acusações da oposição, em especial do senador derrotado nas urnas Aécio Neves (PSDB-MG), de que a petista mentiu durante a campanha para se reeleger.

"Afunda-se o país e a reeleição navega num mar de inverdades, propaganda enganosa cobrindo uma realidade econômica tenebrosa, desconhecida pela maioria da população", escreveu no texto para a Folha.

Marta deixou o PT cerca de uma mês após o ataque púbico. Na carta de desfiliação, a então senadora paulista voltou a criticar a sigla na qual militou por três décadas. No texto ela afirma que é de “conhecimento público” que o partido tem sido o “protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou”.

“Mesmo após a condenação de altos dirigentes, sobrevieram novos episódios a envolver a sua direção nacional. No meu sentir e na percepção de toda a nação, os princípios e o programa partidário do PT nunca foram tão renegados pela própria agremiação, de forma reiterada e persistente”, dizia Marta no documento, ao citar que os crimes investigados geram não só “indignação”, mas também um “grande constrangimento”.

Fora do partido, Marta votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma em 2016. No mesmo ano, afirmou nas redes sociais que o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), foi o “pior prefeito” da história de São Paulo.

Acordo indefinido
Boulos afirmou nesta terça-feira (9) que não conversou com Marta sobre ela compor sua chapa nas eleições. A decisão sobre a definição de sua vice deve ser tomada exclusivamente pelo PT, afirmou ele.

— Vamos dar tempo ao tempo. O processo da definição da vice está sendo conduzido pelo Partido dos Trabalhadores. Não conversei com a Marta após o encontro dela com o presidente Lula — afirmou Boulos.

Nos bastidores, dirigentes do PT atribuem o convite pessoal do presidente da República ao fato de Nunes ter se aproximado do ex-presidente Jair Bolsonaro. Dentro do PSOL, o nome da ex-prefeita, depois de ela ter apoiado o impeachment de Dilma Rousseff e se aliado ao ex-presidente Michel Temer, causa desconforto.

No entanto, o acordo entre PSOL e PT, selado em 2022 quando o líder sem-teto se retirou da disputa pelo governo de São Paulo para se aliar a Fernando Haddad — em troca do apoio de Lula a Boulos em 2024 —, é que os petistas teriam carta branca para escolher o nome para a vaga. Marta surgiu mais como alguém da vontade de Lula do que de uma construção coletiva na sigla que comanda o Planalto.

Reação de Nunes
Diante da informação de que Marta seria vice de Boulos numa chapa para concorrer às eleições municipais, Nunes marcou um encontro com a secretária no fim da tarde desta terça-feira. Segundo aliados, o emedebista deve demitir Marta da pasta que ela ocupa há três anos. O Globo apurou com dois aliados próximos do emedebista que o ato de exoneração foi assinado pelo prefeito na tarde desta terça-feira (9).

O motivo alegado por ele é a "quebra de confiança" da secretária. Segundo aliados, os dois marcaram de conversar pessoalmente.

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