Peru elege presidente entre a direitista Fujimori e o esquerdista Castillo
Keiko, de 46 anos, defende o livre mercado, enquanto Castillo, de 51, apoia um papel econômico ativo do Estado.
Os peruanos vão às urnas, neste domingo (6), votar entre a direitista Keiko Fujimori e o esquerdista Pedro Castillo, dois candidatos à Presidência com projetos antagônicos, com o dilema de escolher "o mal menor".
Os mais de 11.000 centros de votação abriram as portas às 07h00 (9h00 no horário de Brasília) para receber durante 12 horas - quatro a mais do que o habitual devido à pandemia de coronavírus - os votos de 25 milhões de cidadãos, de acordo com o gabinete eleitoral nacional.
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O professor de escola rural e a filha do ex-presidente detido Alberto Fujimori chegam tecnicamente empatados para esta votação, depois de uma campanha marcada pela incerteza e pelo agravamento dos medos.
Ambos os candidatos passaram as últimas horas com suas famílias. Na quinta-feira, encerraram suas campanhas em Lima em comícios com centenas de partidários aglomerados, apesar do agravamento da pandemia no Peru, que esta semana teve a maior taxa de mortalidade do mundo.
Keiko, de 46 anos, defende o livre mercado, enquanto Castillo, de 51, apoia um papel econômico ativo do Estado.
A candidata, que esteve 16 meses em prisão preventiva por causa do escândalo de corrupção da empreiteira brasileira Odebrecht, afirma que a vitória do adversário transformaria o país andino em uma espécie de Coreia do Norte ou de Venezuela, mas com ela avançaria para o "primeiro mundo".
As últimas pesquisas mostram que os dois estão virtualmente empatados, com 18% de indecisos.
O economista e ex-candidato presidencial Hernando de Soto assegurou que nenhum dos candidatos esclareceu se o Peru "vai ser uma cabeça de ponte para um capitalismo popular e renovado ou se vai ser uma cabeça de ponte para o comunismo".
Mas o debate no Peru não só tem a ver com uma luta entre a direita e a esquerda, mas também entre a capital e as províncias, entre o status quo e a mudança.
"Exacerbação de medos"
Keiko, com seu reduto eleitoral em Lima, carrega o polêmico legado de seu pai, cuja década no poder (1990-2000) foi marcada por autoritarismo, abusos dos direitos humanos e corrupção. Além disso, ela é criticada por ter alimentado a instabilidade que o Peru vive desde 2016, que levou o país a ter três presidentes em cinco dias em novembro de 2020.
Castillo, com reduto no "Peru profundo", nas províncias do interior, propõe convocar uma Assembleia Constituinte, enquanto Keiko defende a Carta Magna vigente, promulgada por seu pai em 1993 e que garante o liberalismo econômico.
Seus adversários tentam vincular Castillo ao braço político do Sendero Luminoso, mas ele lembra que como membro das "rondas camponesas" armadas resistiu às incursões da guerrilha maoísta em sua Cajamarca (norte) natal nos anos do conflito armado interno (1980-2000).
"A utilização da estratégia de exacerbação dos medos do contrário marcou muito fortemente este período" eleitoral, afirma Smith, acadêmica da Universidade Central do Chile.
Os dois candidatos coincidem em alguns temas: são antiaborto, defendem a família tradicional, não dão importância aos direitos da comunidade LGTBI e rejeitam a abordagem de gênero na educação.
"Um modelo ou outro"
A tensão da campanha aumentou há uma semana após o massacre de 16 pessoas em dois bares em um vale de cultivo de coca, atribuído a remanescentes do Sendero Luminoso, o que fez evocar os anos da violência armada.
"A sociedade peruana luta por estabelecer um modelo ou outro, o modelo que conhecemos em que tudo é regulado pelo mercado, e do outro lado vem um desejo porque se estabelece um novo Estado peruano", diz à AFP o analista Hugo Otero, que foi assessor do ex-presidente Alan García.
"Não acho que essa luta feroz acabe [no domingo]. O [dia] 6 de junho [data do segundo turno] é uma etapa desse processo, que vai continuar", acrescenta.
Um terço de pobres
Quem vencer as eleições enfrentará uma situação especialmente complicada pela covid-19, que deixou 1,9 milhão de casos e 69.000 mortes no Peru.
Dois milhões de peruanos perderam seus empregos durante a pandemia e três milhões se tornaram pobres, e por isso um teço dos 33 milhões de habitantes vive na pobreza, segundo dados oficiais.
O vencedor não terá, ainda, um Congresso aliado para gerenciar esta emergência.
Mais de 25 milhões de cidadãos são convocados a comparecer às urnas em eleições com voto obrigatório. Os primeiros resultados oficiais serão conhecidos por volta da meia-noite local de domingo (02h de Brasília).