Investigação

PF: Abin produziu relatório sobre fake news para minar confiança nas urnas durante governo Bolsonaro

Levantamento informal foi solicitado no WhatsApp pelo ex-diretor-geral da Abin Alexandre Ramagem; agência diz colaborar com as investigações

AbinAbin - Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Mensagens trocadas entre oficiais da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) revelam que o órgão produziu um relatório informal, enviado por WhatsApp, sobre notícias falsas das redes sociais com ataques às urnas eletrônicas. A determinação para cumprir essa missão, segundo os diálogos, teria partido do então chefe do órgão Alexandre Ramagem, hoje deputado federal pelo PL e homem de confiança da família Bolsonaro.

Em julho de 2020, apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro passaram a difundir notícias falsas envolvendo a empresa Positivo Tecnologia. A fabricante de computadores e softwares sediada em Curitiba (PR) havia vencido uma licitação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para fornecer novas urnas eletrônicas para as eleições.

Nas postagens, bolsonaristas passaram a relacionar um dos fundadores da Positivo, o senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), que deixou a companhia em 2012, com o ex-ministro da Justiça Sergio Moro e uma empresa chinesa. As publicações especulavam, sem fundamento, a relação da Positivo Tecnologia com a esquerda e o PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Fundada na década de 1980, a Positivo Tecnologia é a principal fabricante de computadores do país e fornece equipamentos para diferentes órgãos públicos. Além do TSE, a empresa tem contratos com governos estaduais do Ceará e do Rio Grande do Sul, entre outros, e no passado também firmou parceria com a Agência Nacional de Tecnologia (Anatel) para fornecer notebooks para alunos e professores.

Apesar das informações falsas, agentes da Abin foram acionados para produzir um relatório sobre a Positivo e o senador Oriovisto. Em uma mensagem de WhatsApp, um oficial de inteligência encaminha para um colega da Abin um post enviado pelo "DG" (diretor-geral da agência Alexandre Ramagem) e acrescenta: “Para análise da situação da empresa e a possibilidade de interferência”.

No mesmo período, outro post reproduzindo informações falsas sobre a empresa e o parlamentar foi encaminhado para um oficial da Abin produzir um relatório. No diálogo, o integrante da agência faz uma observação com viés político: “Lembrando que a Positivo sempre foi vermelha. Chegou a oferecer a Lula, quando presidente, computadores pela metade do preço, a fim de levar informática às escolas. Mas a intenção era outra

As informações levantadas pelos oficiais de inteligência, no entanto, não indicaram elementos que pudessem corroborar a tese bolsonarista difundida nas redes, limitando-se a compilar dados públicos sobre o tema. No breve relatório enviado pelo WhatsApp, o senador Oriovisto é descrito como um integrante de um partido “atualmente de centro direita com origens no movimento trabalhista (esquerda)” e que “na juventude participou de movimento estudantil e organização marxista, sendo preso pelo regime militar”.

Para a Polícia Federal, que investiga o caso, “o evento relacionado aos ataques às urnas, portanto, reforça a realização de ações de inteligência sem os artefatos motivadores, bem como acentuado viés político em desatenção aos fins institucionais da Abin”.

A agência de inteligência afirmou que “continua à disposição das autoridades competentes no âmbito das investigações, que atualmente correm sob sigilo, sobre fatos ocorridos há pelo menos três anos, ou seja, em gestões passadas” e que “os casos apurados ocorreram de forma paralela ao trabalho legítimo e republicano” do órgão. O deputado Alexandre Ramagem não se manifestou.

Procurado, Oriovisto disse que lamenta ter sido alvo da Abin e destaca que, na época que a Positivo venceu a licitação do TSE para fornecer urnas, já havia deixado a empresa havia oito anos. O parlamentar lembra ainda que a companhia tem capital aberto e está na Bolsa de Valores desde 2006, não sendo segredo quem são seus acionistas.

— É uma tolice. Tenho 78 anos e estão falando de 1968, quando fiz parte do movimento estudantil. Isso, para mim, atesta a incompetência do serviço de informação, porque dão informação errada a quem estão dando — afirmou.

A Positivo afirmou em nota que desconhece qualquer monitoramento ou investigação sobre a empresa por parte da Abin. ˜Como é de conhecimento público, os contratos com o TSE foram firmados por meio de licitações para fornecimento de urnas eletrônicas”, afirma a companhia.

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