PF apura relato de testemunha sobre encontro de homem-bomba na madrugada de ataque
Depoimento de morador de rua foi colhido pelos agentes na sexta-feira; polícia investiga se autor de ataque teve ajuda
Uma testemunha ouvida pela Polícia Federal na sexta-feira relatou ter ouvido uma conversa de Francisco Wanderley Luiz, o homem-bomba que lançou explosivos em direção ao Supremo Tribunal Federal, com outro homem na madrugada do dia do ataque.
O diálogo foi relatado pelo morador de rua Ailton Bezerra, de 56 anos, e, segundo ele, ocorreu no estacionamento IV da Câmara dos Deputados, onde Francisco deixou seu carro e também mantinha um trailer alugado, nas imediações da Praça dos Três Poderes.
O depoimento Bezerra, que costuma lavar carros no estacionamento da Câmara, é um dos elementos que a PF reúne para apurar se Francisco agiu sozinho ou teve alguma ajuda para tentar realizar um ataque contra o STF.
Ao Globo, Bezerra afirmou ter dito aos agentes da PF que ouviu Francisco chegar de carro no estacionamento na madrugada do dia 13, dia dos ataques, por volta da 0h30. Minutos depois, um homem fala com ele: "A porta está aberta". Em seguida, o homem-bomba responde: "Vamos subir para cá".
Bezerra não soube dizer, contudo, se os dois chegaram juntos. O homem em situação de rua disse ter conhecido Francisco, a quem chamava de "gaúcho", há alguns meses e que ele ia frequentemente ao local, onde ele alugou um trailer.
— Ele encostou o carro e ficou 10 minutos de silêncio, sem ninguém falar nada. Aí tinha outra pessoa que abriu a voz falando: ‘A porta está aberta’. Aí o gaúcho falou: ‘Vamos subir para cá’. Quer dizer, sair fora de onde eles estavam e ir para frente. Aí eu vi que era o gaúcho. Mas eu não vi quem é que estava com ele, só escutei a voz. Tinha uma pessoa com ele — contou Ailton, conhecido na região como "Nasa".
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Segundo ele, Francisco passou a noite no trailer estacionado no local. Imagens do circuito interno da Câmara mostram que Francisco acessou o prédio do Anexo IX da Casa às 8h15. Segundo a assessoria do Legislativo, ele foi ao banheiro e saiu do local na sequência.
Bezerra disse ter contado à PF ter visto Francisco de volta ao seu carro por volta das 8h30, mas que não viu mais ninguém com ele. Por volta das 11 horas, de acordo com ele, o homem saiu e retornou às 18 horas. Foi então que pegou uma mochila dentro do veículo e foi em direção à Praça dos Três Poderes dizendo que iria a um evento.
No dia do atentado, o GLOBO conversou com Bezerra. Na ocasião, ele contou ter visto Francisco saindo com a roupa verde, com corações, e se dirigindo rumo à Praça dos Três Poderes. Ao ver o carro de Francisco pegando fogo, Bezerra chegou a enviar áudios o alertando sobre o incêndio, mas não teve resposta.
— Ali [ele não falava] com ninguém. Ele só conversava com o pessoal dos quiosques, puxava conversa com eles — disse. O estacionamento externo do anexo IV da Câmara possui barracas, trailers e alguns quiosques onde comerciantes vendem comida.
Bezerra contou ainda que já viu Francisco dormindo algumas vezes no trailer. Ele alugava também uma casa em Ceilândia, a 32 quilômetros da Praça dos Três Poderes, onde a Polícia Militar encontrou mais dois explosivos.
A polícia apura se Francisco agiu sozinho ou se outras pessoas sabiam ou mesmo apoiaram o seu plano. A corporação também investiga se há elo entre ele e grupos radicais com o objetivo de atentar contra o Estado democrático de Direito, além dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, falou sobre o assunto na quinta-feira.
— A investigação dirá se essa pessoa agiu isoladamente, se houve apoio financeiro ou logístico — disse.
A PF está ouvindo testemunhas que tiveram contato com Francisco na véspera do atentado. Além de Bezerra, o dono da loja que vendeu fogos de artifícios para Francisco depôs aos agentes. Ele contou que o homem-bomba gastou R$ 1,5 mil com os artefatos, comprados uma semana antes.
Também prestaram depoimento seguranças do STF que tiveram contato com Francisco antes de ele morrer ao explodir uma bomba na própria cabeça.