Política

PF diz que vai apurar 'eventual interferência' em investigação sobre Milton Ribeiro

Delegado do caso escreveu a colegas reclamando que ex-ministro não foi transferido para Brasília, como determinado pela Justiça, e que isso teria atrapalhado inquérito

Ministro da Educação, Milton RibeiroMinistro da Educação, Milton Ribeiro - Foto: Gustavo Sales/Câmara dos Deputados

A Polícia Federal determinou abertura de apuração sobre "eventual interferência" no inquérito contra o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro. A suspeita veio a público depois que o delegado da Polícia Federal Bruno Calandrini escreveu uma mensagem a colegas dizendo ter havido "interferência" na operação deflagrada na quarta-feira (22). Ele citou como exemplo o fato de, após a prisão, o ex-ministro não ter sido transferido de São Paulo para a carceragem da PF no Distrito Federal, como determinado pela Justiça.

A mensagem foi revelada pelo jornal "Folha de S.Paulo" e obtida pelo GLOBO. Em nota divulgada nesta quinta (23), a PF informou que determinou a instauração de investigação "para verificar a eventual ocorrência de interferência, buscando o total esclarecimento dos fatos".

No texto, Calandrini diz que Milton Ribeiro "foi tratado com honrarias não existentes na lei" e reclamou que a transferência para o DF não foi executada. Fontes da PF afirmam que não houve planejamento prévio para realizar a transferência dele e dizem que, por isso, a ação acabou não sendo cumprida. A decisão do juiz autorizando as prisões foi proferida na segunda-feira e a ação foi executada na quarta, tempo considerado rápido para os padrões operacionais da PF.

"O deslocamento de Milton para a carceragem da PF em SP é demonstração de interferência na condução da investigação, por isso, afirmo não ter autonomia investigativa e administrativa para conduzir o inquérito policial deste caso com independência e segurança institucional", escreveu.

Calandrini afirmou na mensagem que foi informado que, "por decisão superior, não iria haver o deslocamento de Milton Ribeiro para Brasília". Para ele, isso significa que a investigação foi "obstaculizada".

"O principal alvo, em São Paulo, foi tratado com honrarias não existentes na lei, apesar do empenho operacional da equipe de santos que realizou a captura de Milton Ribeiro, e estava orientada, por este subscritor, a escoltar o preso até o aeroporto em São Paulo para viagem a Brasília", escreveu.

Estava prevista para esta quinta-feira a realização de audiência de custódia com Milton Ribeiro perante o juiz Renato Borelli, da 15ª Vara Federal do Distrito Federal. Por isso, o juiz havia determinado sua transferência para o DF. Como não foi realizada, ele faria a audiência por videoconferência.

Nesta audiência, o juiz apenas questiona se houve algum abuso durante o cumprimento da prisão e verifica as condições do alvo preso, sem adentrar no mérito dos fatos investigados. Participam, além do magistrado, um membro do Ministério Público e seus advogados, sem a presença de representantes da polícia. O evento, entretanto, foi cancelado depois que o desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, determinou a soltura de Ribeiro e dos demais alvos.

Leia a íntegra da mensagem do delegado

"Muito obrigado a todos pelo empenho na execução da Operação Acesso Pago.

A investigação envolvendo corrupção no MEC foi prejudicada no dia de ontem em razão do tratamento diferenciado concedido pela PF ao investigado Milton Ribeiro.

Vejo a operação policial como investigação na essencia e o momento de ouro na produção da informação/prova.

O deslocamento de Milton para a carceragem da PF em SP * é demonstração de interferência na condução da investigação, por isso, afirmo *não ter autonomia investigativa e administrativa para conduzir o Inquérito Policial deste caso com independência e segurança institucional.

Falei isso ao Chefe do CINQ ontem, após saber que, por decidão superior, não iria haver o deslocamento de Milton Ribeiro para Brasília, e, manterei a postura de que a investigação foi obstaculizada ao se escolher pela não transferência de Milton à Brasília à revelia da decisão judicial.

As equipes de Gyn, Brasília, Belém e Santos, que cumpriram a missão de ontem, trabalharam com obstinação nas ruas e no suporte operacional, um trabalho hercúleo para o cumprimento dos mandados durante a Operação Acesso Pago, literalmente se esforçaram 24/7 e foram aguerridos em capturar todos os alvos. Faço referência especial às equipes de GYN que, mesmo após a prisão, ainda escoltaram os presos via terrestre, para a SR/PF/DF, incontinenti.

No entanto, o principal alvo, em São Paulo, foi tratado com honrarias não existentes na lei, apesar do emoenho operacional da equipe de Santos que realizou a captura de Milton Ribeiro, e estava orientada, por este subscritor, a escoltar o preso até o aeroporto em São Paulo para viagem à Brasília,

Quantos presos de Santos, até ontem, foram levados para a carceragem da SR/PF/SP?

É o que tinha a manifestar em lealdade a vocês que cumpriram a missão de ontem com o espírito do verdadeiro policial federal."

Veja também

Tabata compara Marçal a 'jogo do tigrinho' e diz que candidato tem promessas fáceis
ELEIÇÕES 2024

Tabata compara Marçal a 'jogo do tigrinho' e diz que candidato tem promessas fáceis

Boulos faz ofensiva judicial contra perfis de 'cortes' de Marçal
ELEIÇÕES EM SÃO PAULO

Boulos faz ofensiva judicial contra perfis de 'cortes' de Marçal

Newsletter