PF ouve chefe de gabinete de Alcolumbre em operação que apura esquema suspeito de desviar emendas
Ana Paula Magalhães é citada em mensagem de empresários presos em operação na semana passada; a servidora e o senador não são investigados
A Polícia Federal começou nesta semana a colher depoimentos que fazem parte da Operação Overclean, que investiga um suposto esquema de devio de recursos públicos, incluindo de emendas parlamentares, por meio de contratos com prefeituras. Ao todo, 12 pessoas já foram ouvidas.
Entre os que ainda devem ser interrogados está Ana Paula Magalhães de Albuquerque Lima, chefe de gabinete do senador Davi Alcolumbre (União-AP), que é o favorito na disputa para assumir o comando do Senado em 2025.
A informação foi revelada pela CNN e confirmada pelo Globo. A servidora e o senador não são investigados e não foram alvo de mandados na operação da PF, deflagrada na última semana. A reportagem tentou contato com Ana Paula por meio do gabinete, mas ela não respondeu. Alcolumbre também não retornou aos contatos.
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O nome de Ana Paula aparece no relatório da PF em uma troca de mensagens entre empresários suspeitos de liderar o suposto esquema de corrupção e lavagem de dinheiro. Um deles envia o contato dela salvo como "Ana Paula Davi" ao outro quando tratam sobre uma "transferência para o programa" e uma "proposta de proponente de emenda parlamentar" de projetos do Ministério do Desenvolvimento e Integração Regional, que é comandado por Waldez Goes (PDT), aliado de Alcolumbre.
A PF indica que Ana Paula talvez seja "alguém com acesso" à tramitação de emendas parlamentares. O Globo apurou que é ela quem organiza as indicações dos recursos no gabinete de Alcolumbre.
"Tendo em vista que Ana Paula é servidora do legislativo federal, talvez ela fosse alguém com acesso aos trâmites e capaz de orientá-los para conseguir vincular uma proposta parlamentar ao programa do Ministério do Desenvolvimento e Integração Regional", diz a representação da PF.
Os investigadores também destacaram no relatório troca de mensagens em que os investigados falam sobre a intermediação de contratos públicos no Rio de Janeiro e Amapá. Num primeiro momento, a PF focou em supostos desvios de recursos públicas em projetos do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) da Bahia.
Lanchas e aeronaves
A Polícia Federal informou nesta semana o total de bens e valores apreendidos com os alvos da Operação — R$ 3,4 milhões em dinheiro vivo, 23 carros de luxo, 3 lanchas, 3 aeronaves, 6 imóveis de alto padrão, uma caixa de joias e 38 relógios, alguns valendo cerca de R$ 800 mil. Ao todo, 16 pessoas estão presas preventivamente por determinação da Justiça Federal da Bahia, que também ordenou o sequestro de 162,3 milhões na conta dos investigados.
Parte do dinheiro apreendido — R$ 1,5 milhão — foi encontrado durante uma ação monitorada da PF, que acompanhou o voo de um jatinho com destino a Brasília. Segundo a PF, o valor transportado tinha origem ilícita e seria destinado ao pagamento de propina na capital federal, conforme a decisão que autorizou a operação. Na aeronave, foi apreendida ainda uma planilha contendo relação de contratos e valores totalizando mais de R$ 200 milhões em contratos suspeitos no Rio de Janeiro e no Amapá.