Movimentação financeira

Polícia Federal pede investigação de ex-mulher de Bolsonaro por compra de mansão

Defesa de Ana Cristina Valle diz que não tem conhecimento sobre o fato

Ana Cristina Valle, ex-esposa de Jair BolsonaroAna Cristina Valle, ex-esposa de Jair Bolsonaro - Foto: Reprodução/Redes Sociais

A Polícia Federal solicitou à Justiça Federal a abertura de uma investigação para apurar uma movimentação financeira realizada por Ana Cristina Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, para comprar uma mansão em uma área nobre de Brasília.

O pedido foi feito a partir de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de combate à lavagem de dinheiro. O documento aponta "transações atípicas" durante a aquisição de um imóvel que seria, segundo a PF, "aparentemente incompatível com o exercício da função pública de assessora parlamentar" e que teria sido feita "por meio de pessoa interposta". Procurada, a defesa de Ana Cristina Valle diz que não tem conhecimento do fato.

A suspeita da PF envolve uma casa onde mora Ana Cristina e o filho mais novo do presidente, Jair Renan Bolsonaro. De acordo com o relatório do Coaf, a ex-mulher de Bolsonaro transferiu R$ 867 mil para uma empresa de transporte de cargas do Distrito Federal. A firma pertence a Geraldo Antonio Moreira Junior Machado, que teria usado uma parte desse valor, R$ 580 mil, para pagar a entrada da compra da mansão, avaliada em R$ 2,9 milhões, em junho do ano passado. O restante do valor foi financiado.

Assessora parlamentar na Câmara dos Deputados, Ana Cristina negava ser a dona da casa. Recentemente, porém, ela apresentou uma nova versão. Candidata a deputada distrital, a ex-mulher de Bolsonaro declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ser a proprietária da mansão, que, segundo ela, valeria R$ 829 mil. De acordo com a matrícula do imóvel, emitida nesta quarta-feira, o imóvel ainda está registrado no nome de Junior Machado. Procurado, o empresário não retornou o contato.

Em um dos endereços registrados em nome da empresa funciona um prédio comercial com salas e quitinetes residenciais em uma região administrativa do Distrito Federal. O Globo esteve no local, mas não encontrou ninguém. O síndico do edifício confirmou que Junior Machado usava um escritório, que teve as suas atividades encerradas.

Para os investigadores, o uso de uma terceira pessoa na transação feita por Ana Cristina demonstra "possível dissimulação da propriedade do bem imóvel adquirido", o que pode configurar crime de lavagem de dinheiro. Além disso, a PF diz que "há indícios da utilização de terceira pessoa interposta para obtenção de financiamento imobiliário" e que "tal conduta possui alcance típico de delito contra o sistema financeiro".

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Antigo proprietário do imóvel, Antonio Carlos Alencar Carvalho confirma que vendeu a casa no ano passado, mas afirma que não teve contato com o comprador. Ele diz que evitava sair de casa devido à pandemia de Covid-19 e que todo o trâmite foi feito por um corretor.

— A promessa de compra e venda, o corretor lançou por baixo da porta, porque estava na pandemia, eu assinei e ele levou ao cartório para reconhecer a minha firma. Eu nem sei quem é o comprador. Não tive nenhuma interação com ele.

Carvalho afirma que também só soube quem era Ana Cristina após a repercussão das primeiras reportagens sobre o caso.

— Essa senhora aí, eu só ouvi falar na televisão, depois que ocorreu essa repercussão toda. Nem sabia quem era, nunca vi na minha vida.

A PF tentou ouvir Ana Cristina no inquérito que apurava negócios de seu filho Jair Renan Bolsonaro, que foi inocentado na conclusão da investigação. Em um documento do inquérito, a PF diz que tentou remarcar três vezes o depoimento da ex-mulher do presidente, mas ela não compareceu e, por isso, ficou consignado que ela "exerceu seu direito constitucional ao silêncio".

Para ficar mais próximo do filho, Ana Cristina se mudou para Brasília e passou a morar no apartamento do ex-marido. Pouco tempo depois, decidiu trocar de endereço, ocupando uma mansão em uma área nobre em Brasília. Após se estabelecer na capital federal, a ex-mulher de Bolsonaro ganhou um cargo de assessora parlamentar da deputada federal Celina Leão (PP-DF). Permaneceu no posto de março de 2021 até junho deste ano, recebendo remuneração bruta de R$ 8.116,08. Ela deixou a função para concorrer a deputada distrital pelo PP, partido da base aliada do governo federal.

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