PF segue rastro do dinheiro entregue por Braga Netto para financiar plano de execução de autoridades
Investigadores identificaram que major comprou celular com dinheiro em espécie semanas após reunião com general
A Polícia Federal (PF) segue o rastro do dinheiro que, segundo o tenente-coronel Mauro Cid, foi entregue por Walter Braga Netto para supostamente financiar o plano de execução de autoridades, entre elas o ministro Alexandre de Moraes , do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice Geraldo Alckmin.
Segundo a delação de Cid e informações da PF, o dinheiro transportado por Braga Netto e entregue ao major Rafael de Oliveira teria sido usado ao menos para comprar o celular utilizado na organização de crimes.
Ainda de acordo com o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, os recursos que passaram nas mãos de Braga Netto teriam sido levantados junto ao "pessoal do agronegócio". Os investigadores identificaram que, nas semanas seguintes, o major usou dinheiro em espécie.
Em novo depoimento prestado no último dia 21, Cid mudou sua versão e disse que, dias depois de uma reunião no dia 12 de novembro de 2022, o coronel esteve em reunião com ele e Braga Netto, quando o general entregou o dinheiro, dentro de uma sacola de vinho, para a realização da operação.
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A participação de integrantes do setor de agronegócio já foi identificada em outros momentos. Relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) aos quais o GLOBO teve acesso apontaram a participação de produtores rurais na suposta articulação de atos antidemocráticos e no bloqueio de rodovias.
A PF conseguiu identificar que, no dia 15 de dezembro, o major comprou um celular em uma loja de Goiânia com dinheiro vivo. A nota fiscal aponta que o celular foi comprado por R$ 2,5 mil, com forma de pagamento "dinheiro à vista". O celular foi adquirido pela esposa de Rafael de Oliveira.
Além disso, os investigadores também rastrearam cinco recargas de crédito sequenciais para os telefonemas que faziam parte do grupo "Copa 2022". Todos eles, no valor de R$ 20, foram feitos de forma sequencial em uma drogaria do Setor Sudoeste, em Brasília, e também em espécie.
"Há fortes indícios e substanciais provas de que, no contexto da organização criminosa, o investigado Walter Souza Braga Netto contribuiu, em grau mais efetivo e de elevada importância do que se sabia anteriormente, para o planejamento e financiamento de um golpe de Estado, cuja consumação presumia, na visão dos investigados, a detenção ilegal e possível execução o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro do Supremo Tribunal Federal, com uso de técnicas militares e terroristas, além de possível assassinato dos candidatos eleitos nas eleições de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin e, eventualmente, as prisões de pessoas que pudessem oferecer qualquer resistência institucional à empreitada golpista", escreveu o Ministro Alexandre de Moraes.
A PF suspeita que o grupo "Copa 2022" era integrado por pelo menos seis militares de Forças Especiais, entre eles Rafael de Oliveira. Todos os envolvidos na ação se utilizaram de técnicas de anonimização, recebendo alcunhas ligadas a países, como "Alemanha", "Argentina" ou "Áustria".
Em uma das trocas de diálogo entre Oliveira e Cid, o major pergunta se havia alguma novidade em relação à reunião ocorrida no dia 12, que a PF acredita ter ocorrido na residência de Braga Netto.
Nessa conversa, Cid questiona Oliveira sobre a estimativa de gastos e questiona se a estimativa com hotel, alimentação e material ficaria em torno de R$ 100 mil. Oliveira responde que "Em torno disso".
Em um dos documentos apreendidos pela PF, existia a previsão de um plano, chamao de Punhal Verde Amarelo. No documento, existia o trecho com "demandas para a prep. e condução da ação" e que incluía "6 telefones celulares descartáveis".
"Nesse sentido, essa foi exatamente a estrutura de comunicação utilizada na denominada operação “Copa 2022”, em que militares Forças Especiais executaram uma ação clandestina no dia 15 de dezembro de 2022, para prender/executar o ministro Alexandre de Moraes na cidade de Brasília/DF. A ação empregou seis telefones celulares com chips da operadora TIM, habilitados em nomes de terceiros e, associados a codinomes de países para anonimização da ação criminosa", escreveu a PF no relatório da operação que prendeu os integrantes das forças especiais em novembro.