PGR investiga uso de verba pública e lucro de canais em atos antidemocráticos
A PGR (Procuradoria-Geral da República) avança em duas linhas de investigação no inquérito que apura a participação de bolsonaristas em atos antidemocráticos. Na primeira, relacionada ao financiamento de ataques a instituições como STF (Supremo Tribunal Federal) e Congresso Nacional, a Procuradoria apura se parlamentares usaram verba pública para patrocinar a produção de conteúdo ofensivo e também dar suporte às manifestações. As suspeitas foram reveladas pelo jornal O Globo e confirmadas pelas reportagem.
Em outra frente, a PGR suspeita que bolsonaristas responsáveis por canais nas redes sociais lucraram mais de R$ 100 mil com a divulgação de atos antidemocráticos. Há indícios reunidos pela PGR de que os investigados disseminaram "mensagens apelativas" em redes sociais em busca de dinheiro. Com isso, podem ter lucrado mais de R$ 100 mil.
"A suspeita é que parlamentares, empresários e donos de sites bolsonaristas atuam em conjunto e de forma orquestrada", afirmou o vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques, no pedido de diligências enviado ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito no STF.
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Quatro deputados federais do PSL, todos da ala bolsonarista do partido, estão no radar da PGR por repasses de valores à Inclutech, empresa Inclutech Tecnologia da Informação. A reportagem levantou que os quatro usaram a cota parlamentar a que têm direito em razão do exercício da atividade legislativa para transferir R$ 58,1 mil para a empresa neste ano.
A Inclutech tem como um dos sócios Sérgio Lima, marqueteiro do Aliança do Brasil, partido que o presidente Jair Bolsonaro está montando. Na semana passada, a empresa foi alvo de um dos mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Federal por determinação do ministro Alexandre de Moraes.
Os deputados Aline Sleutjes (PR), Bia Kicis (DF), General Girão (RN) e Guiga Peixoto (SP) apresentaram notas à Câmara para pedir o ressarcimento de despesas a título de "divulgação da atividade parlamentar". Os ressarcimentos englobaram o período de março a junho, meses que coincidem com a escalada de ataques dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro ao STF e Congresso.
Os parlamentares negam que os repasses tenham relação com atos antidemocráticos. Ainda de acordo com o inquérito, em outra linha de apuração, sites bolsonaristas podem ter lucrado com a transmissão de atos que tiveram a participação do presidente.
O vice-procurador-geral da República menciona no inquérito, segundo o jornal O Globo, um relatório de empresa especializada em análises estatísticas de páginas do YouTube, segundo os quais, por exemplo, a Folha Política, site que diariamente publica vídeos em defesa do governo, pode ter faturado entre US$ 6 mil e US$ 11 mil com a "live" do presidente do dia 3 de maio em frente ao Palácio do Planalto.
Já o vídeo da participação de Bolsonaro no ato de 19 de abril, dia do Exército, pode ter rendido, segundo a PGR, lucro US$ 7,55 mil e US$ 18 mil. A manifestação, em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, pedia intervenção militar e o fechamento do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal). O inquérito aponta que, com a transmissão, o canal "Foco do Brasil" teve 1,5 milhão de visualizações.