Policial civil pesquisou nome do pai de Marielle no sistema da corporação antes do homícidio
Investigação aponta que inspetor mantinha relações com milícia na Zona Oeste do Rio, que estava incomoda com o trabalho da parlamentar assassinada
O relatório complementar da Polícia Federal sobre as investigações do homicídio da vereadora Marielle Franco aponta que um inspetor da Polícia Civil do Rio, que teria ligação com integrantes da milícia, pesquisou o nome do pai da parlamentar no sistema interno da corporação no dia 21 de fevereiro de 2018, um mês antes do crime.
Em 9 de abril de 2018, o inspetor que fez a pesquisa sobre o nome do pai da Marielle chegou a ser intimado a depor na Delegacia de Homicídios (DH), responsável pelo inquérito que apurava o assassinato da vereadora.
Aos investigadores, o inspetor negou recordar-se do “motivo da consulta e tampouco do nome consultado”. Ele não foi indiciado.
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A PF aponta ainda que esse mesmo policial, em 12 de julho de 2008, teria elos com integrantes da milícia, porque estava em um clube em Santa Cruz, também na Zona Oeste da cidade, quando um grupo criminoso chamado Liga da Justiça foi preso em flagrante no local, com apreensão de armas e veículos.
No relatório, a PF afirma que, naquela data, o inspetor responsável pela pesquisa pelo nome do pai de Marielle “estranhamento não foi preso, mas levado à delegacia para prestar declarações como testemunha". Ele estava lotado na Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA).
De acordo com as investigações da própria PF, a atuação parlamentar de Marielle incomodava milicianos do Rio. Uma das insatisfações dos criminosos, por exemplo, seriam as atividades ligadas à sua preocupação com a expansão fundiária irregular desses grupos.
A PF aponta, inclusive, que a "apertada votação do projeto de Lei à Câmara número 174/2016”, que versava sobre a regularização de um condomínio inteiro na Zona Oeste, teria sido um dos motivos de sua execução.
Na ocasião, o então vereador Chiquinho Brazão demonstrou "descontrolada reação" a partir da resistência da parlamentar em votar a favor da proposta, que não respeitava o critério de área de interesse social, apenas visando obter o título de propriedade para especulação imobiliária.
Assim como o irmão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Domingos Brazão, Chiquinho está preso preventivamente e foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como mandante do crime. Ambos negam participação.