"Povo não esquecerá tentativa de violar democracia", diz idealizador de placa "Sem anistia"
Família começou a produzir placas ainda no sábado e só terminou de fixar mensagem na madrugada antes do atos
A ideia surgiu de uma conversa da família, na noite de sexta-feira, dois dias antes da data prevista para a manifestação convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro na Praia de Copacabana, pedindo anistia para os participantes dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Querendo marcar sua posição contrária ao ato e ao que seria dito pelos bolsonaristas ali, literalmente na porta de sua casa, no prédio de número 3018 da Avenida Atlântica, o jovem estudante de direito na UFRJ João Pedro Fagundes, de 18 anos, com a ajuda da madrasta, que prefere não se identificar, começou a produzir a a faixa com a inscrição "Sem anistia" no sábado.
Com ela fixada, a proposta era fechar as janelas e fazer um protesto silencioso, sem imaginar que uma foto iria amplificar a mensagem tão alto quanto os discurso dos políticos feitos na orla neste domingo.
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— Quis mandar uma mensagem aos golpistas e seus apoiadores de que o povo brasileiro não esqueceu e não esquecerá a criminosa tentativa de violar a democracia. Recebi apoio de amigos próximos, e depois, com a grande repercussão que teve, vi muitas pessoas nas redes sociais concordando e incentivando o posicionamento. Foi muito bom poder representar milhões de brasileiros com a mensagem — contou João Pedro Fagundes.
Além do apoio, a manifestação gerou ainda ataques de participantes do ato, que da praia gritaram insultos aos moradores do apartamento. Os ataques, João garante, não vão intimidá-los.
— Tiveram alguns manifestantes que responderam com gestos obscenos, mas tudo dentro do jogo democrático, apesar da manifestação ser em defesa daqueles que atentaram contra a democracia. Alguns tentaram intimidar gravando com zoom a minha cara, mas não conseguiram. Sei que o meu feito não chega perto daqueles que, como Rubens Paiva, morreram na luta pela democracia, mas por e para eles faria quantas vezes fossem necessárias — afirma ele, que vai descolar as placas da janela, mas promete novas manifestações caso sejam marcados novos protestos bolsonaristas para o endereço.
Ato bolsonarista
O ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro contou com a participação de 18,3 mil manifestantes, segundo cálculo feito com base em imagens aéreas pelo grupo de pesquisa "Monitor do debate político" do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), coordenado por Pablo Ortellado e Márcio Moretto, da Universidade de São Paulo (USP), e pela ONG More in Common. Isso significa que a mobilização foi bem menor do que a de outros atos do bolsonarismo no Rio. A margem de erro do levantamento é de 2,2 mil pessoas para mais ou para menos.
O Datafolha, por sua vez, divulgou um cálculo de público na manifestação de 30 mil pessoas. O instituto também usou imagens aéreas. Elas foram obtidas às 11h10m.
Em 07 de setembro de 2022, também na Praia de Copacabana, o grupo de pesquisadores da USP e do Cebrap calculou um encontro de 64,6 mil manifestantes, um patamar que é cinco vezes maior do que neste domingo. Já em abril do ano passado, foram 32,7 mil participantes.
— Essa foi uma manifestação pequena para os padrões de mobilização do bolsonarismo — afirma Ortellado.