Pré-candidato oculto, Huck procura Alckmin e ouve palavras de incentivo em conversa sobre 2022
A conversa, a convite de Huck, ocorreu durante a manhã e durou cerca de 40 minutos, por meio da plataforma Zoom
O apresentador Luciano Huck e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) tiveram um encontro virtual nesta quinta-feira (29), no momento em que ambos se movimentam nos bastidores com vistas às eleições de 2022 -o primeiro com foco na Presidência e o segundo de olho no Governo de São Paulo.
A conversa, a convite de Huck, ocorreu durante a manhã e durou cerca de 40 minutos, por meio da plataforma Zoom. Nenhum dos dois expõe publicamente a intenção de disputar os cargos, embora eles próprios e seus aliados venham articulando projetos nesse sentido.
"Foi um bate-papo para trocar uma ideia. O Luciano Huck tem espírito público, e candidatura é uma questão de avaliação do momento adequado", disse o tucano à reportagem, ao confirmar a conversa. O apresentador, procurado via assessoria, não informou detalhes do encontro.
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Segundo Alckmin, os dois discutiram assuntos como o momento político e a busca por uma terceira via competitiva para a corrida ao Planalto, diante do cenário de virtual enfrentamento entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Lula (PT).
Huck compõe uma frente com outros cinco presidenciáveis que querem construir uma alternativa ao que classificam como polarização entre extremos. O grupo, que conta com os governadores tucanos João Doria e Eduardo Leite (ambos do PSDB), lançou em março um manifesto em defesa da democracia.
Da parte do apresentador, uma das intenções ao abrir o canal de diálogo com Alckmin é ouvi-lo sobre as experiências de suas duas candidaturas à Presidência (em 2006 e 2018) e sobre a vivência na administração pública, algo que é uma lacuna na biografia de Huck e desperta críticas de detratores.
"Tenho ouvido as pessoas neste momento difícil e importante da vida nacional, com toda a questão sanitária, econômica e social", afirmou Alckmin, que desconversou sobre sua possível candidatura para o governo e se disse concentrado nas atividades como médico e aluno de doutorado.
No entanto, como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, o ex-titular do Palácio dos Bandeirantes intensificou as costuras para disputar o cargo. Ele cogita até mudar de partido (PSD, PSB, PSL e Podemos são algumas das alternativas) para consolidar a candidatura, hoje dificultada pelos planos de Doria no estado.
"Isso tudo tem tempo", respondeu Alckmin, ao ser indagado sobre as possíveis candidaturas dele próprio e de Huck. "O que não podemos perder de vista é que a política tem validade e que é preciso valorizar a boa política. Eu estimulo as pessoas a participarem. A pior política é a da omissão", emendou.
O comunicador vem recusando pedidos de entrevista da reportagem para falar sobre política e sua eventual candidatura. Nem ele nem a TV Globo informam se o contrato do titular do programa "Caldeirão do Huck" terá renovação. Segundo pessoas próximas, o atual compromisso vence em meados deste ano.
Alckmin e Huck já se conheciam e trocaram elogios públicos nos últimos anos. Um dos elos entre os dois é o economista Andrea Calabi, que é padrasto do apresentador e, entre 2011 e 2014, foi secretário da Fazenda da gestão do tucano no Governo de São Paulo.
"Sou amigo do padrasto dele, o Andrea Calabi, que é um grande quadro. Gosto do Luciano. Foi um bom papo", relatou Alckmin, que exaltou também sua relação com o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung (ex-MDB, PSB e PSDB), principal conselheiro político do apresentador.
Durante a campanha presidencial de 2018 -que terminou com um decepcionante quarto lugar para o ex-governador de São Paulo, com 4,76% dos votos válidos-, Huck disse à Folha de S.Paulo que tinha respeito e admiração pelo tucano, a quem qualificou como "um cara correto" e bom administrador.
"O Alckmin é um político competente, mas é a velha política", declarou na ocasião o apresentador, que esteve perto de concorrer ao Planalto naquele ano, mas acabou recuando.
Alckmin lamentou a desistência na época, sustentando o discurso de que incentiva entrada de novos nomes na cena pública. "O Luciano é um líder, tem espírito público e preocupação em melhorar o Brasil, as condições de vida da população. Tenho certeza que dará sua contribuição", afirmou.
Outro líder tucano que sempre estimulou o apresentador a fazer carreira política é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que já o descreveu como alguém que carrega o estilo do PSDB.
Desta vez mais engajado na preparação de uma candidatura, Huck tem mantido agenda intensa de diálogo com políticos que vão da centro-esquerda à direita.
Nas últimas semanas, ele conversou com os tucanos Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, e Tasso Jereissati, senador pelo Ceará, ambos cotados no PSDB para disputar o Planalto.
A discussão de outros nomes pelo tucanato é um empecilho para o projeto de Doria, que esperava a essa altura contar com um apoio majoritário da legenda a seu nome. O governador de São Paulo e Huck possuem uma relação cordial, embora operem agendas próprias no chamado centro democrático.
Paralelamente ao plano da candidatura nacional, Doria trabalha para fazer do atual vice, Rodrigo Garcia (DEM), seu sucessor no Bandeirantes. A estratégia é filiar Garcia ao PSDB, brecando as intenções do grupo de Alckmin de retornar ao poder. Aliados do governador preferem que o veterano dispute o Senado.
O ex-governador submergiu depois da derrota no pleito de 2018, começou a dar aulas no curso de medicina de uma universidade privada, voltou a atender como médico e iniciou um curso de doutorado, que ele planeja concluir ainda neste ano, a tempo de se dedicar à campanha de 2022.