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Programa espião usado pela Abin armazenava dados em servidor em Israel

Servidores da própria agência apontaram vulnerabilidade para a inteligência brasileira

Agência Brasileira de Inteligência (Abin), em BrasíliaAgência Brasileira de Inteligência (Abin), em Brasília - Foto: Reprodução/Abin

O programa espião de monitoramento usado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) armazenava dados de alvos do Brasil em servidor em Israel, país responsável pela tecnologia. Segundo integrantes da Abin e especialistas em inteligência ouvidos pelo Globo, ao adquirir o software "First Mile", a agência soube desse procedimento e cometeu "um erro estratégico".

De acordo com funcionários da agência, o modelo de armazenamento de dados representava um risco de a inteligência israelense ter informações privilegiadas a respeito dos monitorados pela Abin. Nesta sexta-feira, a Polícia Federal (PF) realizou uma operação contra o uso ilegal do programa de espionagem.

Apenas com o número de celular, o equipamento consegue monitorar a localização dos alvos. Segundo a PF, a agência usou o "First Mile" mais de 30 mil vezes. Desse montante, os investigadores detalharam 1.800 usos relacionados a políticos, jornalistas, advogados e adversários do governo Bolsonaro. A polícia também investiga o monitoramento de integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Apesar de cada nome dos brasileiros monitorados pela Abin serem identificados no "First Mile" apenas por um código, a empresa israelense tinha acesso ao banco de dados com os números de telefones consultados.

Para contratar a ferramenta espiã utilizada durante o governo Jair Bolsonaro, a Abin também se comprometeu a respeitar uma condição imposta pela fabricante do sistema, a empresa israelense Cognyte: não poderia monitorar cidadãos israelenses e americanos.

A imposição da empresa israelense se deu porque, ao comercializar sistemas espiões, Israel não permite que seus produtos sejam utilizados contra seus próprios cidadãos nem contra cidadãos do seu principal aliado estrangeiro, os Estados Unidos.

Até o momento, dois servidores da agência foram presos, cinco afastados, e US$ 171,8 mil em dinheiro vivo foram apreendidos em endereço do número 3 da Abin, Paulo Maurício Fortunato Pinto. A ação desta sexta-feira foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Além de determinar a prisão dos servidores Rodrigo Colli e Eduardo Arthur Yzycky, foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão, realizados hoje pela Polícia Federal nos estados de São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Goiás e no Distrito Federal.

Outro alvo da PF é Caio Cesar dos Santos Cruz, filho do general da reserva e ex-ministro de Jair Bolsonaro Carlos Alberto Santos Cruz. Segundo a colunista Bela Megale, Caio Cesar dos Santos Cruz é apontado pelos investigadores como representante da empresa que vendeu o sistema a Abin.

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