Pronunciamento de Haddad em tom político reacende debate sobre sucessão de Lula em 2026
Ministro da Fazenda evita queimar a largada e se colocar no páreo desde já
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Escalado por Lula para dar a cara em rede nacional e explicar o pacote de ajuste fiscal do governo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, optou por um tom político em seu pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV e conseguiu se valer da missão para reforçar o papel de principal nome da gestão petista, depois, é claro, do próprio presidente.
Para integrantes do governo, a mensagem foi que o ministro é, hoje, o candidato mais forte dentro do PT para ser o sucessor de Lula, seja em 2026, se o presidente desistir da reeleição, ou em 2030.
Diante das circunstâncias adversas, a avaliação no entorno do ministro é que ele se saiu bem em sua estreia no papel “presidencial”. Em geral, a tarefa de explicar temas importantes à população em cadeia de rádio e televisão cabe ao presidente da República. Desde o início do governo, Haddad ainda não havia feito pronunciamentos.
O pronunciamento teve ares de propaganda eleitoral, incluindo números positivos da economia saltando na tela, imagens de Lula no G20 ao lado de líderes mundiais, cenas de obras e de famílias felizes com panelas cheias.
Nos sete minutos em que esteve no ar, em horário nobre, Haddad citou ainda programas vitrines da atual gestão que devem ser explorados eleitoralmente nas próximas disputas, como o Pé-de-Meia, que concede auxílio financeiro a estudantes; o Desenrola, que prevê perdão de dívidas; e o Acredite, voltado ao empreendedorismo.
Transição
Candidato a presidente em 2018, quando Lula ainda estava preso — e impedido de concorrer —, Haddad explorou a ligação com seu padrinho político para tentar se eleger. Na época, chegou a usar uma máscara do atual presidente durante a campanha para dizer que “Haddad é Lula, Lula é Haddad”. Não deu certo.
Agora, ao ser a cara do governo Lula na TV, a avaliação no governo é que a aposta novamente será associar sua imagem o máximo possível ao principal líder da esquerda do país.
Apesar de o movimento ser claro para quem acompanha os bastidores do governo, Haddad evita queimar a largada e se colocar no páreo para suceder Lula. Em entrevista ao Globo no início deste ano, contudo, cobrou o partido a começar a se preparar para essa transição. Para ele, excluído 2026, quando Lula deve tentar a reeleição, o problema “vai se colocar” na eleição seguinte.
A estratégia é menos evidente com outros nomes cotados, como o do ministro da Educação, Camilo Santana, ou até mesmo o chefe da Casa Civil, Rui Costa.
Mas, para se cacifar como nome viável, Haddad terá, agora, o ônus de precisar recuperar a credibilidade com o mercado, abalada depois da inclusão da elevação da faixa de isenção do Imposto de Renda no pacote de medidas.
A ideia de unir as duas iniciativas em um único anúncio foi “totalmente” de Lula. Era uma forma de evitar que as medidas fossem carimbadas como “pacote de maldades”. Em uma reunião, o presidente perguntou a opinião de seus auxiliares sobre o tema.
O vice Geraldo Alckmin e Rui Costa foram favoráveis à junção. Apenas Haddad se colocou contra. Achava que o pacote de reforma da renda, que estava na mesa do presidente desde agosto, deveria ficar para depois, quando as medidas do ajuste já estivessem aprovadas no Congresso.
Voto vencido no embate sobre o Imposto de Renda, Haddad ainda foi escalado por Lula para o pronunciamento de rádio e TV. Na Fazenda, a opção sugerida era por apresentação discreta, sem alarde. Mas o presidente acreditava, desde o começo das discussões sobre o pacote de ajustes, que a convocação da cadeia de rádio e televisão era o caminho mais eficiente para o anúncio.
O texto foi redigido por auxiliares do ministro e apresentado a ele, que fez algumas observações. Em seguida, o marqueteiro Sidônio Palmeira, responsável pela vitoriosa campanha de Lula em 2022, deu o seu o aval.
A peça exibida em horário nobre tratou do pacote econômico de forma genérica, disputando espaço com exaltações à retomada do Minha Casa, Minha Vida e do Farmácia Popular, além da implantação do Pé-de-Meia, do Desenrola e do Acredita. Também trouxe comparações com o governo Bolsonaro ao afirmar que o ganho real do salário mínimo tinha sido “esquecido” na gestão anterior.