Próximo a Bolsonaro e aliado de Lira: quem é Celso Sabino, confirmado pelo governo no Turismo
Deputado foi defensor ferrenho de Aécio Neves no PSDB
Confirmado pelo governo federal, nesta quinta-feira (6), como novo ministro do Turismo — embora Daniela Carneiro ainda não tenha deixado o posto oficialmente —, o deputado Celso Sabino (União - PA) já esteve no centro de diferentes polêmicas nos seus quase dez anos anos de carreira política.
O parlamentar, visto atualmente como um nome forte do Centrão e ligado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (P-AL), já foi um importante aliado do também deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), teve rixa dentro do PSDB com o ex-governador de São Paulo João Doria e chegou a responder um processo de expulsão da legenda tucana antes de migrar para o União Brasil.
A troca no Ministério do Turismo, após intenso vaivém no governo, foi confirmada pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. "O presidente Lula e eu nos reuniremos com o presidente e os líderes do União Brasil, em data a ser definida amanhã (sexta-feira), para receber a indicação do deputado Celso Sabino, que vai liderar a pasta do Turismo, dando continuidade ao trabalho pela recuperação de um setor tão importante para a geração de emprego e renda no Brasil", escreveu Padilha em nota.
No passado, os acenos do novo integrante do governo Lula ao ex-presidente Jair Bolsonaro foram alvos de críticas de seus então correligionários de PSDB. Entre os episódios que evidenciaram a sintonia de Sabino com o bolsonarismo estão seu período como líder da maioria na Câmara dos Deputados, quando ainda era filiado à sigla tucana, e uma postagem nas redes sociais, que não está mais disponível no perfil do parlamentar, apertando a mão do então presidente após uma viagem juntos para o Pará.
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A boa relação de Sabino com Bolsonaro também ficou nítida pela grande fatia do Orçamento Secreto direcionada para o parlamentar. Ele foi beneficiado com pelo menos R$ 27,2 milhões de verbas em 2022, último ano de gestão do ex-presidente. No ano passado, Sabino esteve entre os 30 parlamentares federais que mais indicaram recursos — R$ 54,1 milhões — nesta modalidade de distribuição de verba, R$ 9 milhões a mais que o indicado por Daniela Carneiro, que deixará a pasta do Turismo.
Foi justamente a proximidade com o ex-presidente um dos pontos de tensão que levaram Sabino a deixar o PSDB. Quando ainda era filiado, o político era apontado por colegas tucanos como o principal articulador para que a legenda integrasse a base do governo de Jair Bolsonaro.
O anúncio feito por Sabino de que assumiria o cargo de líder da Maioria foi a gota d'água na relação. De acordo com o membros do PSDB, a decisão feria o estatuto de ética da legenda. Com isso, Sabino chegou a ser alvo de um processo de expulsão do partido, mas, em 2021, após os atritos com a direção, se desfiliou por conta própria.
Sabino também desagradou colegas de PSDB quando teve participação decisiva na rejeição dos pedidos junto à Executiva Nacional do partido que pediam a expulsão de Aécio Neves, em 2019. Em seu parecer como relator, Sabino considerou "ineptos" os requerimentos para a saída do mineiro. A decisão pela permanência do deputado na sigla impôs uma derrota ao então governador de São Paulo, João Doria, que chegou a cobrar, já naquela ocasião, que Sabino deixasse a legenda.
À época, Aécio era réu no processo relativo ao episódio em que foi gravado, em março de 2017, pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista, da JBS. Sabino também chegou a ser citado na Lava-Jato, aparecendo em uma lista de políticos que teriam recebido verbas da Odebrecht na campanha de 2014. A investigação, no entanto, não avançou.
Sabino já teve problemas também na esfera criminal, respondendo a um processo no âmbito da Lei Maria da Penha. O deputado foi acusado de perseguição pela ex-mulher e cumpriu medidas restritivas impostas pela Justiça. O caso acabou arquivado, e a defesa do parlamentar nega ter havido qualquer violência física.
Proximidade com Lira
Na Câmara e nas redes, Sabino não omite as estreitas relações com Lira, a quem já se referiu como "amigo irmão" em uma publicação de 2022. Na ocasião, ele fez uma postagem homenageando o cacique por seu aniversário: "Hoje é o dia de celebrar a vida deste amigo irmão, que tem se dedicado muito pra fazer a diferença para o nosso país, em um dos momentos mais difíceis da nossa história contemporânea".
Em 2021, o deputado ocupou um cargo de destaque na Câmara ao presidir a Comissão Mista de Orçamento, responsável por discutir a proposta enviada pelo Executivo e realizar alterações de olho em demandas das bancadas e do governo. Já estavam valendo, à época, os repasses das emendas de relator, instrumento conhecido como orçamento secreto.