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Política

PSDB entra em pé de guerra após ataque de Eduardo Leite a Doria

A disputa pela indicação de quem será o candidato a presidente pela sigla, a ser decidida em prévias no dia 21 de novembro, ganhou ares de guerra fratricida

PSDB pode lançar como candidato à presidência o governador de SP, João Doria, ou o governador do RS, Eduardo LeitePSDB pode lançar como candidato à presidência o governador de SP, João Doria, ou o governador do RS, Eduardo Leite - Foto: Arquivo/Agência Brasil e Reprodução/Facebook

O PSDB, partido que governou o Brasil de 1995 a 2002 e polarizou a política nacional com o PT até a debacle da eleição de 2018, está em pé de guerra.

A disputa pela indicação de quem será o candidato a presidente pela sigla, a ser decidida em prévias no dia 21 de novembro, ganhou ares de guerra fratricida.

Neste domingo (17), os dois principais postulantes, os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), voltaram a trocar farpas, agitando as hostes tucanas.

O gaúcho esteve em São Paulo para buscar apoios de correligionários supostamente fiéis a Doria. Aproveitou para estocar o paulista. "Negar participação no debate e lançar suspeitas à forma de votação é coisa do bolsonarismo. Espero que não volte o BolsoDoria", disse Leite.

Ele se referia a dois pontos. Um, a crítica feita por aliados do paulista ao aplicativo lançado pelo PSDB para as prévias, desenvolvido coincidentemente no Rio Grande do Sul.

Para auxiliares de Doria, o programa é vulnerável a fraudes por estar aberto na internet e por permitir cadastros sem muito controle.
 

O outro item abordado pelo gaúcho foi a recusa inicial de Doria de participar de um debate com Leite e o ex-prefeito manauara Arthur Virgílio, azarão das prévias, na terça (19) em evento dos jornais O Globo e Valor Econômico.

Mas mais importante, ele falou no voto de segundo turno de 2018 que vinculou o tucano à onda que elegeu Jair Bolsonaro presidente. De 2019 em diante, Doria afastou-se do titular do Planalto e virou seu maior adversário estadual no contexto da pandemia e da disputa sobre a campanha de vacinação, mas o epíteto sempre é lembrado por adversários.

Há, claro, alguma ironia na fala de Leite. Entre seus 25 titulares de secretarias no governo gaúcho, ao menos 5 são bolsonaristas explícitos ou ligados a apoiadores do presidente.

Assim como Doria, Leite também foi eleitor de Bolsonaro no segundo turno e depois se disse arrependido.

No sábado, Doria voltou atrás e aceitou participar do debate. Tucanos mais neutros na disputa entre os dois aplaudiram a decisão, embora ressaltem que tal evento pode apenas explicitar as divergências internas da sigla.

O governador paulista não respondeu à citação. Para tanto foi escalado o presidente do PSDB-SP, o secretário Marco Vinholi (Desenvolvimento Regional).

No Twitter, ele disse: "Leite vem a SP e ataca Doria mais uma vez. Diálogo na teoria, agressão na prática. É momento de termos um candidato para unir o partido e o país, não para dividir".

O embate coroa uma nova fase na disputa interna tucana, que começou com um grande salto alto parte dos paulistas, mesmo tendo fracassado em estabelecer a regra de peso equânime para os votos de todos os filiados ao PSDB, o que favoreceria em tese Doria pela concentração de tucanos em São Paulo.

Foi adotado um esquema com pesos iguais para grupos de votantes (filiados, donos de mandato, cargos etc.). Com isso, a disputa ficou mais equilibrada. As equipes de Leite e de Doria trabalham com a ideia de um placar semelhante nos apoios, algo como uma divisão 60%/40%, naturalmente cada um puxando a sardinha para sua brasa.

O jogo está bastante aberto admitem estrategistas dos dois lados, mas a semana que passou foi a pior para Doria desde o início da disputa.

Além do episódio do debate, Leite colheu apoios entre potenciais aliados em 2022, como ACM Neto (presidente do DEM, partido que vai unir-se ao PSL e formar uma megasigla de direita) e Gilberto Kassab (o chefão do PSD).

Neste domingo, o tucano gaúcho também iria ser recebido por empresários paulistas que, se não representam o proverbial PIB, mostram um interesse na sua figura.

Para os aliados de Doria, esses trunfos evidenciam fraquezas da postulação de Leite. Na visão deles, que encontra eco entre dirigentes dos partidos que podem se tornar parceiros em 2022, uma vitória de Leite colocará o tucano na vaga de vice ideal.

Para políticos fora do tucanato, Leite agregaria vitalidade a qualquer chapa por ser novo (36 anos) e associado ao mesmo tempo a pautas progressistas em comportamento (é gay) e conservadoras na economia (promoveu reformas impopulares).

Mas tudo isso é usado também como argumento de que lhe falta quilometragem, e que seu apoio seria ideal como vice ou como parceiro num eventual governo que não fosse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou Bolsonaro.

O governador em si rechaça essa essa hipótese e diz que está no jogo para ser cabeça de chapa, mas falta combinar com os aliados e com seus padrinhos no PSDB, o deputado Aécio Neves (MG) e o senador Tasso Jereissati (CE).

Na visão do grupo aliado aos dois caciques, o mais importante para o partido é garantir robustez parlamentar para sobreviver, mesmo que isso signifique equivaler o PSDB a siglas do centrão no Congresso.

Como diz um dirigente ligado a Aécio, os menos de 5% auferidos por Geraldo Alckmin no pleito de 2018 já deveriam ter servido de alerta. Contra essa visão está o bom desempenho municipal do partido no ano passado, contudo.

Se a crítica dos aliados Doria acerca da diminuição de perfil do PSDB faz sentido, a outra feita à suposta pouca importância da movimentação de Leite é bastante discutível. É fato que isso não garante voto entre militantes tucanos, e o apoio de articuladores de prefeitos como
Doria tem em São Paulo pode trazer mais endosso nas prévias.

Por outro lado, a cristalização de uma imagem de candidato para um político que era largamente desconhecido fora de seu estado até há pouco pode impressionar.

A próxima etapa será no debate da terça. A dúvida entre estrategistas dos dois lados é sobre a conveniência de subir o tom de uma briga que, em tese, deveria ser doméstica.

A lição histórica é óbvia: nas cinco eleições presidenciais que perdeu desde 2002, o PSDB só chegou perto da vitória na única vez que andou unido, em 2014 com Aécio.

Há munição de lado a lado, mas também a certeza de que Doria, por governar o estado mais importante do país, sofre um escrutínio diário bem mais incisivo do que Leite.

Ainda é incerto se o gaúcho apostará no confronto direto com o paulista. Já Doria, afeito a debates mais acalorados, pode ir nesse sentido, mas também aposta numa "agenda de estadista", como dizem seus aliados, ao visitar na semana que vem a Expo Dubai 2021, a primeira grande feira internacional do pós-pandemia.

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