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Política

PSDB tem de sentar na mesa principal, mas pode abrir mão de SP em 2022, diz Doria

Governador de São Paulo é um nome forte para uma frente anti-Bolsonaro

João Doria (PSDB), governador de São PauloJoão Doria (PSDB), governador de São Paulo - Foto: Governo do Estado de São Paulo

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O PSDB tem de estar sentado na mesa principal das discussões sobre a frente contra Jair Bolsonaro e a esquerda em 2022, e disposto a abrir mão da sua joia da coroa, o governo paulista. A avaliação é do principal nome da sigla, o governador João Doria (PSDB-SP).
 
Em uma conversa em que só faltou admitir abertamente o segredo de polichinelo que é sua pretensão, ele foi claro: "Não sou candidato à reeleição", disse, sentença para a qual o corolário é óbvio.
 
Defendendo uma frente em nome de um "novo Brasil" e se dizendo um antiextremista, Doria não rejeita o poder de seu grande ativo eleitoral até aqui: o fato de que São Paulo poderá avançar rapidamente com sua campanha de vacinação contra a Covid-19.
 
"Poderia ser", diz, uma forma de nacionalizar seu nome –como sugeriu em entrevista o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). "Mas não é o sentido, que é salvar vidas", afirmou, dizendo que espera enviar a documentação para registro da sua Coronavac, imunizante chinês que será feito no Instituto Butantan, até o dia 15.
 
Ele também diz que o manejo da pandemia, em oposição à balbúrdia da gestão Bolsonaro, será ativo eleitoral em 2022. Doria nega o caráter de estelionato eleitoral na decisão de regredir as fases de abertura de economia no estado após o segundo turno do domingo (29), no qual seu ex-vice na prefeitura paulistana, Bruno Covas (PSDB), foi reeleito.
 
Pergunta - Há um consenso de que neste pleito o centrismo ganhou, e o presidente Jair Bolsonaro e a esquerda foram os principais perdedores. O sr. concorda? Isso indica algo para 2022?
 
João Doria - Eu concordo. Os perdedores foram os extremos nessa eleição. Olhando o Brasil, tanto a extrema esquerda quanto a extrema direita. Talvez seja cedo para dizer que a indicação de 2020 seja válida para 2022, mas ela é uma bússola. A população votou contra o populismo de direita e de esquerda.
 
 
A pandemia também tem ajudado a definir o gosto do eleitor este ano pela continuidade e, tudo indica, será dominante em 2021. O sr. acredita que a vacina e o comportamento na pandemia serão um ativo político em 2022?
 
JD - Não acredito que a vacina, mas aqueles que trabalharam ao lado da medicina, da ciência e da saúde. Esses terão um ativo reconhecido. Os negacionistas perderam seus ativos.
 
Falando em vacina, a Coronavac deverá ter documentação pronta para registro na Anvisa já na semana que vem?
 
JD - Provavelmente até 15 de dezembro, segundo todas as indicações. Ela já tem 95% de segurança e 97% de resposta imune provada em testes. Foi a maior testagem de vacina no Brasil. A Anvisa tem no limite 30 dias para fazer sua manifestação final e definitiva, e é partir disso, que espero que seja isenta, possa ser usada.
 
Lembrando o episódio da suspensão dos testes, o sr. teme que possa haver algum atraso de cunho político?
 
JD - Espero que não. Espero que a Anvisa seja vigilância sanitária, não vigilância ideológica.
 
Há duas semanas, o sr. chamou de fake news a ideia de que haveria mais restrições depois das eleições. Covas falou que a situação na capital era estável. Ainda assim, na segunda (30) veio o anúncio.
 
JD - Não foi isso. Na realidade eu gravei um vídeo afirmando que era mentira que iríamos fechar o comércio, bares e os restaurantes depois da eleição. Isso foi produzido pelo gabinete do ódio ou seguidores dele. E não fechamos.
 
Mas não fica a impressão de um estelionato eleitoral?
 
JD - Não, porque já estava previsto que a reclassificação seria no dia 30.
 
Mas vocês haviam adiado a reclassificação quando houve aquele problema nos dados do Ministério da Saúde. Uma semana depois, os indicadores negativos eram claros, não?
 
JD - Se tivéssemos reclassificado naquele momento, teríamos colocado todo o estado no verde. Fomos cautelosos, e isso foi a recomendação do Centro de Contingência do Covid-19. São 20 médicos, não dá para você esconder, emudecer 20 pessoas.
 
Voltando à eleição, como o sr. avalia a questão da rejeição a seu nome na capital? O paulistano não o perdoou por deixar a prefeitura?
 
JD - Eu tive de realizar um sacrifício de disputar, senão estaria aqui uma pessoa esquerdista sem nenhum compromisso com a verdade e a boa gestão [o então governador Márcio França, do PSB). Eu fui compelido a disputar a eleição por deputados e prefeitos do PSDB. A eleição do Bruno Covas demonstra que a minha saída da prefeitura ocorreu para evitar a esquerda populista, senão ele não teria sido reeleito.
 
Mas o sr. não teve proeminência na propaganda do prefeito.
 
JD - Qual o valor disso? O candidato era ele, não eu.
 
O sr. acha que o Guilherme Boulos (PSOL) reocupou o espaço do PT que havia sido reduzido na eleição de 2016?
 
JD - Parcialmente, sim. Não com a mesma força. Se tivesse, teria sido eleito. Boulos foi derrotado, vamos falar a linguagem clara.
 
O PSDB consolidou-se em São Paulo, mas perdeu espaço nacional. DEM e PSD cresceram, e legendas como MDB e centrão se mantiveram fortes. Isso facilita ou dificulta alianças do chamado centro?
 
JD - Aqui cabe uma ressalva. O PSDB foi o partido mais votado do país, com 15,1 milhões de votos. Como você mede o prestígio de um partido? É pelo número de votos, não de cidades conquistadas. Ele governa a maior fatia da população brasileira nas cidades, 16,34%. E ele governa as maiores cidades do país. São Bernardo do Campo tem mais habitantes do que a maioria das capitais.
 
Sim, mas isso facilita ou dificulta as alianças?
 
JD - Direciona. Nem facilita, nem dificulta. Um partido que tem mais de 15 milhões de votos não só merece respeito, como senta na mesa principal.
 
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cita o sr. e Luciano Huck como nomes fortes para uma frente anti-Bolsonaro, mas também Ciro Gomes (PDT). Hoje, o ex-ministro descartou um acordo com o PT ou com o sr. Qual sua visão sobre essas conversas do DEM?
 
JD - As conversas não devem estabelecer prévias. Devem ser amplas e abrigar todos aqueles que aceitarem dialogar na formação de um centro democrático para um projeto de um novo Brasil. Não pode ter censura prévia, esse sim, esse não, por alguma circunstância no passado.
 
Mas o Maia rejeita liminarmente Moro, por exemplo. O sr. não concorda?
 
JD - Todos os nomes que possam formar o centro democrático e colaborar para um projeto devem fazer parte. Inclusive o Sergio Moro.
 
Uma crítica histórica ao PSDB é sua tendência a impor nome, ser cabeça de chapa. O sr. fala em sentar na mesa principal. O sr. acha que o partido toparia, em nome de uma candidatura nacional em 2022, ceder espaço em São Paulo e apoiar seu vice, Rodrigo Garcia (DEM), ao governo?
 
JD - Não deve haver imposições. Deve haver agregações. Por isso essa frente deve ser construída em cima de um projeto.
 
Mas o PSDB toparia?
 
JD - Já fez isso. Quando eu convidei o Rodrigo Garcia para ser candidato a vice e coordenador da campanha, já foi um gesto nesse sentido. Naquele momento, eu contrariei duplamente o PSDB. Eu poderia ser candidato a governador numa chapa pura com o PSDB, tinha ganho a prefeitura em 2016 assim. São exemplos concretos de que a composição ajuda a construir alianças.
 
O corolário é que Garcia é o candidato a governador e o sr. é candidato a presidente.
 
JD - Você é que está falando. Eu sou contra a reeleição. Entendo que o Brasil, num momento futuro, deva discutir o fim da reeleição e mandatos de 5 anos. Por coerência, não serei candidato à reeleição.
 
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse que o sr. precisa se nacionalizar se quiser ser presidente. O que o sr. acha disso?
 
JD - Sem discordar do presidente, não é hora de estabelecer um programa eleitoral para 2022. A hora é da vacinação, não da eleição. Sem vacinação, sem salvar vidas, sem retomar a economia, a própria vida normal, não se pode falar em campanha.
 
Se houver sucesso no programa de imunização em São Paulo [com a vacina ofertada a outros estados a seguir], isso não poderá ser um meio de nacionalizar seu nome?
 
JD - Poderá ser, embora o sentido não seja esse, o sentido é proteger e salvar vidas. É o que fazemos há quase dez meses. Fizemos a opção correta. Tomamos medidas impopulares quando foi necessário, fizemos quarentena no começo, obrigamos máscara. Se eu tivesse preocupação com popularidade, não teria priorizado a vacina. Quando começamos a falar sobre ela, ninguém falava.
 
O sr. fez um discurso, no evento da vitória de Bruno Covas, elogiando a moderação contra os extremismos. Já se incluiu entre aqueles frustrados com Bolsonaro, após tê-lo apoiado. O sr. sempre se posicionou como antipetista. É possível ser ao mesmo tempo anti-Bolsonaro, sendo que para chegar lá será preciso arregimentar parte do apoio político e popular do presidente?
 
JD - Pela coerência, pelo bom senso e pela verdade. E também pelas atitudes.
 
A sua relação com o governo federal foi muito conflituosa neste ano.
 
JD - Já desde o ano passado em me posicionei em defesa da democracia, da imprensa, da proteção ao Poder Judiciário, que já estava ameaçado. Hoje a pandemia é preponderante, mas antes eu fiz a defesa do multilateralismo. Enquanto Bolsonaro só falava dos princípios do presidente americano Donald Trump, eu abri um escritório paulista em Xangai.
 
Após a fase mais aguda da crise institucional deste ano, o centrão e siglas como o PSD ocuparam o papel de seguro do governo Bolsonaro. O sr. avalia como esse arranjo hoje, ele é estável?
 
JD
- O melhor arranjo pelo Brasil é a defesa da democracia, o desapego a ideologias, a partidarismos sectários. Não personalizo antagonismos políticos. Sou um antiextremista, antipopulista, anticorrupção.
 
Por fim, na sexta o Supremo começa a analisar a questão da reeleição nas Casa do Congresso. O sr. tem opinião formada sobre o tema?
 
JD - Deve ser a decisão que o Congresso definir como mais adequada para sua independência, dentro da manifestação do STF.

 

 

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