PT critica gestões de Geraldo Alckmin em documento elaborado para programa de Haddad
Ex-governador do PSDB negocia filiação ao PSB para ser vice na chapa de Lula na disputa pela Presidência
Um documento elaborado na Fundação Perseu Abramo, ligada ao Partido dos Trabalhadores, faz críticas às gestões do ex-governador Geraldo Alckmin, em meio às tratativas para que ele seja vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva na disputa pela Presidência da República.
O texto, chamado "Diretrizes e ideias para um plano de recuperação e transformação do estado de São Paulo" e elaborado por intelectuais, especialistas e ex-mandatários do partido, visa contribuir para o programa de governo de Fernando Haddad ao governo do estado. O documento foi revelado pela "Folha de S.Paulo" e confirmado pelo GLOBO.
Um trecho diz que as gestões tucanas adotaram políticas neoliberais que ampliaram as desigualdades, a concentração de renda e sucatearam os serviços públicos no estado.
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"O neoliberalismo aplicado em São Paulo não se materializa apenas no ajuste fiscal, os sucessivos governos do PSDB avançaram numa agressiva política de transferência de patrimônio público à iniciativa privada por meio de privatizações e concessões, além de avançarem em uma agenda própria de reformas no Estado", afirma o documento.
Alckmin, que governou São Paulo em quatro oportunidades num partido que está no comando desde 1995, é citado duas vezes, associado a privatizações e renúncia fiscal do estado. Já o PSDB é mencionado, entre outras coisas, como tendo "capitaneado o conservadorismo paulista" e trilhado caminho distinto do PT, que, segundo o documento, manteve-se "fiel ao seu ideário de transformação da sociedade".
"O PSDB fundou-se como partido social-democrata, mas não honrou essa opção político-ideológica, desfigurando-se e assumindo uma postura conservadora em direção ao neoliberalismo, tanto no plano nacional como aqui em São Paulo. Quando não omisso, tem sido tíbio no enfrentamento da fome e da miséria e jamais colocou como opção o enfrentamento das desigualdades sociais, que são abissais, apesar de se tratar do estado mais rico da nação", afirma o documento.
Um dos protagonistas da formulação do PSDB paulista desde a década de 1990, Alckmin hoje negocia para ser vice da maior estrela petista, Lula. O ex-tucano deve se filiar ao PSB, segundo garantiu o próprio partido, e desembarcar com aliados no partido socialista. Lideranças petistas vêm mudando a retórica a respeito do ex-adversário desde que as tratativas se iniciaram no ano passado.
— Não terei nenhum problema em fazer chapa com o Alckmin para ganhar as eleições e governar esse país. Espero que ele esteja junto, sendo vice ou não, porque me parece que ele já se definiu como oposição não só a Bolsonaro como ao "dorismo" aqui em São Paulo — declarou Lula em janeiro deste ano.
Um dos coordenadores do documento, o ex-prefeito de Piracicaba José Machado afirmou ao GLOBO que "o texto não foi elaborado para ter essa repercussão pública" e que foi gerado após vários debates internos para subsidiar as diretrizes do PT para um programa de governo no estado. Segundo ele, a fundação "não tem a responsabilidade de se posicionar sobre políticas de alianças".
— Seria muito desrespeitoso e desonesto, do ponto de vista intelectual, ignorar que o PT foi oposição ao PSDB durante todo esse tempo. No texto fazemos um balanço desses 30 anos de oposição. Negar isso seria oportunismo.
Segundo Machado, apesar das críticas, os elaboradores do documento concordam que uma aliança com Alckmin é necessária para derrotar Jair Bolsonaro (PL) no fim do ano.
— O que está em jogo é algo muito maior que nossas divergências com Alckmin. Estamos diante de uma nova realidade. O país está sendo desmantelado. O fato de Lula ter chamado Alckmin para ser seu companheiro na chapa é uma resposta dentro do campo democrático.