PT encaminha acordo com Lira, mas vai disputar com PL comando da principal comissão
Petistas querem a garantia de que a divisão de cargos reserve à legenda um posto de comando importante na Casa; preferência é pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
A bancada do PT caminha para fechar um acordo para apoiar a candidatura à reeleição do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), mas integrantes do partido querem a garantia de que a divisão de cargos reserve à legenda um posto de comando importante na Casa.
A pretensão criou um embaraço, já que o objetivo principal é estar à frente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante. Na aliança em negociação por Lira, no entanto, o desenho de momento prevê que o colegiado fique com o PL, partido de Jair Bolsonaro e maior legenda da futura oposição a Lula.
Os partidos do Centrão costuram um acordo para que o PL, que terá a maior bancada na próxima legislatura (99 deputados), fique com a CCJ, enquanto o União Brasil, que formalizou na quarta-feira seu apoio ao deputado do PP, comandará a Comissão Mista de Orçamento (CMO). A ideia é que as duas siglas se revezem no segundo ano de mandato.
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Petistas, porém, resistem à essa composição e não querem ser escanteados pelo PL. Para participarem do bloco de Lira, pleiteiam a CCJ, por onde devem passar todas as pautas relevantes da Casa. O cargo é estratégico porque cabe ao presidente da CCJ o controle da pauta do colegiado, ou seja, determinar o que vai ou não ser votado, com o potencial de atrapalhar o andamento de medidas consideradas relevantes para o Palácio do Planalto.
— Isso é um assunto da bancada com o Lira. Mas o PT deve ficar com um espaço central — diz o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).
Aproximação com Lira
Fontes do PT ouvidas pelo GLOBO afirmam que a tendência é que a sigla anuncie apoio na próxima terça-feira. Deputados do PV e do PCdoB já estão inclinados também a aderir ao bloco de Lira, mas aguardam uma sinalização do PT, já que, na eleição, constituíram uma federação, que é obrigada a ter uma atuação parlamentar conjunta.
Quando foi eleito presidente da Câmara, em 2021, o primeiro ato de Arthur Lira foi retirar o espaço do PT na Mesa Diretora. Ele anulou a eleição dos cargos da Mesa e retirou a primeira secretaria dos petistas. Nos últimos dois anos, porém, deputados do PT se aproximaram de Lira mesmo assim e têm acenado favoravelmente à sua candidatura. Estima-se que mais de 20 petistas tenham votado em Lira em fevereiro do ano passado.
Até agora, o presidente da Câmara recebeu o apoio formal ou a sinalização de ao menos dez partidos que, somados, reunirão 328 dos 513 deputados. Ele selou aliança na quarta-feira com o União Brasil (59 deputados) e já tinha o apoio de PP (47), Republicanos (41), PDT (17), Podemos (12), PSC (6), Patriota (4) e PTB (1). O PL (99) e o PSD (42) ainda não anunciaram adesão formalmente, mas seus dirigentes já deram sinalizações de que vão integrar o bloco. Após sair de uma reunião na terça-feira, a presidente do Podemos, deputada Renata Abreu (SP), deu o tom do cenário em curso ao ser questionada se o partido que comanda também estaria ao lado de Lira:
— E tem outro candidato?
A bancada do PT vai se reunir na próxima terça-feira e declarar sua posição na eleição. A avaliação de parlamentares é de que, com a urgência para aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição e liberar espaço no Orçamento no ano que vem para o Bolsa Família, o PT foi pressionado a anunciar o apoio antecipadamente, se unindo aos demais partidos.
PT, PV e PCdoB elegeram 80 deputados. É a segunda maior bancada depois do PL, que elegeu 99 parlamentares para a Câmara dos Deputados.
Cunha na memória
Um dos combustíveis para a tendência de adesão do PT a Lira é a lembrança do que ocorreu em 2015, durante o segundo mandato da presidente petista Dilma Rousseff.
Na ocasião, o partido resolveu lançar a candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP) ao comando da Câmara, criando uma fissura na base aliada, já que o MDB apresentou o nome de Eduardo Cunha (RJ).
A relação do governo com Cunha se deteriorou, pautas que contrariaram os interesses do Planalto ganharam fôlego e, em 2016, o então deputado foi um dos principais atores do impeachment de Dilma.