Logo Folha de Pernambuco

Partido

PT tem força de Lula questionada e admite erros no pleito municipal

O partido agora tenta se recompor para evitar a repetição desse cenário em 2022

O ex-presidente LulaO ex-presidente Lula - Foto: Reprodução/Youtube

Após uma eleição em que deixou de conquistar capitais pela primeira vez, viu seu número de prefeituras cair quase um terço e teve questionada a força do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT admite que sofreu um dos maiores reveses de sua história. Mas afirma que parte das razões para isso fugiram ao seu controle.

O partido agora tenta se recompor para evitar a repetição desse cenário em 2022 e busca dissociar os resultados de domingo (29) das chances de retomar a Presidência. "Não podemos dourar a pílula, o PT sofreu uma derrota", diz o secretário de Comunicação da sigla e candidato derrotado a prefeito de São Paulo, Jilmar Tatto. O problema de fundo, diz ele, é que o eleitorado não enxergou no partido uma alternativa ao governo de Jair Bolsonaro.

"O povo foi conservador. Em 2018, votou no Bolsonaro e sua vida piorou, em função da pandemia e do desemprego. Mas agora ficou com medo de mudança." Em termos práticos, isso significou, segundo Tatto, a opção por candidatos e partidos tradicionais. "Esse movimento do eleitorado contra Bolsonaro não veio para nós, ele foi para o centro", diz.

Apesar disso, Tatto aponta como triunfo o fato de o PT ter contribuído para a derrota de candidatos mais ligados ao presidente. "Iniciamos a campanha para derrotar o obscurantismo e o fascismo. Isso nós conseguimos, não é pouca coisa."
Mesmo tendo queda de 256 para 183 cidades administradas, ou 28,5%, o PT enxerga alguns pontos positivos numa eleição deprimente.

Conseguiu estar em 15 segundos turnos e venceu em 4: Contagem e Juiz de Fora, em Minas, Diadema e Mauá, em São Paulo. Há quatro anos, esteve em 7, perdendo em todos. Especialmente festejado foi o fato de ter retornado ao poder na região do ABCD Paulista, berço do partido. No cômputo geral, o PT manteve praticamente inalterado o número de eleitores que governará, pouco mais de 6 milhões.

Além disso, desfez em parte a imagem de partido "fominha", abrindo espaço para aliados em cidades como Porto Alegre, Florianópolis e Belém. Na capital paraense, indicou o vice do prefeito eleito, Edmilson Rodrigues (PSOL). O fato de a base de comparação ser com 2016 não serve de grande alento, no entanto, porque representou o fundo do poço para o partido, durante o auge da Lava Jato.

Em um balanço publicado em seu site, o PT diz que parte do resultado negativo se deve a uma ofensiva desleal que sofreu ao longo da campanha. "O Brasil viveu neste segundo turno as eleições mais sujas de sua história, diante da conivência das autoridades e da mídia hegemônica, retrocedendo o país aos tempos da República Velha", afirma o artigo.

O senador Jaques Wagner (BA) questiona a avaliação de que o partido perdeu, e considera que o resultado ficou no "zero a zero". "É evidente que a gente esperava que o desempenho fosse melhor. Mas seguramente não é a catástrofe que alguns querem impor."

Houve uma série de dificuldades, afirma Wagner. Uma das principais, diz, é o fato de Lula não ter podido fazer campanha pelo Brasil, como costuma acontecer em todas as eleições, por causa da pandemia. "Lula só fez gravações. Parte da nossa força é a rua, que estava interditada pela Covid", afirma o senador baiano.

Outro ponto destacado como prejudicial ao PT foi a liberação do auxílio emergencial pelo governo federal, que favoreceu quem buscava a reeleição. "Quem está sentado na cadeira, no momento em que o povo está doente e assustado, e com o auxílio que chegou, teve uma condição privilegiada", diz Wagner.

O senador afirma que o PT errou ao lançar muitas candidaturas pelo país, o que gerou uma grande demanda pelo fundo eleitoral. "Acabou não sendo suficiente para todos." Ex-presidente do partido, o deputado federal Rui Falcão (SP) afirma que a eleição mostrou um PT resistente, mas que precisa fazer um balanço interno.

"A eleição mostrou que o PT, mesmo atacado pela direita e pelas elites dominantes, não desapareceu. Permanece vivo, embora deva passar por um balanço autocrítico e por reformas profundas." Para Falcão, é vital reorganizar o partido e desburocratizar seu funcionamento. E, sobretudo, a legenda falhou ao não investir com força na pauta anti-Bolsonaro. "Faltou um entrelaçamento maior das questões locais com os problemas nacionais. Um confronto mais nítido com Bolsonaro, seu governo e suas políticas."

O partido deverá fazer um debate interno sobre a eleição, em que a estratégia eleitoral da direção deverá ser questionada. As chances de uma mudança de comando são escassas, contudo, porque a presidente do partido, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), tem o apoio de Lula e ainda mais três anos de mandato. O ex-senador Aloizio Mercadante afirma que o grande derrotado da eleição foi o bolsonarismo, por não ter conseguido se firmar em um partido e não ter tido candidatos competitivos.

Mas a esquerda também perdeu espaço, pondera. "O PT teve uma grande queda em 2016 e não conseguiu voltar ao que era antes disso. Fica um imenso desafio para o partido voltar a ter a presença que teve no passado", afirma Mercadante, presidente da Fundação Perseu Abramo, centro de estudos do PT. A primeira tarefa para o partido, diz, é atrair sangue novo. "O PT precisa se abrir para trazer novas lideranças. Vai ter que se reestruturar."

Para 2022, o mais importante é não haver "canibalização da esquerda". Até porque, diz, o resultado municipal não será definidor para o nacional. "Tínhamos sofrido uma grave derrota nas eleições municipais de 2016, o golpe [impeachment de Dilma Rousseff], a prisão do Lula e fomos para o segundo turno na eleição presidencial [em 2018]", afirma Mercadante.

Veja também

Eduardo Paes e Sérgio Moro protagonizam bate-boca virtual: "Recolha-se a sua insignificância"
DISCUSSÃO

Eduardo Paes e Sérgio Moro protagonizam bate-boca virtual: "Recolha-se a sua insignificância"

Advogado de Mauro Cid diz que Bolsonaro tinha conhecimento do plano de golpe
OPERAÇÃO CONTRAGOLPE

Advogado de Mauro Cid diz que Bolsonaro tinha conhecimento do plano de golpe

Newsletter