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Dama do Tráfico

"Que tem de palpável contra ela?", diz advogada que indicou "dama do tráfico" a viagem

Em entrevista à Folha de S. Paulo, presidente interina do Comitê Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Amazonas justificou presença de Luciane Barbosa Farias em encontro em Brasília

Luciane Barbosa Farias com a advogada Natividade Maia no evento em Brasília Luciane Barbosa Farias com a advogada Natividade Maia no evento em Brasília  - Foto: Reprodução/Instagram

Presidente interina do Comitê Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Amazonas (CEPCT-AM), a advogada Natividade Maia defendeu, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, a indicação de Luciane Barbosa Farias — mulher de um chefe de facção no estado e conhecida como "dama do tráfico" — para participar, em Brasília, no início de novembro, do Encontro de Comitês e Mecanismos de Prevenção e Combate à Tortura. A viagem de Luciane foi custeada pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.

Depois de o episódio vir à tona, a pasta informou que a responsabilidade pela escolha dos participantes coube aos colegiados estaduais vinculados ao Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura — no caso do Amazonas, o CEPCT-AM. De acordo com o ministério, ainda que as verbas que bancaram as viagens e diárias saiam de seu orçamento, os comitês estaduais têm "autonomia administrativa e orçamentária".

— O que tem de palpável contra essa pessoa? Eu não tenho um único documento oficial, nada, que ligue essa jovem, essa mulher, à organização criminosa. O que acontece é a criminalização dos familiares dos presos — disse a presidente interina do CEPCT-AM à Folha.

Luciane foi condenada em segunda instância a 10 anos de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa, mas recorreu e responde em liberdade. Ela é mulher de Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, chefe da facção amazonense, e, segundo o Ministério Público, desempenhou um papel essencial na ocultação de valores do tráfico movimentados pelo marido.

— A dona Luciane apresentou uma certidão negativa criminal, emitida pelo Tribunal de Justiça do Estado do amazonas, porque ela não tem uma sentença penal condenatória transitada em julgado — justificou Natividade Maia.

A advogada acrescentou que, por ser mulher de um preso, Luciane teria "lugar de fala" para tratar da situação da população carcerária:

— Ela, por ser mulher de um preso, tem lugar de fala para fazer a defesa dos direitos das pessoas encarceradas, porque lá dentro ocorrem muitas violações de direitos, tanto dos presos quanto dos familiares.

Luciane dirige a Associação Instituto Liberdade do Amazonas (AILA), cuja página oficial nas redes divulgou fotos da participação dela no evento em Brasília. Segundo Natividade Maia, a AILA cumpriu com todos os requisitos do edital para integrar o CEPCT-AM. Após o pedido do Ministério dos Direitos Humanos para que o comitê indicasse nomes para participar do encontro em Brasília, a presidente interina diz que optou por contemplar membros que ainda não haviam participado de agendas do gênero.

— Não quero te dizer se eu acho certo ou errado ela fazer parte disso aí. Acho que siso é uma opinião de cada pessoa — disse Natividade ao ser questionada se achava adequado uma pessoa condenada em segunda instância e casada com um chefe de facção participar de um encontro sobre direitos humanos.

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