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Escândalo no MEC

Quem são os pastores lobistas alvos de operação da PF

Moura e Santos participaram de 22 agendas na pasta, geralmente acompanhados de dezenas de prefeitos

Sede do Ministério da Educação, em BrasíliaSede do Ministério da Educação, em Brasília - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A atuação de dois pastores dentro do Ministério da Educação (MEC) nos últimos dois anos levantou suspeitas de esquema de tráfico de influência e é investigada pela Polícia Federal, na operação que resultou na prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro nesta quarta-feira.

Durante a gestão de Ribeiro, de junho de 2020 a março de 2022, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura levaram dezenas de prefeitos para reuniões e são acusados de cobrar propina para facilitar o repasse de verbas para os municípios.

A relação dos religiosos, da Assembleia de Deus Ministério Cristo para Todos, sobre a verba do MEC foi divulgada pelo Globo ainda em março. Moura e Santos participaram de 22 agendas na pasta, geralmente acompanhados de dezenas de prefeitos.

Muitos municípios que participavam dos encontros conseguiram liberação de verbas para construção de escolas ou quadras esportivas em questão de dias, passando por cima da rotina burocrática da administração pública. Embora exibam tanto poder na pasta, Gilmar e Arilton não têm cargo no ministério.

Protagonista nos relatos de lobby dentro do Ministério da Educação, o pastor Gilmar dos Santos se apresenta como uma das principais lideranças da Assembleia de Deus do país. Em suas redes sociais, ele diz que há 40 anos prega o evangelho e divulga suas aulas de teologia. Santos é fundador da Igreja Assembleia de Deus Ministério Cristo para Todos e presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil Cristo Para Todos.

Antes mesmo da chegada de Ribeiro ao MEC, Santos já tinha papel de influência: desde o início do mandato, o pastor já esteve quatro vezes com o presidente Bolsonaro, três delas no Palácio do Planalto. Além disso, também se reuniu com outros três ministros.

Arilton Moura, braço direito de Gilmar nas agendas do Ministério, é apontado por prefeitos como o principal nome na cobrança de vantagens indevidas. Ele também é assessor de assuntos políticos da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil. Nenhum dos dois pastores citados possuem vínculo formal com o MEC.

A propina

Em um áudio obtido pela Folha de S.Paulo, Ribeiro diz que atende a pedidos de Gilmar e do pastor Arilton Moura para liberar verbas para prefeituras, por orientação do presidente Jair Bolsonaro. Na gravação vazada, que teria sido feita durante um encontro com Gilmar e Arilton dentro do ministério, Ribeiro diz:

— Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar. [...] Por que ele? Porque foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do Gilmar.

Após o vazamento, o prefeito de Luis Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB) disse ao jornal “O Estado de S. Paulo” que o pastor Arilton Moura teria cobrado, de forma antecipada, R$ 15 mil em troca de sua influência no MEC a favor da prefeitura. Além disso, o religioso também teria pedido 1 kg de ouro após a liberação dos recursos.

Como revelado pelo Globo, a dupla também vendia Bíblias como uma das formas de pagamento de vantagens indevidas. O prefeito de Bonfinópolis (GO), Kelton Pinheiro contou que Arilton Moura pediu R$ 15 mil e também comprasse Bíblias para ajudar na “construção da Igreja”. O mesmo enredo é narrado pelo prefeito de Boa Esperança do Sul, São Paulo, José Manoel de Souza. Ele revelou uma solicitação feita pelo pastor lobista de R$ 40 mil em propina para "ajudar a igreja".

A defesa de Milton Ribeiro

Em agosto de 2021, o ex-ministro Milton Ribeiro disse que recebeu uma denúncia anônima sobre a dupla de pastores e que, imediatamente, encaminhou as informações à Controladoria-Geral da União. As informações foram repassadas para a Polícia Federal.

Dede março, o ministro nega as acusações de corrupção em seu gabinete. “Não há nenhuma possibilidade de o ministro determinar alocação de recursos para favorecer ou desfavorecer qualquer município ou estado”, disse em nota, à época.

Nesta quarta-feira, o advogado de defesa classificou a prisão do ex-ministro como "ilegal" e disse que vai ingressar com um Habeas Corpus pela soltura.

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