Reação bolsonarista após defesa de "direita unida" mostra Zema enfraquecido
Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro como Fabio Wajngarten classificaram declaração do governador mineiro como "oportunismo"
O governador mineiro Romeu Zema irritou parte da direita bolsonarista, em especial do entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro, durante discurso no CPAC Brasil no sábado, em Belo Horizonte.
Após Zema pregar a direita unida nas próximas eleições, figuras importantes do bolsonarismo bombardearam o governador com críticas. A declaração foi feita durante sua palestra no congresso organizado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
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— Ano que vem tem eleição municipal. Temos de eleger bons vereadores e bons prefeitos aqui em Minas e em todo o Brasil. E a direita precisa trabalhar unida. Nós temos de estarmos juntos. Não podemos... — discursava Zema para a plateia do evento antes de ser interrompido por uma espectadora, que que disse ter sido demitida por não ter se vacinado. O governador deixou o palco em seguida.
Interlocutor de Bolsonaro, o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten disse que "quem prega esse papo não mexe uma palha pela direita".
"O presidente @jairbolsonaro vem sendo perseguido desde janeiro 23. Não tem nenhuma ligação no meu celular, que está à disposição 24/7 ligado, de ninguém pregando união, nem oferecendo solidariedade, nem sugestão, nem nada. É tudo jogo de oportunismo político", escreveu no Twitter.
Wajngarten ganhou endosso de comunicadores de peso como Kim Paim (740 mil inscritos no YouTube) e Fernando Lisboa, do Vlog do Lisboa (907 mil inscritos). A advogada Flávia Ferronato (652 mil seguidores no Twitter) pediu "honestidade intelectual" a quem pede a união da direita, e o youtuber Ed Raposo (226 mil seguidores) também mandou recado a Zema.
"Os caras tratam Bolsonaristas como radicais, extremistas, ultraconservadores cristãos, reacionários, etc... Só pregam união da direita na hora de receber votos e quando são criticados. Onde estavam nos últimos 4 anos pra ajudar? É só 'venha a nós'? Cadê 'ao vosso reino'?", criticou Paim.
Ex-secretário da Receita Federal, o economista Marcos Cintra saiu em defesa do mineiro e escreveu que "a reação virulenta de parte da direita contra a proposta de união dos liberais prova como ela é necessária e urgente".
A reação mostra que o mineiro aparece ainda distante de aglutinar o bolsonarismo para se viabilizar como presidenciável apto a bater de frente com o PT nas eleições de 2026. Para aliados de Bolsonaro, o ex-presidente não tem recebido o apoio devido diante das investigações da Polícia Federal sobre ele e sua família.
Além de ter sido condenado à inelegibilidade pelo Tribunal Superior Eleitoral por propagar ataques contra o sistema eleitoral, Bolsonaro é investigado pelo caso das joias sauditas, pelos ataques do 8 de janeiro e por fraudes em seu cartão de vacinação, por exemplo.
Zema, no entanto, tem feito seus gestos. O governador participou de uma solenidade na Assembleia Legislativa (ALMG) que concedeu a Bolsonaro o título de cidadão honorário de Minas Gerais em agosto, em Belo Horizonte. Ele aproveitou a presença do aliado para elogiar a gestão da pandemia e a relação com o governo estadual.
— Nesses quatro anos (2019 a 2022), as portas dos ministérios do governo Bolsonaro estiveram sempre abertas para os nossos pedidos. Éramos ouvidos não como quem cumpre uma obrigação, mas com a atenção de quem quer de fato alcançar soluções — discursou Zema na ocasião.
Procurado para falar das críticas que recebeu, Zema não quis se manifestar.
O CPAC Brasil realizado em terras mineiras, depois de São Paulo, Brasília e Campinas (SP) terem sediado o evento, deu a Zema e ao deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), o mais votado do país na eleição de 2022, o papel de anfitriões. Os ingressos para o congresso, vendidos inicialmente a R$ 249, foram custeados pelo Insituto Álvaro Valle, fundação vinculada ao Partido Liberal.
Em 2019, a primeira edição do CPAC Brasil também teve financiamento partidário, quando foi custeado pela fundação ligada ao antigo PSL (que se fundiu ao DEM e foi rebatizado de União Brasil), a Fundação Índigo. O custo aproximado do evento, realizado em São Paulo, foi de R$ 850 mil.
A conferência costuma reunir grandes figuras do bolsonarismo. Deputados federais como André Fernandes (PL-CE), Filipe Barros (PL-PR), Júlia Zanatta (PL-SC), Marcos Pollon (PL-MS) e Gustavo Gayer (PL-GO) palestraram neste ano, além de comunicadores como Bárbara Destefani e Adrilles Jorge.