Reaproximação de Lula e Marina Silva esbarra em mágoas do passado e 'birra'
Enquanto um espera que o outro dê o primeiro passo para reatar a relação, a possibilidade de os dois estarem juntos na eleição é considerada remota
Desejada por um grupo heterogêneo que reúne do ex-prefeito Fernando Haddad à empresária Rosângela Lyra, ex-CEO da Dior no Brasil, a reaproximação entre o ex-presidente Lula (PT) e a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede) está emperrada por causa das mágoas do passado.
Enquanto um espera que o outro dê o primeiro passo para reatar a relação, a possibilidade de os dois estarem juntos na eleição é considerada remota. O ex-presidente tem defendido o diálogo até com quem apoiou impeachment de Dilma Rousseff.
A Rede está próxima de formalizar uma federação com o PSOL. E a tendência é que essa federação apoie Lula, mas a Rede pode dar autorização para que seus filiados declarem voto em outro candidatos. Marina, por exemplo, tem mais inclinação pelo presidenciável Ciro Gomes (PDT).
Além de Haddad e Rosângela Lyra, desejam também promover um armistício entre Lula e Marina o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que ocupa o cargo de coordenador de campanha de Lula, o ex-ministro Cristovam Buarque, o ex-deputado Maurício Rands e o ambientalista Pedro Ivo. Os movimentos de aproximação, porém, ainda não evoluíram.
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Lula acha que a iniciativa para uma reconciliação teria que partir de Marina. Já aliados da ex-ministra acreditam que caberia ao ex-presidente dar o primeiro passo. O petista foi aconselhado a nomear um interlocutor para cuidar do assunto, mas ainda não o fez. De acordo com petistas próximos, não há expectativa de que tome essa iniciativa.
Quando retomou o diálogo com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula designou o ex-ministro da Justiça Nelson Jobim para aparar as arestas com o tucano. A reaproximação foi selada em um almoço na casa de Jobim, em maio do ano passado.
Em relação a Marina, a avaliação de pessoas próximas é que Lula não faz questão da reaproximação, apesar de que aceitaria conversar com a sua ex-ministra se ela o convidasse.
Pelo lado de Marina, uma pessoa próxima da ex-senadora acredita que ela só concordaria em ter uma conversa se o ex-presidente mandasse um emissário pedir, mesmo que de forma reservada, desculpas à ex-ministra em razão dos ataques promovidos pelo PT contra ela na campanha presidencial de 2014, quando foi candidata pelo PSB e chegou a liderar as pesquisas de intenção de voto.
Na ocasião, Dilma Rousseff, que disputava a reeleição, acusou Marina de ser “sustentada por banqueiros” por causa do fato de a socióloga Neca Setúbal, que é acionista da família dona do Banco Itaú, ser coordenadora de seu programa de governo. Também incomodou Marina programa eleitoral do PT que mostrava a comida desaparecendo de uma mesa, caso ela fosse eleita.
Além disso, Lula também criticou a ex-ministra ao afirmar que Marina não “leu o programa de governo que foi feito para ela ou não aprendeu nada no período que esteve no PT”.
Outro ponto que demandaria uma atenção de Lula, diz um aliado do petista, é buscar esclarecer, de alguma forma, a tentativa de saída de Marina do Ministério do Meio Ambiente do ex-presidente, no fim de 2006.
Ainda durante a campanha de 2014, o jornal “Folha de S. Paulo” revelou que Lula relatava em conversas reservadas que convenceu Marina a ficar no governo na época ao dizer que sonhou que Deus pedia que ela permanecesse no posto.
Dias antes, a então ministra teria pedido demissão, na versão de Lula, com o argumento de que havia conversado com Deus sobre sua saída do governo. Marina ficou muito irritada com a divulgação do episódio. Questionado, na época, Lula não negou o episódio e afirmou que “só Deus poderia esclarecer” a conversa.
Já Marina relatou que ao conversar com Lula sobre o seu desejo de sair do governo em 2006 afirmou “ter pedido a Deus que confirmasse em seu coração aquele seu desejo”. Pessoas próximas consideram que Lula zombou da fé da ex-ministra, que é evangélica, pela forma como tratou do caso. Marina ficou no governo e só deixou o ministério em maio de 2008.
Antes da saída do Ministério do Meio Ambiente, Lula e Marina mantiveram uma relação de proximidade por duas décadas. A primeira filha da ex-senadora, Moara, foi batizada com um nome que, em tupi-guarani, significa liberdade. Foi uma homenagem a Lula, que disputava, quando Moara nasceu, em 1989, sua primeira eleição presidencial.
O último a embarcar na missão de reaproximar Lula e Marina foi Haddad. Na eleição de 2018, a ex-ministra declarou, no segundo turno, “apoio crítico” ao então candidato a presidente pelo PT na disputa contra Jair Bolsonaro.
Enquanto não define qual será sua participação nas eleições presidenciais deste ano, Marina analisa convite feito por integrantes da Rede para que seja candidata a deputada federal para ajudar a sigla a atingir a cláusula de barreira.