Recife e Olinda: marcadas pela desigualdade
É um aniversário duplo: 480 anos do Recife e 482 de Olinda, o que revela a ligação intrínseca dos dois municípios. Mas a proximidade é apenas física. Olinda sofre com a baixa dinâmica da economia e problemas estruturais e o Recife concentra maior parte da
Centenárias cidades-irmãs, Recife e Olinda completam, respectivamente, 480 e 482 anos de história tão ricas quanto indissociáveis, mas com realidades muito diversas. Enquanto Recife segue como a administração cobiçada por grupos políticos em busca de ascensão, Olinda carrega a fama de cidade-dormitório e baixa arrecadação, que guarda severas dificuldades para os seus gestores. Uma realidade comprovada pelos números. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) da Capital é de R$ 50,7 bilhões em forte contraste com a Marim dos Caetés, que possui apenas R$ 5,3 bilhões.
Leia também:
Olinda e Recife: duas irmãs cosmopolitas
Roteiro com o que há de melhor no Recife e em Olinda
O tempero de Olinda e do Recife
Um retrato que nem sempre foi uma constante na história. Olinda é uma das mais antigas cidades brasileiras, que despertou paixão no primeiro donatário da Capitania de Pernambuco, Duarte Coelho. Olinda foi a primeira capital de Pernambuco e foco do poder político e administrativo de um dos territórios mais rentáveis da colônia portuguesa. Recife era apenas um porto de Olinda e moradia de pescadores. Uma realidade que começou a mudar com a invasão dos holandeses (1630-1654), que começaram a priorizar Recife devido à posição dos portos, que era estratégico para o escoamento de mercadorias para os invasores.
"Os holandeses tornaram Recife o grande centro, ofuscando Olinda. Isso aconteceu por conta do porto, que era o local de escoamento de riquezas, além do comércio forte da Cidade. Os holandeses passaram a investir mais no Recife", afirma o professor de história da Universidade Católica de Pernambuco, Flávio Cabral.
O acirramento entre as cidades chegou ao seu limite na Guerra dos Mascates, em 1710, quando senhores de engenho de Olinda se enfrentaram com os comerciantes recifenses, chamados de mascates. Com a intervenção colonial, Recife se equiparou à Olinda, conquistando um protagonismo político cada vez maior. Em 1827, Recife ganhou de vez o título de Capital.
Disparidades
Hoje, as duas cidades mantêm disparidades nas suas realidades política e econômica. A Capital possui uma cadeia de comércio e serviço fortes, o que garante uma arrecadação maior capacidade de investimento da mesma proporção. Enquanto Recife teve suas receitas realizadas em mais de R$ 4 bilhões, o patamar de Olinda é bem mais baixo, com R$ 588 milhões. Um número que se revela também nas despesas. Com maior capacidade de investimento, a Capital gastou R$ 4.050.607, enquanto a Marim dos Caetés apenas investiu R$ 559.924 milhões. Os dados se referem ao ano de 2014.
"Recife tem uma base econômica bastante consistente, muito centrada no comércio e nos serviços que atende não só a cidade, mas outros municípios do Estado e até o Nordeste oriental. Recife é um território pequeno ( 218,435 km²) com uma boa base econômica", afirma a economista Tânia Bacelar.
Problemas
O maior problema de Recife é o crescimento populacional, que não contou com uma base de planejamento no passado. Hoje, a Capital possui mais de 1.6 milhão de habitantes. "É uma cidade que cresceu muito em pouco tempo. Na década de 1950, Recife tinha 500 mil habitantes. Vinte anos depois (1970), tinha 1,1 milhão. Isso foi êxodo rural intenso. É uma população que subiu o morro, foi para áreas alagadas, sem infraestrutura. Recife tem um problema de gestão grande, porque metade da cidade é não tem infraestrutura decente", diz Tânia.
Já Olinda é marcada por uma economia menos dinâmica e administrações com menor poder de investimento. "A base econômica é muito frágil. Uma parte importante da população trabalha fora. Então, não tem uma arrecadação forte. E é uma cidade cara porque é uma cidade histórica, que tem um patrimônio da humanidade e que precisa de cuidados especiais. É um desafio ser gestor de Olinda. Mais difícil do que ser gestor do Recife", avalia.