Caso Marielle

Relatório da PF afirma que Domingos Brazão tinha influência na nomeação de cargos na Polícia Civil

Ao longo de 25 anos de vida pública, Domingos coleciona envolvimento em suspeitas de corrupção, fraude, improbidade administrativa, compra de votos e até homicídio

Chegada dos irmãos Brazão em Brasília, suspeitos de mandarem assassinar MarielleChegada dos irmãos Brazão em Brasília, suspeitos de mandarem assassinar Marielle - Foto: José Cruz/Agência Brasil

O relatório final da Polícia Federal sobre a investigação dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes afirma que a família Brazão exerce influência dentro das polícias Civil e Militar. Segundo o documento, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio Domingos Brazão "é capaz de nomear comandantes de batalhão das áreas de seu interesse e também de movimentar peças desde a chefia de Polícia Civil à titularidade das delegacias distritais localizadas nos bairros comandados pelos Brazão".

Suspeitos de serem os mandantes do crime, o deputado federal Chiquinho Brazão (União-RJ) e o conselheiro do TCE Domingos Brazão foram presos neste domingo (24) juntamente com o delegado Rivaldo Barbosa, responsável por todo o planejamento.

Os investigadores citam como exemplo de ingerência do conselheiro do TCE a nomeação do delegado William Pena Júnior para o cargo de subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Polícia Civil, após a prisão do ex-sargento do Corpo de Bombeiros Maxwell Simões Correa, o Suel, realizada pela Polícia Federal e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), na Operação Élpis, em junho do ano passado. Pena Júnior foi nomeado para o cargo somente em setembro de 2023. Ele negou que sua nomeação ao cargo tenha sido influenciada por Domingos Brazão.

A PF afirma que ainda que Pena Júnior e Domingos Brazão teriam uma relação de proximidade e que o delegado teria sido segurança de Brazão, anos antes de passar no concurso da Polícia Civil, quando ainda era policial penal. O delegado afirmou que nunca trabalhou para o conselheiro do TCE. O relatório, entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), diz ainda que a festa de formatura da turma de William Pena na Polícia Civil, em 2010, teria acontecido em uma propriedade da família Brazão.

Os investigadores também apontam a sociedade entre William Pena Junior com Robson Calixto, o Peixe, assessor de Domingos Brazão, na empresa RMW Consultoria e Serviços Ltda. Peixe é apontado por Ronnie Lessa como sendo um dos intermediários entre os mandantes e os executores do assassinato de Marielle. Procurado pelo GLOBO, William Pena Júnior, hoje titular da delegacia Antissequestro, disse que mantém uma amizade com Robson Calixto, assessor de Brazão, desde 2001, muita antes da carreira de policial e que a sociedade mencionada entre eles no relatório da PF durou pouco tempo, justamente por não ser possível conciliar a atividade empresarial com a carreia policial. Ele desfez a sociedade em 2015. O delegado afirmou que conhece Domingos Brazão, mas que nunca manteve uma relação íntima com conselheiro do TCE (Leia a nota na íntegra abaixo).

Pena Júnior já foi titular da Delegacia de Repressão a Organizações Criminosas da Polícia Civil (Draco) especializada responsável por investigar e combater as ações das milícias. Durante o período que chefiou a Draco, Medeiros Pena Júnior prendeu 240 milicianos, entre eles Edmilson Gomes Menezes, o Macaquinho, e também localizou Wellington da Silva Braga, o Ecko, morto após troca de tiros. O delegado também trabalhou na identificação de criminosos que tentaram sequestrar um helicóptero para resgatar presos, no Complexo do Gericinó.

Antes disso, em janeiro de 2022, foi presidente do Departamento de Transportes Rodoviário do Estado do Rio de Janeiro, o Detro, ficando nove meses no cargo. Além de fiscalizar o transporte irregular, área de exploração da milícia, o Detro também autoriza leilões de veículos apreendidos sendo de especial interesse para vendedores de automóveis e proprietários de ferros velhos. Pena Júnior pediu exoneração do cargo em outubro do mesmo ano justificando “questões de foro pessoal”.

Na ocasião de sua nomeação ao cargo, Pena Júnior disse que sua gestão seria marcada pela continuidade da força-tarefa contra os grupos criminosos ligados a milícia. E afirmou ainda que faria uma parceria inédita com a Polícia Civil com o objetivo de combater as atividades irregulares dos grupos criminosos na exploração de vans piratas, por exemplo.

Leia a nota na íntegra:

"É necessário separar os fatos para não haver uma falsa narrativa. Conheço Robson Calixto desde 2001. Fomos concunhados. Eu sequer era policial. E mantemos amizade até os dias de hoje.

Tentamos uma sociedade, que durou pouco tempo, em virtude de não ser possível naquela época conciliar minha trajetória com a atividade empresarial. Salvo engano saí da sociedade em 2015. Ou seja, há quase 10 anos.

Conheço o Conselheiro Domingos Brazão antes de ser policial, pois parte da minha vida foi em Jacarepaguá. Mas, nunca tive relacionamento íntimo com ele. Conheço também outros conselheiros, deputados, juízes e promotores.

É totalmente equivocada a informação de que fui nomeado por sua indicação. Em verdade, acabei sendo SSPIO por determinado delegado ter sido vetado à época. Inclusive isso foi noticiado.

Mantenho relacionamento com Dr. José Renato Torres, quem me nomeou de forma independente. O convite, inclusive, foi para outro cargo que não SSPIO. Aliás, graças a Deus, nunca precisei de nenhuma indicação política para qualquer cargo dentro da polícia civil. Me formei em 2010, fui a titular em 2014 e sou até hoje. Passei por vários chefes de polícia e secretários, diretores de departamento, dentre outros staffs.

Embora bastante tranquilo, me sinto triste por verificar a tentativa de humilhação e vinculação pública da minha imagem a um fato tão grave. Bastava um telefonema que eu teria explicado minha relação com Robson Calixto, que é de amizade. Acredito que a PF tenha sido levada a erro por alguém, alguma fonte humana mal intencionada".

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