Relembre declarações com ofensas às mulheres feitas pelo presidente e a família Bolsonaro
Frases com conteúdos machistas e misóginos ditas por ele e pelos seus filhos são lembradas nas redes sociais
O presidente Jair Bolsonaro (PL) participou, nesta terça-feira (8), de uma cerimônia em comemoração ao Dia da Mulher, no Palácio do Planalto, em Brasília. Na data em que o chefe do Executivo assina dois decretos que instituem programas voltados às mulheres, frases com conteúdos machistas e misóginos ditas por ele e pelos seus filhos são lembradas nas redes sociais.
No episódio mais citado, o presidente (na época, deputado) afirmou que a também parlamentar Maria do Rosário (PT-RS) "não merecia ser estuprada" — fato pelo qual foi condenado a pagar indenização. O patriarca da família usará o mês de março para fazer acenos a este eleitorado e diminuir a rejeição.
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Recentemente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) associou a contratação de mulheres ao acidente da obra da linha 6 do Metrô de São Paulo, enquanto o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse que as colegas mulheres tinham menos interesse em participar da CPI da Covid e enfrentar o tema do que os homens do Congresso.
Desde a campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro mostra-se contrário às leis na direção da equidade de gênero no mercado de trabalho.
Ele defendeu que o assunto seja discutido caso a caso na Justiça. No ano passado, ele disse durante uma live que, se sancionasse o projeto de lei que aumenta a multa trabalhista para empregadores que pagam salários diferentes para homens e mulheres que exercem a mesma função, poderia tornar "quase impossível" a entrada de mulheres no mercado de trabalho.
"Qual a consequência disso vetado ou sancionado? Vetado, vou ser massacrado. Sancionado, você acha que as mulheres vão ter mais facilidade de arranjar emprego ou não no mercado de trabalho. Vamos ver se eu sancionar como vai ser o mercado de trabalho para a mulher no futuro. É difícil para todo mundo, para a mulher é um pouco mais difícil. (Vamos ver) Se o emprego vai ser quase impossível ou não", disse o presidente.
Em abril de 2017, o presidente afirmou que teve uma filha após ter tido quatro filhos porque deu “uma fraquejada”. Durante palestra no Clube Hebraica, ele disse: “Fui com os meus três filhos, o outro foi também, foram quatro. Eu tenho o quinto também, o quinto eu dei uma fraquejada. Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio mulher”.
Em abril de 2019, Bolsonaro gerou polêmica ao se mostrar contrário à vinda de turistas do público LGBTQI+ para o Brasil. Durante o declaratório, ele se mostrou favorável ao turismo sexual com mulheres. “Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”. A frase foi considerada homofóbica e machista. Em resposta, vários estados brasileiros lançaram campanhas contra a exploração sexual.
Ao longo do mandato, Bolsonaro proferiu frases machistas a jornalistas que cobrem o seu mandato. Em um dos episódios mais lembrados, ele usou de ironia para responder às denúncias feitas pela jornalista Patrícia Campos Mello, sobre possíveis irregularidades na sua campanha eleitoral. O presidente afirmou que a profissional “queria dar o furo”.
“Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo”, disse a apoiadores no cercadinho em frente ao Palácio da Alvorada. O posicionamento provocou reações de entidades de classe e uma onda de solidariedade à profissional nas redes sociais.
No ano passado, Bolsonaro mandou a repórter Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da Globo, “calar a boca” após a jornalista ter questionado o fato de ele ter chegado ao local sem usar máscaras, conforme exigia uma lei do estado de São Paulo, como medida de enfrentamento à pandemia da Covid-19.
Poucos dias depois, quando questionado sobre o atraso de vacinas contra a doença, o presidente mandou a repórter da Rádio CBN, Victoria Abel, "voltar para a faculdade, para o ensino médio, depois para o jardim de infância e aí nascer de novo”. A jornalista Daniela Lima, da CNN Brasil, também já foi chamada de "quadrúpede" pelo chefe do Executivo.
O episódio de machismo cometido por Bolsonaro mais mencionado ocorreu no dia 9 de dezembro de 2014, na Câmara dos Deputados. O então deputado disse, na época, que não estupraria Maria do Rosário (PT-RS) pois ela não mereceria, “porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar, porque não merece”. Ele reagira a um discurso dela no Plenário da Câmara contra a ditadura militar.
Ao discursar, Maria do Rosário tinha afirmado que “homens e mulheres (...) se colocaram de joelhos diante dela [da ditadura] para servirem ao interesse da tortura, da morte, ao interesse de fazer o desaparecimento forçado, o sequestro”.
O presidente, que é militar da reserva, foi à tribuna em seguida. No momento da fala do deputado, Maria do Rosário deixou o plenário. "Fica aí, Maria do Rosário, fica. Há poucos dias, tu me chamou de estuprador, no Salão Verde, e eu falei que não ia estuprar você porque você não merece. Fica aqui pra ouvir", disse.
A Justiça condenou Bolsonaro a pagar indenização de R$ 10 mil por danos morais a Maria do Rosário (PT-RS). Em um vídeo postado nas redes sociais, Maria do Rosário disse que tratava-se de " uma vitória do respeito, da dignidade".
A deputada afirmou que distribuiria o dinheiro da indenização para entidades que trabalham pelos direitos das mulheres. Cumprindo decisão judicial, o presidente também publicou uma nota de retratação com um pedido de desculpas à deputada em suas redes sociais.
No mês passado, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) fez declarações depreciativas a mulheres nas redes sociais ao associa o acidente na obra da Linha 6 do Metrô de São Paulo ao trabalho de funcionárias da empresa responsável pelo empreendimento, a Acciona.
O vídeo publicado em seu perfil trouxe imagens da cratera aberta na Marginal Tietê, intercaladas com entrevistas das profissionais ligadas à construção. O termo “Bananinha”, apelido pejorativo dado ao filho 03 do presidente Jair Bolsonaro, esteve entre os assuntos do momento da rede no Brasil naquele dia e o parlamentar recebeu diversas críticas.
“‘Procuro sempre contratar mulheres’, mas por qual motivo? Homem é pior engenheiro? Quando a meritocracia dá espaço para uma ideologia sem comprovação científica o resultado não costuma ser o melhor. Escolha sempre o melhor profissional, independente da sua cor, sexo, etnia e etc”, escreveu Eduardo na publicação.
Em 2021, Eduardo Bolsonaro expôs a deputada federal Professora Dayane Pimentel (PSL-BA). Em três stories no Instagram, ele usou a a imagem da parlamentar, que já apoiou o governo do presidente e participou do ato pelo impeachment no domingo em São Paulo, e a chama de "traidora nível hard". Em uma das imagens, a deputada aparece com um alvo no rosto.
No Twitter, Dayane Pimentel disse que se sentia ameaçada: "Um filho do presidente da República, ao que tudo indica ligado às milícias, posta uma foto minha com um alvo em meu rosto. Isso é uma ameaça? Deixo registrado que me sinto amplamente ameaçada por esses tiranos”.
Em nota, a Secretaria da Mulher da Câmara lamentou a atitude de Eduardo Bolsonaro e ressaltou que é algo recorrente. "Lamentamos a postura recorrente de Eduardo Bolsonaro por meio de atos de violência política de gênero em redes sociais, incompatíveis com o mandato parlamentar e por se constituírem em verdadeiro atentado à Constituição brasileira, visto que, apesar da liberdade de expressão se configurar entre as liberdades constitucionais asseguradas, entretanto, aquele que pratica crime contra a honra ou ameaça à vida, seja no mundo físico ou em ambiente virtual, deve estar ciente de que está sujeito à responsabilização penal, que poderá ser de detenção e/ou multa, dependendo do crime, sem prejuízo da responsabilização civil por meio de indenização por danos morais e materiais".
No ano passado, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) irritou a bancada feminina do Senado após fazer críticas à composição da comissão da CPI da Covid. Flávio afirmou que as mulheres não se indignaram com a formação masculina. Todos os 18 integrantes, entre titulares e suplentes, eram homens.
“Em primeiro lugar, acho que as mulheres já foram mais respeitadas e mais indignadas. Estão fora da CPI, não fazem questão de estar nela e se conformam em acompanhar o trabalho a distância”, disse Flávio.
Por isso, ficou decidido que embora nenhuma mulher fizesse parte da CPI, pelo menos uma iria sempre acompanhar as reuniões.
Filho mais novo do presidente, Jair Renan Bolsonaro também já fez declarações consideradas machistas. Na estreia do seu canal no Youtube, o "filho 04", como costuma ser chamado, cumprimentou um convidado com a frase: “Chega aqui que eu vou te ensinar a ser alfa”. Na mesma conversa, ele afirmou que era um "comedor do condomínio" – mesma expressão usada pelo presidente em 2018, ao tentar explicar o motivo para receber auxílio-moradia como deputado mesmo tendo imóvel próprio em Brasília.