Relembre intervenções de Bolsonaro em estatais e autarquias
Demissões, renúncias e substituições estão presentes em legado do Governo
Nesta terça-feira (25), José Maurício Pereira Coelho, renunciou à presidência do Previ, bilionário fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. O mandato do executivo venceria em maio de 2022, mas ele ficará no cargo apenas até 14 de junho.
A decisão foi anunciada quase dois meses após a posse de Fausto Ribeiro no comando do banco estatal. O administrador assumiu o cargo após desgaste do presidente Jair Bolsonaro com o ex-presidente do banco, André Brandão. Relembre casos de interferência de Bolsonaro em empresas e autarquias.
PRESIDENTE DA EBC
Pouco depois de assumir o seu mandato, em fevereiro de 2019, Bolsonaro demitiu Luiz Antonio Ferreira, nomeado presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) na gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB).
A demissão ocorreu após desentendimentos entre Ferreira e o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Santos Cruz, responsável pela reestruturação do conglomerado de comunicação. Segundo o que o jornal Folha de S.Paulo apurou na época, o então presidente da estatal não concordou com a política de corte de pessoal, estudada pela nova gestão, e os planos de alteração das programações das televisões e rádios. No lugar de Ferreira, entrou o general de divisão Luiz Carlos Pereira Gomes.
APÓS PROPAGANDA
Em abril de 2019, o presidente do Banco do Brasil na época, Rubem Novaes, atendeu Bolsonaro e demitiu o então diretor de marketing do banco, Delano Valentim. O pedido aconteceu após a veiculação de uma campanha publicitária dirigida ao público jovem.
No comercial, os atores são quase todos jovens, há mulheres e homens negros, e uma das personagens é transexual. Muitos aparecem com tatuagens e cabelos coloridos. Depois de assistir a peça publicitária, Bolsonaro ligou para o presidente do banco e pediu a demissão do diretor e a suspensão do vídeo.
'COMPORTAMENTO DE SINDICALISTA'
Em café da manhã com jornalistas em Brasília, Bolsonaro disse que demitiria o presidente dos Correios, general Juarez Aparecido de Paula Cunha, por ele ter se comportado como "sindicalista". Ele se referia a eventos em audiência pública na Câmara.
Lá, Cunha tirou fotos com parlamentares de esquerda e disse que não haverá privatização dos Correios, como era planejado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. O general anunciou sua saída da estatal cinco dias depois.
'POR AQUI' COM LEVY
Em junho de 2019, Bolsonaro disse a jornalistas que Joaquim Levy, então presidente do BNDES, estava "com a cabeça a prêmio há algum tempo". O motivo da irritação era uma sinalização que Levy teria feito de nomear um executivo que trabalhou na gestão petista. "Eu já estou por aqui com o [Joaquim] Levy. Falei pra ele demitir esse cara [Marcos Barbosa Pinto] na segunda-feira ou eu demito você, sem passar pelo Paulo Guedes".
Na época, o presidente disse ainda que "governo é assim, não pode ter gente suspeita" em cargos importantes. "Essa pessoa, o Levy, já vem há algum tempo não sendo aquilo que foi combinado e aquilo que ele conhece a meu respeito. Ele está com a cabeça a prêmio já há algum tempo", disse.
No dia seguinte, o economista pediu demissão, no que foi a primeira baixa na equipe do ministro da Economia Paulo Guedes.
IMPLOSÃO DO INMETRO
Em fevereiro de 2020, Bolsonaro afirmou que "implodiu" o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), ao comentar a demissão da então presidente do órgão, Angela Flores Furtado, e de "meia dúzia", segundo ele, de integrantes da diretoria.
A exoneração de Angela havia sido publicada no Diário Oficial da União no começo daquela semana.
"Mandei todo mundo embora. Por quê? Há poucos meses assinaram portaria para troca de tacógrafos. Começou no Rio, não sei se veio para São Paulo, trocar todos os taxímetros. Por quê? R$ 400 cada um. Os tacógrafos, R$ 1.900. Multipliquem por milhões de veículos que têm tacógrafos. Táxi, só no Rio, 40 mil. Não temos que atrapalhar a vida dos outros, é facilitar a vida de quem produz. Os novos taxímetros, faça diferente. Os novos tacógrafos, tudo bem. Agora, tirar do pessoal, trocar, não", afirmou.
GENERAL NA PETROBRAS
Em fevereiro deste ano, Bolsonaro anunciou que teria "que mudar alguma coisa" após a estatal anunciar dois novos reajustes nos preços da gasolina e do diesel. "Não tem quem não ficou chateado" com a medida, disse o presidente.
Em sua live semanal, que usou para fazer o anúncio, citou uma declaração do então presidente da petroleira. A insatisfação dos caminhoneiros seria "um problema que não é da Petrobras", havia dito Roberto Castello Branco semanas antes.
Dias depois, Bolsonaro cumpriu a ameaça e indicou o general Joaquim Silva e Luna para a presidência da Petrobras.
PRESIDÊNCIA DO BB
O anúncio de uma reestruturação que previa fechamento de 361 unidades e programa de demissão voluntária no Banco do Brasil foi o que iniciou processo de fritura do então presidente da instituição, André Brandão, por Bolsonaro, em janeiro deste ano.
A crise desembocou na indicação de Fausto Ribeiro, em março, para a presidência do órgão, após pedido de renúncia de Brandão. O administrador, que estava à frente do BB Consórcios, é considerado no Banco do Brasil um "bolsonarista" e, segundo funcionários da instituição, cobrou de sua equipe que trabalhasse de maneira presencial durante a pandemia.
'OPERAÇÃO LIMPEZA' DA FUNCEF
Renato Villela presidia a Funcef, fundo de pensão da Caixa Econômica Federal desde fevereiro de 2019, e foi substituído pelo atual vice-presidente de Riscos da Caixa, Gilson Costa de Santana, em maio deste ano.
Foram substituídos também os diretores Andrea Morata Videira e Wagner Duduch, que estavam no cargo desde setembro de 2020. Em seus lugares, entraram Almir Alves Júnior (atual diretor-executivo na Caixa Participações) e Samuel Crespi (diretor-executivo de Produtos e Serviços de Atacado da Caixa).
Os indicados são próximos do atual presidente da Caixa, Pedro Guimarães, um dos braços-fortes do presidente Jair Bolsonaro na política de auxílio emergencial
RENÚNCIA NO PREVI
Nesta terça, o presidente do Previ, bilionário fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, José Maurício Pereira Coelho, renunciou ao seu cargo. O mandato do executivo venceria em maio de 2022, mas ele ficará no cargo apenas até 14 de junho.
Na fundo, a avaliação é que José Maurício, como o executivo é conhecido, vinha sendo pressionado a deixar o cargo para abrir vaga para acomodar aliados do governo. Ele ficou três anos à frente da Previ.