Relógio Patek Philippe de R$ 372 mil entregue a Bolsonaro e vendido nos EUA segue desaparecido
Auxiliares do ex-presidente não conseguiram resgatar o item; PF suspeita que Bolsonaro tenha recebido o relógio de autoridades do Reino do Bahrein
A investigação da Polícia Federal sobre a venda de presentes oficiais dados a Jair Bolsonaro (PL) não localizou um dos bens de alto valor comercializados pelo entorno do ex-presidente. Vendido pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid, o relógio Patek Philippe não só ficou de fora dos registros oficiais do Planalto, segundo a corporação, como há indícios de que não foi recuperado pelos auxiliares de Bolsonaro na operação montada para devolver os bens após determinação do Tribunal de Contas da União (TCU). O Patek Phillipe está desaparecido.
O relógio foi avaliado pela PF em US$ 75 mil (R$ 372 mil, na cotação atual), segundo o perito criminal federal Wilson Akira Uezu disse ao Fantástico, da TV Globo. A PF suspeita que Bolsonaro o teria recebido de autoridades do Reino do Bahrein, em novembro de 2021. No dia 16 daquele mês, durante sua passagem pelo Oriente Médio, o então presidente teve um encontro com o rei Hamad Bin Isa Al Khalifa e inaugurou a embaixada brasileira em Manama, capital do país.
Na ocasião, Bolsonaro também teria recebido duas esculturas douradas (uma palmeira e um barco) cujos registros não foram localizados pelos investigadores no Gabinete Adjunto de Documentação Histórica do Gabinete Pessoal do Presidente da República. Cabe ao órgão classificar os presentes recebidos pelo chefe do Executivo para definir sua destinação, se para o acervo público ou para o acervo privado do mandatário.
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As investigações apontam que, no mesmo dia em que se encontrou com o rei do Bahrein, Bolsonaro recebeu de Mauro Cid uma foto do certificado de autenticidade do relógio Patek Philippe. Em 13 de junho do ano seguinte, a joia foi vendida por Mauro Cid na cidade de Willow Grove, na Pensilvânia, junto com outro relógio da marca Rolex. Ele foi comprado pela empresa Precision Watches por US$ 68 mil, o que correspondeu na cotação da época a R$ 346.983,60.
A segunda peça, que estava fora do radar do governo brasileiro, consta no comprovante de depósito da venda, armazenado na nuvem pelo ex-assessor de Bolsonaro. Além disso, a investigação também comprovou que o tenente-coronel esteve na loja de relógios por meio de uma busca no aplicativo Waze e pela conexão com o Wi-Fi do estabelecimento.
O valor foi depositado em uma conta que, segundo a PF, pertence ao pai de Mauro Cid, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, que ocupava cargo na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), que é vinculada ao governo federal, em Miami. Um dia antes da venda, o general havia enviado as informações sobre a conta em uma mensagem a Mauro Cid.
Em 14 de março deste ano, o Rolex foi recuperado pelo advogado Frederick Wassef e entregue em abril à Caixa Econômica Federal, mas não há informações sobre qual foi o destino do relógio Patek Philippe. Para a PF, o fato de o presente não ter sido registrado "explicaria não ter existido, ao contrário dos demais itens desviados, uma “operação” para recuperar o referido bem, pois, até o presente momento, o Estado brasileiro não tinha ciência de sua existência”.