ONG Repórteres sem Fronteiras denuncia 'censura indireta' de Bolsonaro à imprensa
ONG afirma, ainda, que entre julho e setembro o presidente proferiram mais de cem ataques a jornalistas
O governo Jair Bolsonaro opera "uma série de mecanismos de censura indireta", que dificultam o livre exercício do jornalismo no Brasil, denunciou nesta terça-feira (20) em seu informe trimestral a ONG francesa Repórteres sem Fronteiras (RSF).
A ONG afirma, ainda, que entre julho e setembro o presidente e seus "aliados mais próximos", entre eles seus três filhos políticos, proferiram mais de cem ataques a jornalistas e meios de comunicação e que "a postura abertamente hostil à imprensa se tornou marca registrada do governo Bolsonaro".
"Fora as agressões, que criam um clima de desconfiança em relação à mídia; estão a desinformação e as restrições no fluxo de dados oficiais, com o objetivo de controlar o debate público; e a própria politização de órgãos oficiais de comunicação", detalha o informe.
"Instrumentos que tornam o ambiente de trabalho dos jornalistas cada vez mais adverso e complexo", acrescenta.
Como exemplos, a RSF menciona os casos crescentes de "jornalistas bloqueados nas redes sociais por agentes do Estado", as "13 medidas para reduzir o acesso à informação no país", adotadas pelo governo desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2019, ou a "opacidade" com a qual o governo e seus aliados administram a crise sanitária provocada pela pandemia do novo coronavírus.
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A RSF também denunciou um aumento do assédio judicial como mecanismo de censura, à base de processos abusivos contra jornalistas e meios de comunicação, a maioria movidos por representantes do Estado ou pessoas próximas à Presidência.
Neste trecho, a ONG lembrou uma decisão judicial que proíbe a rede Globo de divulgar documentos do processo contra o senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente, por considerar que corre em sigilo.
- "Vontade de encher de porrada"
Bolsonaro venceu as eleições de 2018 com um discurso muito crítico aos meios de comunicação e desde então não deixou de proferir insultos e dirigir comentários desrespeitosos a jornalistas, chegando a abandonar entrevistas e coletivas de imprensa.
O caso mais chocante de ataque no terceiro trimestre, segundo a ONG, ocorreu em 23 de agosto, quando o presidente ameaçou um repórter do jornal O Globo que lhe perguntava sobre a suposta participação da primeira-dama, Michelle, em um esquema de corrupção.
"Vontade de encher sua boca de porrada!", ameaçou o presidente na ocasião. No dia seguinte, chamou os jornalistas de fracos, disse que se pegassem o novo coronavírus teriam menos chances de sobreviver e os acusou de "usar a caneta com maldade".
Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, lembrou a ONG, Bolsonaro acusou a imprensa de politizar o vírus para espalhar o pânico entre a população e causar o caos social no país.
O Brasil ocupa o 107º lugar no ranking mundial da Liberdade de Imprensa de 2020, elaborado pela RSF.
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